EX-DITADOR ARGENTINO OUTRA VEZ NO BANCO DOS RÉUS

Jorge Rafael Videla (à esq. o também ex-ditador Reynaldo Bignone)
responde desta vez pelo roubo de bebês (Foto: reprodução da capa
do jornal Página/12)
De Buenos Aires (Argentina) – Já na prisão cumprindo duas condenações por crimes de lesa humanidade – uma de 25 anos e outra de prisão perpétua -, o ex-ditador Jorge Rafael Videla, 85 anos, volta a se sentar no banco dos réus. Desta vez é acusado de subtrair e ocultar menores, ou seja, o famoso roubo e apropriação de bebês nascidos (ou sequestrados juntamente com os pais) durante o cativeiro de presas políticas desaparecidas (assassinadas) durante a ditadura militar (1976-1983). São oito os acusados, incluindo ainda um médico e outro ex-ditador, ex-general Reynaldo Bignone, que comandou o governo já na fase terminal do regime militar.


O caso se refere ao roubo de 34 bebês que está em julgamento nos tribunais federais da Avenida Comodoro Py, em Buenos Aires, cuja ação foi iniciada em 30 de dezembro de 1996 por iniciativa de Abuelas de Plaza de Mayo (Avós da Praça de Maio), uma das entidades em que se organizam as conhecidas “madres” (mães) argentinas, engajadas há 34 anos na busca dos desaparecidos e na luta pela punição dos repressores.


Cartaz com as fotos das 34 mães desaparecidas que tiveram seus
recém-nascidos apropriados pelos repressores, as quais constam
do julgamento atualmente em curso na capital argentina 
(Foto: Reprodução)
No final do mês passado começou a fase das audiências públicas, devendo ser ouvidas cerca de 370 testemunhas. O desfecho está previsto para daqui a oito meses. São, portanto, 15 anos, durante os quais morreram alguns dos acusados no início do processo, como o ex-almirante Emilio Massera e o ex-general Cristino Nicolaides, que integraram juntas militares em distintas fases da ditadura.


No meio jurídico usa-se com frequência a expressão “plano sistemático de roubos de bebês” para marcar que não era uma prática isolada ou eventual. Foi a forma adotada pela sangrenta repressão para resolver o problema das mulheres sequestradas grávidas, chegando a ser instaladas verdadeiras “maternidades” em alguns dos centros clandestinos de tortura. O monitoramento feito por Abuelas de Plaza de Mayo registra que até hoje foram identificados 102 bebês tirados das mães e entregues para adoção de outras famílias, às vezes famílias dos próprios repressores. A estimativa é que o número total das crianças nesta situação (hoje adultos na faixa dos 30 anos) chegue em torno de 500.


É uma ferida sempre aberta na sociedade argentina. Há um caso rumoroso que volta e meia está em destaque nos meios de comunicação, por envolver altas figuras do poder. Os filhos adotivos de Ernestina Herrera de Noble (Marcela e Felipe Noble Herrera – foto), diretora do jornal Clarín, do maior grupo de mídia na Argentina, são suspeitos de serem fruto desse crime. A ação vem tramitando na Justiça, mas os advogados da poderosa família sempre conseguem barrar (ou adiar) as ordens judiciais para que os dois se submetam aos exames de DNA.


Recentemente, a presidenta de Abuelas de Plaza de Mayo, Estela Carlotto, declarou logo depois de mais um adiamento: “Os advogados os utilizam e os vitimizam (Marcela e Felipe), e impedem de se chegar à verdade num crime horrendo da ditadura. O Estado tem a obrigação de chegar a saber a verdade”.


Comentários

Anônimo disse…
Camarada meus respeitos. País civilizado esse a Argentina hein? tem que levar para o banco dos réus todos esses genocídas. Que inveja. As autoridadees brasileiras deveriam tomar esse exemplo e com essa tal comissão da verdade apurar todos os crimes ocorridos na ditadura brasileira. Por que Argentina e Chile podem fazer isso e o Brasil não?

Mas estou lhe escrevendo também por ter achado no "baú da dra Nita" um vídeo em que vc representa aquela cena de Chumbinho e caveira da radionovela Jerônimo, o herói do sertão, edeclama o poeta dos mortos. Estou preparando editando e depois vou colocar no youtube para seu deleite e de seus fãs. Grande Abraço Biaggio
Jadson disse…
Biaggio, quanta saudade, companheiro! é fácil imaginar, quando a gente está fora assim, a coisa fica mais aguçada, vc me remete a luminosas lembranças, aqueles poemas ditados, instigados pelo fervor alcoólico, me arrebento de saudade de um tempo em que existia a turma da Confraria (ainda existe?), Oldemar Vitor (este sei que não existe mais), etc, etc. Vou parar por aqui pra não chorar.
Será que poderei ver minha declamação no Youtube? (um amigo meu até me abriu uma conta no tal do Youtube, mas não sei ainda como manejar essa coisa).
Sobre a tal comissão da verdade, publiquei uma vez um artigo mostrando que, nesta matéria, o Brasil está atrás até do Paraguai (o "até", vc sabe, é por conta do fato da gente atribuir tudo de pior aos nossos hermanos paraguaios). É verdade, uma vergonha nacional, pegando a América do Sul, o Brasil, na reparação dos crimes da ditadura e em se tratando de Direitos Humanos, perde pra Argentina, Clile, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Peru (mesmo governado pela direitona), Equador e, até, pro Paraguai (esqueci algum? ficam fora aquelas três ex-guianas lá encima). Bem, se servir de consolo, ganha somente da Colômbia.
Grande abraço, companheiro.
Anônimo disse…
Claro compañero. Vai pro Youtube,sim. É que preciso dar uma editada pois naquela noite em que Helenita capturou a cena o vídeo é muito grande. tem tb a parte de Jorginho declamando vou me embora pra pasárgada. Só vou poder editar o material quando voltarmos para Salvador nesse próximo fim de semana. Helenita está dizendo que guarda eternamente todas essas lembranças. Abraços