TROTSKISTAS FAZEM “FRENTE DE ESQUERDA” NA ARGENTINA

O Partido Operário em recente manifestação, cobrando punição pelo
assassinato de seu militante Mariano Ferreyra (os acusados estão
presos, respondendo a processo) (Foto: Jadson Oliveira)
De Buenos Aires (Argentina) - O Partido Operário (PO – “Obrero”), o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) e a Esquerda Socialista firmaram a “Frente de Esquerda e dos Trabalhadores” para concorrer às eleições presidenciais de 23 de outubro. O acordo visa driblar as restrições legais para que os partidos possam apresentar candidatos. A lei eleitoral determina que um partido só pode apresentar um candidato a presidente, por exemplo, se conseguir a participação de 1,5% do eleitorado nacional (cerca de 320 mil dentro de um universo de pouco mais de 20 milhões de eleitores) na eleição interna que cada partido é obrigado a realizar no dia 14 de agosto (são as chamadas Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias – PASO).


Tais agremiações de orientação trotskista (aqui são referidos também como “de esquerda” e às vezes, com sentido pejorativo, como “piqueteros”) não têm tido, até hoje, protagonismo eleitoral e parlamentar, não têm um único representante no Congresso Nacional (nas eleições legislativas de 2009, o PO conseguiu apenas 1,1% dos votos na província – estado – de Buenos Aires). Sozinhos não teriam como cumprir as exigências legais para a disputa eleitoral, embora tenham um poder de mobilização bem superior ao de seus irmãos brasileiros. Para comparar: se houvesse exigência semelhante na legislação brasileira, certamente partidos como os nossos PSTU, PCO e PCB não poderiam apresentar candidato.


Militância da Juventude do PTS (Partido dos Trabalhadores
Socialistas) nas ruas da capital portenha (Foto: Jadson Oliveira)
Segundo o jornal Prensa Obrera (Imprensa Operária), do PO, consta do acordo um “programa de urgência” com 10 pontos, a exemplo da reivindicação de um salário mínimo no valor de 5.000 pesos (o atual é 1.270 pesos, mais ou menos equivalente ao do Brasil). São propostas, em sua maioria – uma outra: “Nacionalização, sem indenização, dos bancos, do petróleo, da mineração, das telecomunicações e do comércio exterior agrário” – fora das perspectivas do possível no momento, dentro de uma visão mais realista, uma postura que é peculiar aos partidos similares no Brasil, onde os trotskistas são mencionados também como “de extrema-esquerda”.


O órgão oficial do PO do dia 14/abril, em matéria de capa “Vamos com a Frente de Esquerda”, faz críticas aos blocos de centro-esquerda, inclusive o kirchnerismo (da presidenta Cristina Kirchner), investe contra a “burocracia sindical e suas gangues” e diz que pretende “constituir um pólo de independência de classe e de delimitação política frente aos blocos capitalistas”. Informa que a Frente ora formada apresentará “listas” de candidatos não só no pleito presidencial, mas também em 19 dos 24 distritos eleitorais (23 províncias e a capital Buenos Aires).


No editorial do jornal, Jorge Altamira, dirigente do partido, diz que o candidato a presidente da Frente será designado no congresso do PO, a realizar-se “nos próximos dias”. Comenta ainda que espera que se juntem ao acordo outras agremiações de esquerda, citando o Novo MAS (Movimento Ao Socialismo). E martela a preocupação constante com a luta de massas: “A natureza eleitoral do acordo político não contradiz que seu desenvolvimento dependerá de uma inserção crescente na luta de classes”.


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