BALIBÓ-TIMOR LESTE: CRIMES ENCOBERTOS POR MAIS DE 30 ANOS


O filme ganhador do festival mostra o assassinato
de seis jornalistas australianos e de milhares de
timorenses por tropas da Indonésia
(Foto: Reprodução)
De Buenos Aires (Argentina) – “Balibó” é o filme ganhador, na categoria longa-metragem, do 1º. Festival Internacional de Cinema Político (Ficip), realizado na capital portenha de 25 a 29 últimos. Mostra o assassinato de seis jornalistas australianos quando da invasão do Timor Leste pela Indonésia em 1975, poucos dias depois do país se tornar independente de Portugal, crimes que ficaram encobertos por mais de 30 anos do chamado grande público, que não é tão grande assim (na verdade, uma pequena minoria, porque o tema Direitos Humanos só entra na pauta das corporações da mídia quando há por trás o assalto às riquezas dos pequenos países pelo império dos Estados Unidos e seus aliados, como é o caso nos dias de hoje com o petróleo da Líbia).


Por que as potências ocidentais iriam se importar com o massacre do povo timorense (e não só dos seis jornalistas)? Timor Leste é a metade da diminuta ilha Timor, na Ásia, atualmente com um milhão de habitantes (grande parte fala português). A outra metade faz parte do território da Indonésia, que manteve sua ocupação até 1999. É uma tragédia recente, entrando no século 21, silenciada e já condenada ao esquecimento. Mesmo porque os meios de comunicação não têm interesse de ficar falando dessas coisas “pequenas”, ainda mais com tantas tragédias mais recentes – Iraque, Afeganistão, Palestina, Líbia...


Integrantes da comissão organizadora e das equipes de jurados no
encerramento, logo após a premiação, no Espaço INCAA Km 0 -
Gaumont (Foto: Jadson Oliveira)
O filme vencedor é uma produção australiana dirigida por Robert Collonny, de 2010, baseada em fatos realmente ocorridos, escancarando a barbárie das tropas invasoras contra civis. Vemos a luta do jovem José Ramos-Horta (ator Oscar Isaac) como representante da Frente Revolucionária Timor Leste Independente (Fretilin) e, no final, uma rápida aparição dele, já de cabelos grisalhos, cinquentão, 24 anos depois, quando retorna do exílio para se tornar uma das lideranças do novo país (foi ministro das Relações Exteriores e hoje é presidente da República).


E vemos o veterano jornalista australiano Roger East (ator Anthony LaPaglia) tentando desesperadamente encontrar os cinco colegas e conterrâneos (duas equipes de duas emissoras de TV da Austrália). Tinham sido mortos na cidade de Balibó (daí o título), perto da fronteira com a Indonésia, e ele acabou tendo o mesmo destino. Tudo envolto em cenas de extrema violência e realismo.


Festival teve mais de 350 filmes inscritos


Como o nome do festival sugere, nas mais de 350 “películas” inscritas estava grande parte das inquietudes políticas de nosso tempo. Segundo os organizadores, foram tratados nos filmes temas como a luta dos países da América Latina para mudar sua história de colonização e exploração, os desaparecidos políticos e os bebês roubados durante a ditadura (assunto atualíssimo na Argentina), o nazismo, os problemas da migração e imigração, o neoliberalismo, a luta dos povos contra as grandes corporações, a história dos movimentos sociais, os golpes e as democracias e a guerra na Faixa de Gaza.


O Espaço INCAA (na Praça do Congresso) foi um dos três locais
onde foram exibidos os filmes (Foto: Jadson Oliveira)
Houve filmes da Austrália, Polônia, Palestina, Honduras, Paraguai, Chile, México, Brasil, Canadá, Cuba, Guatemala, Venezuela, Bolívia e Peru, além da Argentina, claro, que mereceu uma competição especial, com premiação à parte, já que os cineastas da casa inscreveram mais de 120 obras. Além dos longa-metragem, foram premiados os melhores curtas e os de meia-metragem (é isso mesmo em português? em espanhol é mediometrajes). Houve mostras especiais de Cuba, Paraguai e México. Venezuela foi o país convidado de honra. Durante os cinco dias, os filmes foram exibidos, gratuitamente, nas salas do Espaço INCAA (Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais) Km 0 – Gaumont, do Centro Cultural da Cooperação e do Hotel Bauen.


Pequena participação do Brasil


O entrosamento dos brasileiros e argentinos parece não ser dos melhores na área do cinema. De acordo com informação da comissão organizadora, somente quatro ou cinco filmes do Brasil foram inscritos e apenas um mereceu uma certa atenção (pelo menos foi lembrado e elogiado por um dos organizadores), embora não tenha recebido nenhum prêmio. Trata-se de “Andiroba – Uma luta pela terra”, cujo diretor é Jérôme Perret, um suíço que já viveu no Brasil e atualmente vive em Buenos Aires, conforme pesquisa na Internet. É uma produção brasileira/suíça. Conta a luta de moradores do Baixo Parnaíba, no Maranhão, em defesa do meio ambiente e contra a monocultura de eucalipto, com a participação do ex-padre Vale (José Vale dos Santos).




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