Jorge Rafael Videla comandou a ditadura sangrenta de 1976 a 1981 (Foto: Reprodução) |
(Reprodução da primeira página do jornal Página 12, de 23/12/10) |
A sentença foi lida no final da tarde desta quarta-feira, dia 22, com milhares de pessoas em concentrações festivas diante de telões em Córdoba (capital da província de Córdoba, região central do país), onde ocorreu o julgamento, e em Buenos Aires. A leitura teve transmissão ao vivo através de seis emissoras de TV. Ao final da sessão, Videla teve que escutar os gritos de “assassino... assassino... assassino...”, partidos dos assistentes na sala do tribunal, repleta de vítimas sobreviventes e familiares de sequestrados, torturados e assassinados, além de representantes da luta pelos Direitos Humanos, como as Mães e Avós da Praça de Maio (Madres e Abuelas de Plaza de Mayo) e Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de 1980.
Lutadores pelos Direitos Humanos (Mães e Avós da Praça de Maio à frente) e familiares de mortos e desaparecidos festejam logo em seguida à divulgação das sentenças (Foto: Reprodução) |
Mais de 100 foram condenados por crimes de lesa humanidade somente neste ano
Este foi apenas um dos julgamentos concluídos nesta semana. Houve mais três, todos envolvendo crimes de lesa humanidade praticados durante a ditadura. No dia anterior, terça-feira, dia 21, a militância pró Direitos Humanos tinha se concentrado diante dos tribunais federais da capital (Avenida Comodoro Py), para ouvir (e festejar) a leitura da sentença de um processo envolvendo 183 vítimas e 17 acusados. Os crimes - sequestro, tortura, violação, desaparecimento, assassinato e roubo de bebês – ocorreram num circuito de três centros clandestinos do I Corpo de Exército, sediado em Buenos Aires. Doze foram punidos com prisão perpétua, quatro com penas de 25 anos e um foi absolvido.
Os outros dois processos: em Mar del Plata (cidade costeira, no centro-leste), três oficiais da Marinha foram condenados à prisão perpétua; e em Salta (capital da província do mesmo nome, noroeste), três coronéis reformados do Exército tiveram pena também de prisão perpétua. Segundo dados da Procuradoria Geral da Nação divulgados nos meios de comunicação portenhos, o número de condenados este ano por crimes de lesa humanidade, cometidos durante a última ditadura (1976-1983), chega, com os casos desta semana, a pouco mais de 100. Neste ano 166 acusados foram ou estão sendo julgados. Este número vem crescendo: no ano passado 36 pessoas se sentaram no banco dos réus por atrocidades contra opositores políticos.
Militantes reuniram-se em frente ao prédio de tribunais federais em Buenos Aires e festejaram a condenação de 16 torturadores (Foto: Jadson Oliveira) |
Muitos carregavam fotos de sequestrados, desaparecidos e assassinados pelos repressores da ditadura (Foto: Jadson Oliveira) |
É o que se podia observar no Festival (de música) pelo Julgamento e Castigo, em frente aos tribunais em Buenos Aires, na terça-feira. Lá estavam entidades como Mães da Praça de Maio, H.I.J.O.S. (Hijos e Hijas - Filhos e Filhas - por la Identidad y la Justicia contra el Olvido - Esquecimento - y el Silencio), La Cámpora e Juventude Sindical (as duas últimas com jovens militantes kirchneristas). Muitos levavam cartazes com a figura de Néstor Kirchner e com retratos de desaparecidos, mostrados também em broches.
VIDELA: VIGOR FÍSICO E MENTAL
O ex-ditador na bancada dos réus, tendo ao lado Luciano Menéndez, ex-comandante do Exército em Córdoba (Foto: Reprodução) |
Em 1985, ele foi condenado à prisão perpétua, mas ficou na cadeia por apenas cinco anos, pois foi beneficiado em 1990 por indulto concedido pelo então presidente Carlos Menem. Em 1998 voltou a ser preso, mas somente 38 dias, passando então a cumprir prisão domiciliar. Há dois anos retornou à cadeia, onde vai continuar agora com a nova sentença de prisão perpétua.
Apesar dos 85 anos, exibe vigor físico e mental. Na terça-feira, dia 21, um dia antes da leitura da sentença, leu um alentado discurso na parte das chamadas alegações finais, demonstrando lucidez, firmeza e fidelidade ideológica e política, dentro da visão comum dos ditadores latino-americanos criados pela Guerra Fria. Defendeu sua ação durante a ditadura, disse que travou não uma “guerra suja”, mas sim uma “guerra justa” contra a subversão, contra o terrorismo, contra o marxismo – guerra que ainda não acabou, advertiu -, e ainda semeou algumas polêmicas ao falar de apoios que teria tido entre políticos e a sociedade civil.
Comentários
equipe ananindeuadebates
(Eni fala em "rodando a classe operária", era o jornal oficial clandestino do PC do B, uma época fiquei encarregado de imprimir na Bahia, passamos muitas madrugadas manejando o mimeógrafo).
Pois é, companheiro Rui, nesta matéria Direitos Humanos nosso Brasil é uma vergonha, é só lembrar que o nosso Supremo Tribunal Federal respaldou, escandalosamente, os torturadores. e agora mesmo a Comissão Interamericana de DH condenou o Brasil pelo assassinato e desaparecimento dos guerrilheiros do Araguaia.
Uma vez fiz uma matéria aqui no blog (Direitos Humanos; o Brasil na vanguarda do atraso) comparando nosso país com os da América Latina nesta matéria. Lembrei que o Brasil está atrás até do Paraguai neste quesito (me desculpem os hermanos paraguaios, mas é que nos acostumamos a ver tudo de ruim no Paraguai, idiotices de nossa grande imprensa).
Pois é, meu amigo, uma vergonha, vamos ver se com uma mulher na presidência a coisa melhora (ou piora).
Vou reproduzir essa matéria no nosso Pilha. Excelente.