O ato público na Praça dos Três Poderes (ao fundo o Congresso Nacional), na manhã da quarta-feira, dia 17 (Foto: Isabela Lyrio) |
A marcha rumo à Esplanada dos Ministérios, com a figura de Margarida Alves, a sindicalista paraibana assassinada (Foto: Regina Santos) |
De Brasília (DF) – Foram 70 mil pessoas, nas estimativas mais modestas (ou 100 mil, como estimaram os organizadores). A grande maioria mulheres, a maioria trabalhadoras rurais, que agitaram a capital do Brasil na terça e na quarta-feira, dias 16 e 17, e encheram o Parque da Cidade, o Eixo Monumental, a Esplanada dos Ministérios, a Praça dos Três Poderes. Foi a quarta Marcha das Margaridas - assim chamada para homenagear Margarida Alves, sindicalista paraibana assassinada há 28 anos a mando de usineiros, senhores donos da terra e, ainda hoje, também da vida -, organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), com suas 27 federações, as Fetags, e mais de 4.000 sindicatos espalhados por este imenso país.
O que gritavam essas aguerridas mulheres nos milhares de cartazes, bandeiras e faixas, e nos carros de som e nas tocantes canções e nos gritos propriamente ditos? Pediam muita coisa de que carece o povo brasileiro, desde uma educação não sexista ao fim da violência machista contra as “companheiras”, passando por uma ampla reforma política com protagonismo popular, tudo sob o lema “desenvolvimento sustentável, com dignidade, justiça, autonomia e liberdade”. E pediam, especificamente, a atualização dos índices de produtividade no campo para se avançar rumo à reforma agrária, uma bandeira de luta cada dia mais invisível, tida como anacrônica nos meios oficiais do Brasil moderno.
O belo espetáculo das milhares de margaridas nas ruas de Brasília (Foto: Isabela Lyrio) |
A maioria das atividades foi concentrada no pavilhão principal do Parque da Cidade (Foto: Jadson Oliveira) |
(Por falar em Lula, ele foi citado no ato da Praça dos Três Poderes por apenas quatro oradores, um dos quais em tom crítico: Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil, CTB, da Bahia, que falou em nome da direção nacional, ao abordar a crise internacional do capitalismo, disse que Dilma deve atentar para sua gravidade atual, pois ela não é a “marolinha” de 2008 como mencionou Lula).
“Um novo modelo de reforma agrária e agricultura familiar”
O presidente da Contag, Alberto Boch, falou de “um novo modelo de reforma agrária e agricultura familiar, imprescindíveis para o crescimento da sustentabilidade na vida do campo”. (E se é pra valer em se tratando de reforma agrária, algum orador/oradora poderia soltar nos ares do centro dos Três Poderes em Brasília uma menção solidária à luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o combativo MST, o movimento mais radical na luta pela terra, e, por isso mesmo, demonizado a todo momento pelos monopólios da comunicação. Não se ouviu tal menção).
(Foto: Reprodução) |
(Foto: Jadson Oliveira) |
“Nós somos os sonhos sonhados por tantas mulheres que tiveram suas vidas ceifadas na luta".
Voltando aos atos políticos mais expressivos – a grande marcha de cinco quilômetros pelo Eixo Monumental e a concentração na Praça dos Três Poderes -, a emoção explodiu nas palavras de Letícia Sabatela, com todo o apelo e charme da artista “global” comprometida com movimentos sociais, a voz embargada: “Se hoje podemos protestar por desenvolvimento sustentável, terra, renda e água é porque muitas mulheres foram caladas ao longo do tempo (...) nós somos os sonhos sonhados por tantas mulheres que tiveram suas vidas ceifadas na luta".
Letícia Sabatela, a voz tolhida pela emoção: "...muitas mulheres foram caladas ao longo do tempo" (Foto: Isabela Lyrio) |
Houve ainda, no Parque da Cidade, o lançamento do CD “Canto das Margaridas”, o show com a baiana Margareth Menezes, que cantou, dentre outras, a canção-lema “Olha Brasília está florida, estão chegando as decididas...”, a solenidade da abertura oficial e debates de variados temas, embora pouco concorridos.
Iranilde Carvalho: "Nenhuma mulher é a mesma depois de participar da Marcha das Margaridas" (Foto: Jadson Oliveira) |
Comentários
Não levo fé em movimentos que possuem reivindicações e carências tão profundas feitas sob este tom festivo e excessivamente colorido. Não parecem que exigem, cobram ou reclamam; apenas celebram.
Parece com o Desfile da Primavera, 7 de Setembro, 2 de Julho ou Passeata Gay.
Se houve "coro de unanimidade à em apoio à presidenta" do que ou a quem reclamar, então? Falaram mal do Lula. Agora?
Carmen Foro , secretária de Mulheres da Contag, considerou positiva a resposta da presidenta. O que ela, a Carmen, ela esperava da Dilma? Governantes sempre dirão, em especial, nestes eventos o que as pessoas querem ouvir, mas jamais farão o que elas realmente precisam.
O que parece uma suposta ingenuidade da Carmen, se aproxima mais de um corporativismo entre "companheiras", dada a enorme boa vontade em aceitar respostas no lugar da ações.
Quanto a bela Letícia Sabatela, já a vi chorar "tolhida pela emoção" em várias de suas personagens interpretadas nas novelas que ajudam a estereotipar e diminuir o valor de muitas Margaridas neste imenso país.
Posso até complementar a frase de Iranilde Carvalho, presidente do sindicato dos servidores do município de Araioses : "Nenhuma mulher é a mesma depois
de participar da Marcha das Margaridas ou depois de assistir novelas na Globo"
Transcrevi sua avaliação no Fazendo Media: a média que a mídia faz, blog que sempre reproduz minhas matérias.