A decepção do gibi, a história em quadrinhos... acho que funcionava pra nós a magia do rádio, os voos da imaginação a partir da voz e sons da radionovela. |
A jornalista Joana D’Arck, dona do blog Pilha Pura, Joaninha para os íntimos, me perguntou lá no Pilha se “Jerônimo, o Herói do Sertão” era uma série. Respondi lá no Pilha em 06/04/2011 (reproduzo aqui, com diminutas alterações, em homenagem a Lena, a “suíça” que se auto-intitula “de Paulo Afonso”):
Só que em todas as histórias, as novas novelas que se seguiam, tinham sempre os mesmos heróis, Jerônimo e seu “companheiro (ou era amigo?) inseparável”, Moleque Saci, o estereótipo antigo do negrinho gente boa, valente e engraçado como ele só. Cada história era diferente, em vários capítulos, os personagens (ou as personagens, como querem alguns) eram outros, os bandidos eram outros (somente o Caveira e Chumbinho foram repetidos em três novelas, se não me trai a velhaca da memória, como dizia o saudoso professor Raul Sá. Uma delas se chamou “A volta do Caveira”, ah! que expectativa!, que ansiedade!, a gente já conhecia o personagem, aquele mesmo bordão, aquela voz com aquele timbre metálico, arrepiante, a mesma voz de Darth Vader, da trilogia Guerra nas Estrelas, de George Lucas: “Chumbinho, apresente seu relatório!” Era o Caveira, o chefe misteriosa que Jerônimo no final desmascarava, no maior suspense, anunciando finalmente a sua identidade, um dos membros da comunidade onde se desenrolava a aventura, ninguém suspeitava, logo ele, Fulano de Tal. Chumbinho era o lugar-tenente do Caveira. Aí, Chumbinho, que voltava de alguma missão a mandado do chefe, missão má, ilegal, traiçoeira, injusta, contra pessoas boas, respeitáveis cidadãos, obviamente, e Chumbinho, invariavelmente, respondia gaguejando: “Oh Caveira... ia tudo bem, Caveira, nós chegamos lá... mas aí apareceu Jerônimo e Moleque Saci, Caveira...” E Caveira exclamava um sonoro “Idiota!!!!” e repetia “Idiota!!!!”. A gente vibrava).
Jerônimo, com Saci, estava lá, em todas as histórias/aventuras, firme e forte, defensor dos fracos e dos injustiçados, “pelos fracos a lutar sem temer”, era assim sua música, é provável que tenha toda ela na memória – “Filho de Maria Homem nasceu, Serro Bravo foi seu berço natal...” – para felicidade de um grupo de garotos na faixa dos 9/10 anos que se reuniam ao redor do rádio de seo Adelino (meu pai), daqueles grandões, moderníssimos, com olho mágico, movido à bateria (não havia luz elétrica), isto lá em Seabra, Chapada Diamantina, no coração da Bahia, década de 50 do século passado (viu Carmelita?).
Uma vez, naquele suspense, naquela ansiedade, a bateria esgotou... e um de nós chorou... Ah, tem coisa demais pra recordar, tem o choro aí, tem a decepção com o gibi de Jerônimo, com a novela da TV, tem passagens que a gente pensa que é coisa antiga, do arco da velha, e descobre elas se repetirem em modernas e caras produções hollywoodianas, tem a eterna noiva Aninha, tem a caretice do herói (a caretice descobri muitos anos depois, depois que fiquei “sabido”).
É coisa demais, vamos dividir em capítulos, este é o primeiro, o que postei no último dia 29 é o segundo.
Comentários
Vai aí uma lembrança de Seabra
http://www.flickr.com/photos/namanha/2513215498/
melhor relatório.
Lembrei-me da disputa com minha avó pelo controle do único rádio da casa - Anjo e Jerônimo x orações da Ave Maria.
Paulo Moss - Rio de Janeiro