VÍDEO: POVO ORIGINÁRIO NAS RUAS CONTRA REPRESSÃO

De Buenos Aires (Argentina) - Representantes de uma comunidade indígena da província (estado) de Formosa (região do Chaco, norte da Argentina, vizinha do Paraguai), na verdade menos de 20 pessoas, fecharam a Avenida 9 de Julho, no centro de Buenos Aires, na segunda-feira, dia 13, em protesto contra a repressão policial. Acusados de invadir terras - eles contestam, dizem que moram nas terras há mais de 500 anos -, foram atacados por forças policiais no último dia 23, resultando dois mortos, mais de 40 feridos e 17 casas incendiadas (correção do que falo no vídeo: um dos mortos é policial). Na imprensa aqui a comunidade é chamada "toba-qom de La Primavera".

Os manifestantes fecharam uma das pistas da avenida (é larguíssima, tem duas largas pistas, mão e contra-mão, além de duas ruas laterais com outros nomes). Um bafafá tremendo no trânsito, mas não houve qualquer repressão. Chegaram muitos policiais, com aqueles escudos e equipados como nossos homens da Tropa de Choque (havia mais policiais do que manifestantes). Depois de negociações, os indígenas abriram uma estreita brecha, suficiente para apenas um carro de cada vez. Não sei quanto tempo durou a avenida "trancada", fato aqui, aliás, muito corriqueiro.

(O governo de Cristina Kirchner se auto-proclama Governo dos Direitos Humanos, portanto, nada de reprimir os movimentos sociais. Mas há as polícias das províncias e, no caso de Buenos Aires, o "prefeito", aqui chamado chefe de Governo da capital, também tem sua polícia. Aí, às vezes, se esquece o tal dos Direitos Humanos e tome repressão no lombo dos pobres).

Os representantes dos indígenas (ou povos originários, como se passou a nominá-los) pediram intervenção do governo federal na província de Formosa. O líder da comunidade, Félix Díaz, esteve em Buenos Aires e recebeu a solidariedade de organizações ligadas à defesa dos Direitos Humanos, inclusive das Madres de Plaza de Mayo e de Adolfo Pérez Esquivel, detentor do Prêmio Nobel da Paz. (Curiosidade: Félix Díaz disse que não gosta da expressão "povos originários", prefere mesmo o tradicional "povos indígenas").

Comentários

Anônimo disse…
Essa demonstração mostra que o que conta é a vontade de se expressar e não a quantidade de gente. 20 pessoas e fecham uma avenida inteira. Muito legal. As cores das bandeiras são semelhantes às cores na Bolívia. Há alguma comunicação entre esses povos?
Jadson disse…
Fabiano, tua observação sobre as bandeiras me é muito oportuna. Eu tinha anotado pra incluir no texto junto com o vídeo, mas na hora me esqueci.
Essa bandeira é símbolo usado pelos povos originários (ou indígenas) da região dos Andes (acho que pegando também a região amazônica), chama-se Wiphala, palavra derivada do idioma aymara (um dos dois povos indígenas mais importantes da Bolívia, o Evo Morales é aymara, o outro dos dois é o quéchua). É assim com esses quadradinhos, contendo sete cores, creio que contando com o branco.
Tem tudo a ver a associação que vc faz com a Bolívia: é que a nova Constituição boliviana, aprovada em referendo popular de janeiro/2009, adotou a Wiphala como um dos símbolos oficiais do Estado Plurinacional, como o Estado boliviano é nominado agora oficialmente.
Então, nas manifestações públicas lá em La Paz, por exemplo, aparecem sempre as Wiphalas dos indígenas e a outra bandeira (antes bandeira nacional), agora as duas são oficiais.
Anônimo disse…
Beleza, dá pra notar que é algo mais profundo que a simples ideia de estado nação separando etnias.

Abraço, Fabiano