TURISMO SE EXPANDE NA AGRICULTURA FAMILIAR DO PERU

Tasso, com um chapeuzinho de turista: “Visitar uma família de
 camponeses na zona rural é uma lição de vida” (Foto: BJÁ)

Por Tasso Franco, de Bahia Já, www.bahiaja.com.br (17/02/2011)


Parte do interior do Peru se parece muito com o Sertão Nordeste da Bahia. Terreno semiárido, muita pedra, pouca chuva e uma imensa população vivendo da agricultura familiar.

Nesse universo de meu Deus, que lembra a região de Canudos, na Bahia, muita luta e pobreza na sobrevivência, o Peru introduziu um novo ingrediente nesse contexto, promovendo atividades produtivas no turismo, fazendo com que algumas dessas famílias localizadas em roteiros de sítios arqueológicos (e são dezenas deles no país) obtenham ganhos com o turismo.

É como se você fosse a Canudos visitar o sítio da "Guerra do Fim do Mundo", por sinal encantado na pena de Vargas Llosa, o peruano vencedor do Nobel de Literatura, ano 2010, e fosse recebido numa pequena propriedade da zona rural por sitiantes, com a oferta de um lanche, um almoço, um teiú moqueado e a venda de peças artesanais e assim por diante.

Ao visitar o Complexo Arqueológico de Sallustani, Sul do Peru, distante uns 50 km de Juliaca, uma cidade que mais parece com aqueles povoados de filmes de "farwest", com ruas sem calçamento e gente que vem da Bolívia e do Equador fazer todo tipo de negócios, e de vez em quando acontecem alguns bang-bangs nas ruas, tive a oportunidade de visitar a residência de uma família de campesinos, típica do Peru, gente pobre, porém, digna, nariz em pé, orgulhosa do seu espaço e das coisas que cercam suas atividades.

A guia nos levou eu e a senhora Bião de Jesus para conhecer a casa de Pilar Sanches e do seu irmão José, e mais uma sobrinha de Pilar que de tão envergonhada e tímida com nossa presença não consegui saber seu nome.

Uma visita programada, sendo recebidos com uma mesa posta com iguarias modestas num espaço de pedras, com queijo andino, batatas cozidas (produto muito consumido no país), maiz (milho de dois tipos), pimientos e um molho cor de terra, delicioso, ainda que com a cara de poucos amigos.

Um espaço de menos de uma tarefa cercado de pedras, todas as cercas dessa região são de pedras porque não existe madeira, três casinhas, sendo cada uma delas ocupada por essas três pessoas, tudo simples, modestíssimo, limpo, e mostrado a nós com um imenso prazer.

Dois tourinhos no portal de entrada do sítio, com uma escada e uma cruz, aponta uma tradição local dando conta de que haverá prosperidade, subir na vida (e a escada simboliza isso) com fé no Cristo (na cruz).

A casa de Pilar só tem uma prateleira, uma cama, algumas fotos na parede e nada mais. Pilar só tem um sapato, o que é considerado uma tradição e normal entre os moradores da zona rural, só usado no dia em que vai a cidade de Juliaca ou Puno, pois, no seu dia-a-dia, na zona rural, só usa alpercatas. E eu a imaginar que a senhora Bião tem mais de 20 sapatos! Que ironia.

Claro que também conheci a cozinha onde Pilar prepara as iguarias, utilizando estrume de llamas, brinquei com o perro (cachorro) da casa, tirei foto com as alpacas, e comi de tudo um pouco.

De quebra, como não poderia sair com as mãos abanando, e aí é que entra a atividade produtiva, comprei um tapete no valor de 80 soles, algo como 60 reais, produzido por José, artesanalmente, com a lã retirada de meia dúzia de llamas que cria em redor das casitas, presas em cabrestos.

E saímos dali felizes da vida, nós por entender o mundo melhor vendo que é possível viver com tão pouco e com felicidade, e eles porque tiveram um ganho para melhorar suas qualidades de vidas, e por receber estrangeiros com tanta amabilidade.


Tasso Franco é jornalista baiano, velho companheiro de labuta em Salvador, meu chefe em algumas redações.


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