(Continuação da entrevista exclusiva de Fidel Castro ao jornal La Jornada, do México, a primeira concedida a um veículo impresso desde que uma diverticulite o obrigou a afastar-se da liderança do governo cubano, há quatro anos. Foi publicada na edição de 30 de agosto. Aqui no meu blog ela foi dividida em três parte. A primeira falou do “calvário” provocado pela doença e da condição de quase-morto a que chegou o entrevistado. Esta 2ª. parte aborda o imenso poder do uso das novas ferramentas da informática na luta contra os monopólios da comunicação, dominados pelo império e suas empresas transnacionais; e a 3ª. parte/final – “Temos que convencer Obama a evitar a guerra nuclear” –, a ser postada em seguida, é sobre as crescentes ameaças contra o Irã. A versão em português que reproduzo é de Carta Maior, com tradução de Katarina Peixoto. O título acima é deste blog e a foto é do jornal mexicano).
Por Carmen Lira Saade – do jornal La Jornada (México)
De Havana (Cuba) - A tarefa de acúmulo informativo cotidiano deste sobrevivente (Fidel Castro) começa desde que ele acorda. Com uma velocidade de leitura, cujo método ninguém conhece, devora livros, lê entre 200 e 300 notas informativas por dia, está debruçado sobre as novas tecnologias da comunicação, e fica fascinado com o Wikileaks, a garganta profunda da Internet, famosa pela revelação da existência de 90 mil documentos militares sobre o Afeganistão, nos quais esse novo internauta já está trabalhando.
“Você se dá conta, companheira, do que isso significa?” – pergunta-me. “A Internet colocou em nossas mãos a possibilidade de nos comunicarmos com o mundo. Não contávamos com nada disso antes” – comenta, ao mesmo tempo em que se deleita vendo e selecionando informes e textos baixados da rede, que tem sobre a mesa do escritório: um pequeno móvel, demasiado pequeno para o tamanho (mesmo que diminuído pela enfermidade) de seu ocupante.
“Estamos diante da arma mais poderosa que já existiu, que é a comunicação”
“Acabaram-se os segredos, ou ao menos parece isso. Estamos diante de um jornalismo de investigação de alta tecnologia, como o chama o New York Times, e ao alcance de todo o mundo. Estamos diante da arma mais poderosa que já existiu, que é a comunicação” – resume. “O poder da comunicação tem estado, e está, nas mãos do império e de ambiciosos grupos privados que fazem uso e abuso dele. Por isso os meios de comunicação fabricaram o poder que hoje ostentam”.
Escuto-o e penso em Chomsky: qualquer das fraudes que o império tente executar deve contar antes com o apoio dos meios de comunicação, principalmente jornais e televisão, e hoje, naturalmente, com todos os instrumentos que a Internet oferece. São os meios que, antes de qualquer ação, criam o consenso. Preparam a cama, diríamos...Formatam o teatro de operações. “No entanto, diz Fidel, ainda que pretendessem manter intacto esse poder, não conseguiram. E estão perdendo-o dia-a-dia. Enquanto outros, muitos, muitíssimos, emergem a cada momento...”
Faz-se necessário, então, um reconhecimento aos esforços de alguns sites e meios, além do Wikileaks: pelo lado latinoamericano, a Telesur da Venezuela, a televisão cultural da Argentina, o Canal Encontro, e todos aqueles meios, públicos ou privados, que enfrentam poderosos consórcios particulares da região e transnacionais da informação, da cultura e do entretenimento.
Informes sobre a tirania que o império exerce estão agora ao alcance de todos os mortais
Informes sobre a manipulação dos grupos empresariais locais ou regionais poderosos, seus complôs para introduzir ou eliminar governos ou personagens da política, ou sobre a tirania que o império exerce, através das transnacionais, estão agora ao alcance de todos os mortais.
Mas não em Cuba, que dispõe apenas de uma entrada de Internet para todo o país, comparável à que o Hotel Hilton ou o Sheraton tem. Essa é a razão por que conectar-se em Cuba é desesperador. A navegação é como se fosse em câmara lenta.
- Por que isso ocorre? - pergunto.
- Pela rotunda negativa dos Estados Unidos em nos dar acesso à Internet na ilha, através de um dos cabos submarinos de fibra ótica que passam próximo às costas. Cuba se vê obrigada, em troca, a baixar o sinal de um satélite, o que encarece muito mais o serviço do que o governo cubano pode pagar, e impede que se disponha de uma banda maior, que permita dar acesso a muito mais usuários e na velocidade que é normal em todo o mundo, com a banda larga.
Por essas razões o governo cubano dá prioridade para conectar-se não a quem pode pagar pelo custo do serviço, mas para quem mais necessita, como médicos, acadêmicos, jornalistas, professores, quadros do governo e clubes de Internet de uso social. Não se pode fazer mais.
Penso nos descomunais esforços do site cubano Cubadebate para alimentar seu conteúdo e levar ao exterior a informação sobre o país, nas condições existentes. Mas, segundo Fidel, Cuba em breve poderá solucionar esta situação.
Ele se refere à conclusão das obras do cabo submarino que se estende do porto de La Guaira, na Venezuela, até as proximidades de Santiago de Cuba. Com estas obras, levadas adiante pelo governo Hugo Chávez, a ilha poderá dispor de banda larga e de possibilidades de conceder uma grande ampliação do serviço.
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