"Eu não esqueço!": Franco Macri, Ernestina Herrera de Noble (dona do Grupo Clarín) e Constancio Vigil em cartazes colados no centro da capital portenha (Foto: Jadson Oliveira) |
Querem julgar e punir os civis que, de uma forma ou outra, foram cúmplices da tirania e dos crimes de lesa humanidade e se locupletaram com a tirania e com os crimes. No mesmo dia 24, Estela de Carlotto, presidenta de Abuelas de Plaza de Mayo (Avós da Praça de Maio) - uma das entidades mais atuantes na defesa dos Direitos Humanos – reforçou: é preciso buscar meios para castigar também os criminosos civis. E mencionou os grandes empresários, os meios de comunicação e os juízes que arquivavam milhares de habeas corpus dos familiares dos desaparecidos.
Estela de Carlotto, presidenta de Abuelas (Avós) de Plaza de Mayo: julgar e punir grandes empresários, dirigentes de meios de comunicação e juízes que ajudaram a manter a ditadura (Foto: Reoprodução) |
Grupo Clarín sempre em parceria com a tirania
A segunda cara no cartaz é de Ernestina Herrera de Noble, 86 anos, herdeira e à frente, desde 1969, do Grupo Clarín, o maior conglomerado de comunicação do país. Esteve sempre junto dos ditadores e é envolvida em rumorosos casos judiciais, como a aquisição supostamente ilegal, durante a ditadura, da empresa Papel Prensa, que monopoliza a fabricação de papel para jornais; e a suspeita de que seus filhos adotivos (Marcela e Felipe Noble Herrera) foram dois dos bebês roubados de presas políticas desaparecidas (assassinadas), processo que rola há oito anos, mas seus advogados sempre conseguem evitar (ou protelar) os exames de DNA.
Jorge Videla e Ernestina de Noble na inauguração da fábrica de Papel Prensa em 1978 (Foto: Reprodução) |
Quando as manchetes não são diretamente contra o governo, são contra Hugo Moyano, líder da poderosa CGT (Confederação Geral do Trabalho) e aliado de Cristina (o poder dos trabalhadores argentinos, através da estrutura sindical criada pelo peronismo, parece continuar forte ainda hoje).
E o terceiro rosto exibido é de Constancio Vigil, cuja família era dona de várias publicações. Ele se notabilizou na direção da revista El Gráfico, dedicada à cobertura do futebol, que se destacou especialmente na campanha da seleção argentina, campeã mundial da Copa de 1978. Ficou famoso o seu empenho em exaltar a figura do então ditador Videla e, de tabela, as “maravilhas” do regime militar, negando as denúncias de violações dos Direitos Humanos que pipocavam pelo mundo.
Atrás da fumaça já há fogo
Os cartazes foram somente o sinal mais visível, a fumaça por baixo da qual o fogo já vem queimando. Ainda no mesmo dia 24 de março, o jornal argentino Página/12 publicava matéria, assinada por Alejandra Dandan, sobre o tema. O título: “De olho nos cúmplices e instigadores civis”. Título de apoio: “Avança a análise do papel de grupos econômicos e do Poder Judiciário durante o terrorismo de Estado”.
A matéria cita cinco magistrados e dois promotores acusados em questões judiciais já em andamento, se refere a juízes (sem citar nomes) que estariam envolvidos nos processos de legalização de bebês roubados de presas políticas e menciona casos em que empresas aparecem sob suspeitas, chegando a citar algumas delas, como a Ford e a Mercedes-Benz.
Um fato significativo do ponto de vista jurídico – apontado na matéria – é que entre os magistrados, os promotores/procuradores e os advogados, inclusive em peças judiciais e nos interrogatórios de testemunhas, vem se tornando cada dia mais frequente o emprego da expressão “ditadura cívico-militar”. A advogada Ana Oberlin, que é especialista em Direito Penal, diz: “Com tudo que está surgindo nos processos, está cada vez mais claro que a expressão “ditadura militar” invisibiliza o papel muito importante que tiveram todos os interesses econômicos”.
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