A NOITE EM QUE O FAMOSO PERCUSSIONISTA “RABO DE VIOLÃO” FOI RECHAÇADO (ficção e realidade)


Tibério (exercitando sua habilidade na percussão), Piau e Vavá (atrás, cartaz com foto de Martinha) 
(fotos, a maioria de autoria de Lidjone Ribeiro, cedidas pela produção da TV Estelar)

De Salvador (Bahia) – Ficou a lenda segundo a qual os empresários seabrenses Chico e João Miranda teriam sido testemunhas privilegiadas da memorável noite em que o famoso percussionista Tibério Pithon, também empresário bem sucedido nas horas vagas, recebeu o mais contundente rechaço de que se tem notícia naquelas bandas da Chapada Diamantina, bela paisagem do interior baiano. Os dois foram as principais fontes de informação da TV Estelar, que anos mais tarde reconstituiu os feitos, a esta altura já lendários, em uma exitosa série especial de 10 capítulos, com o título acima.


O autor da façanha foi Palito, um nome que pode parecer pouco, mas só pela dimensão do atrevimento se vê que é muito maior do que aparenta. Tudo conforme o relatado na série especial da TV, trata-se de um combativo sindicalista de Salvador que resolveu trocar o corre-corre das lides sindicais pela aprazível calma de Campos de São João, em Palmeiras, mudando de vida em companhia da simpática Mara Tapioca. Um importante detalhe, porém, não mudou: continuou e aperfeiçoou a arte de tocar violão e cantar bonitas canções da chamada MPB.


Jadson (imitando o gesto fatídico de Tibério) e Palito
João Miranda, Chico e Goiano
E foi então que, naquela memorável noite, Palito pegou o violão e foi atacando: “Você é luz / É raio estrela e luar / Manhã de sol / Meu iaiá, meu ioiô...” (Fogo e Paixão). E Tibério, com o passaporte e a sem cerimônia concedidos pela fama, foi se instalando ao lado e começando a batucar no rabo do violão, um batuque deveras ritmado e melodioso, à altura da reputação do aclamado artista. Deu-se aí o inesperado: Palito parou, abriu os braços e exclamou com toda a força da sua indignação: “Comigo não, aqui não, no meu não, violão!”


Foi um espanto geral. Este cronista/blogueiro, que era jovem na ocasião – e foi incluído como personagem da série televisiva na pele de um sessentão -, pensou pasmo: “Será que Palito não sabe com quem está lidando?” Porque, vejam só, a fama de Tibério já tinha corrido mundo. Do Sul da Bahia para a Chapada, e da Chapada ganhou a grande praça do valoroso estado de Sergipe. Daí para o Sul Maravilha e o mundo propriamente dito foi um pulo. Até em Cuba, que além de Meca do Socialismo, é conhecida ainda como a Meca da Percussão, sem nome foi aclamado. Será que somente Palito não sabia!?

Lidjone
Mara e Esther
O dono da casa ficou vexado. Parou por um instante a dura faina dos grandes anfitriões e cuidou de apaziguar possíveis e descabidas exaltações. Mal sabia ele que o espantoso episódio seria fundamental para que a memorável noitada passasse à história (ou à lenda). O dono da casa, que atendia pelo singelo apelido de Goiano, militante social/político em Salvador, São Paulo e Chapada, veio a ser um benemérito da causa popular, de acordo com as entrelinhas do relato na TV. A casa ficou nos anais como Fazenda Dona Elisa (nome da mãe de Goiano), localizada em Bebedouro/Várzea do Caldas, em Seabra. O cenário principal: o “Barblioteca” do casarão da fazenda, decorado com algum requinte, onde se sobressai um cartaz com a foto de Martinha, militante política inspiradora de uma geração.


Mãos de Lidjone e Tibério, já com as alianças
Mas o dono da casa não teve grande problema. Foi só o espanto momentâneo. As coisas foram se serenando entre fartos comes-e-bebes. E música, muita música. E se serenaram de vez quando Lidjone, que veio a se tornar pouco tempo depois a senhora Pithon, tomou o violão e soltou a voz: “Lá vai uma chalana / Bem longe se vai / Navegando no remanso / Do rio Paraguai...” (Chalana). Tibério Pithon se aconchegou e pôde então dar vazão à sua apreciada vocação de percussionista, no rabo do violão, claro. Desta vez aceito, com gosto, pela violonista, sob o olhar de reprovação de Palito.


Tudo está bem quando acaba bem. Muito mais música rolou, ainda mais porque participavam da memorável farra mais dois cantadores renomados: Piau (estava com sua Esther) e Vavá. Os dois protagonizaram outro episódio de polêmica repercussão, objeto de três capítulos da citada série de TV. Mas aí, vocês me desculpem, fica para outra crônica.


Comentários

goiano.goia disse…
Querido comandante, fico muito feliz pela forma carinhosa como você descreveu aquela bela noite de quinta feira na roça Dona Elisa, apenas esqueceu (talvez por timidez), de citar o nosso grande poeta revolucionário Jadson Oliviera, que se distacou não só com a poesia, como também pela música bonita e apaixonada.
Um forte abraço,
Goiano.
goiano.goia disse…
Jadson e leitores, desculpem-me, pois,na pressa escrevi destacar de forma errada (distacar).
Abraços,
Goiano.
Vavá Garcia disse…
Bravo e Combativo Companheiro Jadson,
Foi realmente uma noite inesquecível e somente a acuidade jornalística de um porreta como você, para relatar com a inteireza poética aquele momento maravilhoso.
Sabedor agora de que serei um dos protagonistas dos próximos capítulos, considero justo de que venha a ser roteirista auxiliar, aproveitando, inclusive, a ausência, aquí na capital, do outro contedor, que vem a ser Piau - até a rima ajuda na justeza do meu pleito. As razões, você as conhece.
Abraços Revolucionários, meu Comandante.
Vavá.
Araken disse…
Palito zooooorra! Nos conhecemos em 78 no beco dos viados no Garcia. Com Geny Blair, Marco Tour, Joaquim neri, Eduardo Pessoa, Miau, Chico Oswald, Paulo Amarelo, zooora palito onde andas?