QUE A CESTA NÃO TERMINE NUMA SEXTA! (I Cesta Cultural de Seabra)


Por Cristina Alice Cunha Ribeiro (coordenadora pedagógica do município de Seabra)


Foi num fim de tarde do dia dois de setembro deste ano, que estive na Praça Quintino Bocaiúva em Seabra-Ba, para apreciar um evento realizado pelo Projeto Velame Vivo em parceria com artistas locais, no qual deram o nome de I Cesta Cultural. A não ser no período junino, há muito não via praça e frequentadores serem agraciados por tão distintos produtos e personagens culturais do nosso município. Há inúmeras razões para se frequentar uma praça desde tomar uma cervejinha, namorar, bater papo com os amigos, como ver gente, brincar, ou mesmo curtir o ócio seja ele como for: saudável ou nocivo, quem sabe? Mas estar na praça naquele dia me fez até recordar um tempo mais tranquilo em que éramos mais ingênuos, românticos, poéticos. Digo isso porque é como se precisássemos fazer equilibrismos cotidianos em favor da boa convivência numa sociedade tão marcada pela ostentação e soberba.


Então, participar da cesta cultural me permitiu trazer à tona a minha versão mais serena e, sobretudo reaver coisas de que gosto de verdade. E dentre tantas, a arte é uma delas. Nas tranças enfeitadas da cesta surgiu a feirinha de artesanato, o palhaço contador de história, voz e violão da melhor qualidade, tinta, pincel e tela nas mãos suaves do artista, cordel, capoeira, malabarismo com fogo, poesia e teatro de rua. Imaginem tudo isso junto! Realmente posso dizer que a cesta foi trançada com cipós de diversas texturas e aromas culturais.


Educar os sentidos através da arte é alimentar a alma, deixar-se contaminar, experimentar o ócio criativo e por falar em criatividade não me canso de contemplar as obras do artista Pedro Lima. Ele, um gênio do pincel chegou à praça com sua simplicidade e deu luz a uma obra belíssima intitulada Lamparina. Ao contemplá-la pensei – Pedro pinta o simples, uma casinha lá no pé do morro do camelo e no terreiro uma grande lamparina a iluminar todo o cenário à sua volta. Mas, o simples não é fácil. Principalmente para um artista com tamanha sensibilidade. Ele pinta com o coração e isso faz a diferença. Penso que o que mais nos acorrenta é a geleira que vamos criando em redor do nosso coração. E entre me prostrar diante do banal tentando sobreviver e me aventurar naquilo que me torna mais gente, mais humana, fico com a segunda opção para assim melhor viver.


Viver cada sexta, segunda, terça..., criar, participar, trançar a cesta sem medo, sem nos paralisar frente às dificuldades cotidianas, isso é o que espero de todos nós tecelãos da Cesta Cultural de nossa encantadora Seabra.



A I Cesta Cultural foi realmente um sucesso. Tanto que a segunda já está a caminho, será na próxima sexta, dia 30. Segue uma seleção de fotos, de autoria de Smitson Oliveira:


Comentários

Tânia Moura disse…
Lindo texto, linda iniciativa, realmente inspiradora...

A Cesta, como a lata da Metáfora de Gil, existe para conter algo...
A Cesta Cultural, a qual se refere a Cristina, contém algo mais: artesanato, palhaços, pintores, poetas, artistas, pessoas e amores.
Para além da cesta, ou da sexta, pouco importa, existe a praça...
A praça é um espaço público, e, mais que isso, é um espaço de convivência. Somente quem viveu a praça, principalmente em uma cidade do interior, sabe o que é o ir e vir da praça.
Cruzam a praça todos os dias, os trabalhadores indo ou voltando do labor, os estudantes, as senhoras, homens simples, magistrados e doutores.
Mas na praça não há hierarquia, pois praça, só rima com poesia.
A praça é um espaço de sociabilidade onde se encontram as senhoras a caminho da missa, os senhores do dominó, as crianças e as suas brincadeiras ingênuas e os namorados e os seus sonhos de amor.
Quem viveu a praça sabe as cores, os cheiros e os sabores que ela tem...
E somente quem viveu a praça pode devolver a ela a Cesta.
Uma praça sem cultura, sem alegria, sem gente [da boa] e sem Cesta, não resiste/existe nem mesmo por uma Sexta.
A Cesta me lembrou a praça, e a praça me lembrou a feira, e a feira me lembrou um fruto... um fruto bem especial do cerrado brasileiro, que é considerado tipicamente goiano [Pequi]. Ele vem de lá de longe seu moço, lá das bandas de Goiás... Para transformar um fruto em feira, a feira em praça e a praça em Cesta.

Parabéns Goiano pelo seu trabalho!