DIREITOS HUMANOS, FINALMENTE, PARA OS INDÍGENAS


Greve de fome e "corte" da Avenida 9 de Julho, no centro de Buenos
Aires, durante a última semana de abril (Todas as fotos: Jadson Oliveira)
O clamor do povo originário: "Nos roubaram nossas terras - queimaram
nossas casas - nos marginalizam, perseguem e matam - queremos Justiça -
que nos atenda a presidenta"
De Buenos Aires (Argentina) – Finalmente, a política de Direitos Humanos do governo argentino parece estar chegando aos indígenas da Comunidade Qom Navogoh (A Primavera), da província (estado) de Formosa, nordeste do país. Desde novembro, um grupo deles, sob a liderança do cacique Félix Diaz, estava acampado num espaço da Avenida 9 de Julho, na altura da Avenida de Maio, centro da capital portenha, protestando contra a invasão de suas terras e contra a repressão da polícia provincial, que resultou no assassinato de Roberto López, membro da comunidade.


Em meados de dezembro um pequeno grupo deles havia promovido um “corte” (fechamento) durante horas de uma das pistas da Avenida 9 de Julho, numa tentativa de que seu protesto fosse escutado pelas autoridades governamentais (postei um vídeo neste meu blog em 14/dezembro). Apesar do razoável movimento de solidariedade obtido em Buenos Aires, inclusive do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, o governo de Cristina Kirchner, que se proclama governo dos Direitos Humanos, demorou de escutar o clamor do povo originário.


O grupo da Comunidade Qom estava desarmando a barraca central
do acampamento na tarde desta sexta-feira, dia 6
Dario Piri, um dos participantes da greve de fome:
se não sair uma solução na reunião da segunda, dia 9,
voltaremos a armar o acampamento
Na última semana de abril, eles intensificaram os protestos, com duas “medidas de força”, como dizem por aqui: uma greve de fome de 17 de seus integrantes (só bebiam água e suco) durante cinco dias e “cortes” na 9 de Julho que tumultuaram o trânsito da movimentada avenida do centro da cidade durante toda a semana. Só então foram escutados: uma comissão dos indígenas, acompanhada por Pérez Esquivel e outros apoiadores, se reuniu na segunda-feira, dia 2, no palácio do governo (Casa Rosada) com o ministro do Interior, Florencio Randazzo.


Começaram aí as negociações. O governo garantiu algumas medidas assistenciais e o fim da repressão na província, mas as providências para recuperação das terras, o que é vital para os povos originários, continuam nebulosas, conforme me relatou Dario Piri, um dos mais ativos membros da comunidade, que inclusive participou da greve de fome.


Hoje à tarde, dia 6, depois de muita discussão, os indígenas resolveram desarmar o acampamento na 9 de Julho, atendendo ao pedido do ministro (a greve de fome e os “cortes” na avenida já tinham sido suspensos na sexta-feira, dia 29). Foi uma demonstração de confiança no governo. Mas eles estão “com a pulga atrás da orelha”, como dizemos aí no Brasil. Na segunda-feira, dia 9, haverá nova rodada de negociação na Casa Rosada e eles estarão mobilizados aguardando o resultado. Dario Piri disse que se não sair uma solução eles voltarão a armar o acampamento.


Protestos e “cortes” de ruas: uma rotina argentina


Já falei aqui no meu blog da rotina de protestos e “cortes” de ruas em Buenos Aires (aliás, falei bastante disso também quando estive em Caracas e La Paz). Na quinta-feira da semana passada, dia 28/abril, fui à Praça de Maio cobrir a comemoração dos 34 anos de luta das Mães (“Madres”) da Praça de Maio.


Integrantes da Cooperativa de Trabalho 26 de Julho fechando
a Avenida de Maio
Logo depois da cobertura (há dois vídeos no blog), topei com a Avenida de Maio “cortada”: um grupo de trabalhadores da Cooperativa de Trabalho 26 de Julho (data da morte de Eva Perón, em 1952) protestava contra os baixos salários que recebem. Segundo me informaram, eles são terceirizados e trabalham em empresas que prestam serviços ao “governo da Capital” (poderíamos chamar “prefeitura” de Buenos Aires).


Segui mais adiante, umas quatro ou cinco quadras, e topei na Avenida 9 de Julho com o movimento dos povos originários de Formosa, conforme relato acima. Nesse dia 28/abril, segundo noticiário da TV, houve cinco “cortes” de ruas na capital portenha.


Operários de Acetatos Argentinos fazem manifestação para garantir
direitos trabalhistas
Na última terça-feira, dia 3, fui ao centro da cidade cuidar de assuntos burocráticos – conserto de computador e providências bancárias. Na Avenida Diagonal Norte, a uma quadra do Obelisco (Avenida 9 de Julho), estava um grupo de operários de Acetatos Argentinos (ex-Rhodia), fabricante de fibra sintética, em manifestação na frente do prédio do escritório da empresa.


Um dos trabalhadores me contou que tentavam resguardar seus direitos trabalhistas, que estariam ameaçados por manobras dos patrões. De acordo com seu relato, a fábrica, que tem 200 empregados, foi fechada há quase três meses e os donos estão enrolando para deixá-los sem indenização.





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