1º. DE MAIO: LÍDER DA CGT ARGENTINA MOSTRA FORÇA E PEDE A REELEIÇÃO DE CRISTINA


O enorme palanque com as figuras de Eva Perón e Perón nas laterais
e Néstor Kirchner ao fundo, ao lado do logotipo da CGT (Foto: Reprodução)

De Buenos Aires (Argentina) – Algumas quadras da larguíssima Avenida 9 de Julho, no centro da capital portenha, foram tomadas por centenas de milhares de trabalhadores das mais variadas categorias, na tarde de sexta-feira, dia 29. Foi a entusiástica comemoração antecipada do 1º. de maio, Dia do Trabalhador, quando o secretário geral (cargo máximo) da poderosa CGT (Confederação Geral do Trabalho), Hugo Moyano, sob aplausos repetidos e ruidosos, aproveitou para mostrar sua força política e eleitoral.
Hugo Moyano, líder da CGT, foi o único orador da
comemoração dos trabalhadores argentinos (Foto: Reprodução)

Foi o único orador da “festa”. Depois de lidas duas mensagens – uma dos líderes dos vários sindicatos fiéis à sua liderança, expressando o apoio ao chefe da CGT, e uma saudação da presidenta Cristina Kirchner -, Moyano, que é líder dos caminhoneiros, falou durante uns 40 minutos e encerrou o discurso fazendo um apelo para que a presidenta se candidate à reeleição.

E emendou: “Companheira Cristina Fernández de Kirchner, se vai à reeleição como pede a imensa maioria de nosso povo, seguramente todos os que lutaram, todos os que deram sua vida para que os argentinos vivamos melhor - e vou refletir isso em três pessoas -, o general Perón, a companheira Eva Perón e o companheiro Néstor Kirchner vão descansar em paz, porque saberão que sua obra continua em suas mãos”.
Juan Domingo Perón e Eva Perón continuam no coração
da maioria dos argentinos (Foto: Jadson Oliveira)

Os maiores homenageados foram, de fato, Perón, Eva Perón e o ex-presidente Néstor Kirchner, que morreu há seis meses. A força do “caminhoneiro” (como é mencionado com frequência nos órgãos hegemônicos de comunicação, numa tentativa de diminuí-lo, é inclusive homem de pouca instrução formal) estava demonstrada também nas companhias do enorme palanque: o governador da província (estado) de Buenos Aires e presidente nacional do Partido Justicialista (PJ – peronista), Daniel Scioli, a maioria dos ministros de Cristina e grande número de outras autoridades, políticos, parlamentares e dirigentes de movimentos sociais afinados com o peronismo kirchnerista.

Faltou apenas, fisicamente, a presidenta, o que foi festejado por seus ferozes críticos da mídia conservadora, em especial o Grupo Clarín, uma espécie de “Rede Globo” dos argentinos (leia abaixo a menção feita por Moyano a Clarín no seu discurso).

“Ley de Medios” entre as conquistas no governo dos Kirchner

Muitos grupos de batucada participaram da ruidosa
e entusiástica concentração (Foto: Jadson Oliveira)

O líder cegetista disse que o 1º। de maio argentino era um dia de protesto; depois com Perón passou a ser um dia de festa; e depois de 2003, com os Kirchner, virou um dia de agradecimento. Mas ele quis, neste 1º. de maio, usá-lo como um dia de reflexão. É verdade que o ambiente não estava muito propício – muito barulho, bandinhas de música, inúmeros grupos de batucada, fogos de artifício, vuvuzelas, umas “baterias” móveis de cornetas e um consumo razoável de cerveja e fernet (parecido com nosso jurubeba) com coca-cola, em meio a uma profusão de faixas, cartazes e bandeiras das entidades sindicais, encimados por muitos “balões”.

Mesmo assim, Hugo Moyano fez a sua “reflexão”। Citou as conquistas dos governos dos Kirchner na economia, no social, nos Direitos Humanos e no cultural, destacando entre elas a Lei de Serviços de Comunicação Áudio-visual, a famosa “Ley de Medios”, que ainda não acabou o monopólio do Grupo Clarín porque vive travada na Justiça. E não deixou de “puxar a brasa para sua sardinha”: defendeu a aprovação ainda este ano de uma lei de participação dos trabalhadores nos lucros das empresas e reivindicou maior presença de representantes do movimento sindical nas “listas” kirchneristas de candidatos nas eleições de 23 de outubro.

“Pregam a moral com a braguilha aberta”

Algumas quadras da larguíssima Avenida 9 de Julho foram
tomadas por centenas de milhares de pessoas (Foto: Reprodução)
O secretário geral da CGT foi particularmente venenoso no seu discurso contra o Grupo Clarín, um inimigo declarado tanto do governo dos Kirchner como dele próprio, um assíduo alvo das manchetes de capa do jornal Clarín, acusando-o de envolvimento em supostos casos de corrupção (sobre o tamanho da manifestação, enquanto dirigentes sindicais falavam da presença de 500 mil pessoas, o diário divulgou estimativas de 50 a 60 mil participantes).

Atacou (ou contra-atacou): “Aqueles meios de comunicação monopólicos, sócios e cúmplices da ditadura militar, querem ser nossos fiscais e querem derramar ética, moral e bons costumes. Temos que insistir em esclarecer isso, para que não consigam nos confundir. Como dizia um amigo, pregam a moral com a braguilha aberta”.
Continuou: “Querem ser os campeões da ética quando não responderam à Justiça pela apropriação de bebês. Internamente, esses jovens querem saber quem são seus pais” (aqui é um assunto de domínio público: ele se refere a Marcela e Felipe Noble Herrera, filhos adotivos de Ernestina Herrera de Noble, dona do Grupo Clarín, sobre os quais pesa a suspeita de terem sido bebês roubados de presos políticos assassinados pela ditadura. Há 10 anos o processo está rolando na Justiça, mas os advogados da poderosa família têm conseguido evitar - ou adiar - os exames de DNA).

Moyano lembrou também o “roubo” de Papel Prensa, empresa que monopoliza a produção de papel para a imprensa do país e que, durante a ditadura, teria sido “comprada” pelos jornais Clarín, La Nación e La Razón (este último já fechado), através da utilização de expedientes ilegais, coercitivos e violentos. Baseado nisso, o governo de Cristina Kirchner promoveu uma intervenção na empresa e o assunto é objeto de processo judicial






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