Por Luis Hornstein, psicanalista argentino
xxxxxxxxxxxxx
A auto-estima é fonte de motivação. Permite afrontar situações adversas, porque possibilita a cicatrização rápida das afrontas ao amor próprio. Todo fracasso é, desde o ponto de vista emocional, doloroso. Quando alguém se diz indiferente ao fracasso, garganteia. Assim, o garganteiro apela para a negação para não sentir medo, pois o fracasso dá medo: implica uma redução de nossas posses materiais ou psíquicas.
xxxxxxxxxxxxx
A auto-estima inclui facetas que têm certa autonomia. É possível ter uma boa auto-estima no terreno intelectual que contrasta com uma frágil no afetivo. Pode variar em distintos planos: profissional, afetivo, intelectual, corporal, sexual. É provável que um êxito ou um fracasso num setor tenha consequências nos outros. É difícil que certas feridas narcisistas não irradiem sobre outros planos. Por sorte, também irradiam os êxitos.
xxxxxxxxxxxxx
Os ciúmes implicam medo. Medo de perder uma relação ou um lugar privilegiado ou exclusivo. Os ciumentos nunca desfrutam de sua alegria: se limitam a vigiá-la. André Comte-Sponville assinala: “O invejoso queria possuir o que não possui e outro possui; o ciumento quer possuir, ele só, o que acredita que lhe pertence”. Os ciúmes patológicos se baseiam numa concepção errada do que é uma relação afetiva, tanto se é amorosa como de amizade. Esses ciúmes partem de uma concepção primitiva: amar consistiria em possuir, e aceitar o amor de um ciumento ou ciumenta seria aceitar a submissão à sua possessividade. “Quem é o terceiro que caminha sempre ao seu lado, quando estamos a sós, você e eu juntos, mas quando olho adiante pelo caminho, sempre há outros caminhando a seu lado?” (T. S. Elliot, La tierra baldia).
Todos os bebês são prematuros. O filhote humano é o mais dependente, talvez porque não tenha que aprender a voar e caçar por sua própria conta, mas deva incorporar o mundo cultural, que se transmite pela fala e a escrita. A precocidade da criança, sua vulnerabilidade, dá origem a um apego duradouro aos primeiros objetos de amor, um desejo de fusão nunca saciado. Em todo adulto perdura esse bebê prematuro que aspira à união total com o outro. Georges Bataille o diz a propósito do erotismo. Cada ser é único, irrepetível; seu nascimento, sua morte e os acontecimentos de sua vida interessam e têm a ver com outros, porém se nasce e se morre sozinho. Entre um ser e outro há um abismo, que o erotismo tende a anular.
xxxxxxxxxxxxx
Uma baixa auto-estima tem aspectos benéficos, porque a modéstia favorece que aceitemos os demais e seus pontos de vista. Pelo contrário, uma elevada auto-estima pode fazer com que a pessoa não escute as informações ao seu redor e, se bem suporta melhor os fracassos, os atribui a causas alheias a ela. Para evitar questionamentos, prefere rodear-se de bajuladores, o que pode conduzi-la a perder contacto com a realidade, fomentando atitudes prepotentes.
(Reflexões tiradas de fragmentos de Autoestima e identidad - Narcisismo y valores sociales, de Luis Hornstein, conforme matéria publicada pelo jornal argentino Página/12, edição de 21/04/2011, editoria de Psicologia. Apenas o título acima é de minha autoria, assim como a tradução).
Comentários