ABORTO: VÍTIMAS NO BANCO DOS RÉUS

Moção de repúdio da Marcha Mundial das Mulheres contra a “ação criminosa” da Rede Globo em relação às mulheres que praticam aborto. (Conforme publicação no sítio do jornal Brasil de Fato. O título acima foi criado por este blog).


É “fantástico” como a Rede Globo, ao longo dos últimos anos, tem cumprido um papel de afirmar e incrementar visões conservadoras na sociedade brasileira de forma geral, e de reafirmar a ideia do aborto como assassinato, em particular. As novelas da Globo têm sido o principal instrumento para veicular esta visão de aborto como crime e taxar as mulheres que o praticam de assassinas.

Não bastasse, esta emissora tem também assumido um papel policialesco, ao produzir reportagens para criminalizar e denunciar o aborto clandestino. Não podemos esquecer que o estouro de uma clínica no Mato Grosso do Sul, no final de 2007, que resultou na exposição pública do nome de dez mil mulheres e na condenação de trabalhadoras e de mulheres que fizeram aborto, foi desencadeado a partir da ação desta emissora, após denúncia feita contra a clínica.

A partir deste episódio, tem se desenvolvido no Brasil uma ação sem precedentes de criminalização do aborto. Inclusive com a proposta de uma CPI do aborto, contra a qual os movimentos têm lutado. Sabemos que a Rede Globo não está sozinha. Ela se articula com os setores mais conservadores da sociedade, que reúnem parlamentares e igreja católica, com o intuito de retroceder nos poucos avanços que as mulheres conquistaram na área dos direitos reprodutivos.

Neste domingo, 1º de agosto, o programa Fantástico fez uma reportagem no mínimo revoltante. Em uma ação policialesca, entrou em clínicas clandestinas de Salvador, Belém e Rio de Janeiro para denunciar o aborto clandestino. Como sempre, foram expostas as mulheres pobres e as clínicas que atendem mulheres pobres, marcando assim o caráter de classe da criminalização do aborto. Por que não mostrou as clínicas em que as artistas e celebridades da Globo fazem abortos? Por que não mostrou os médicos que as atendem? Ficou claro que as mulheres ricas e as artistas da Globo ficam preservadas, pois para elas o aborto não é problema, e nem é feito nestas clínicas.

Esta atuação da Globo somente reforça a já emblemática situação de criminalização instaurada no país. Sabemos que o aumento da repressão empurra as mulheres pobres para práticas de aborto cada vez mais inseguras, condenando-as a correr graves riscos para suas vidas, e para sua saúde física e psíquica. Além de não contribuir para reduzir este grave problema de saúde pública, além de demarcar o lugar de subordinação das mulheres, já que elas não têm o direito de decidir sobre seus corpos e suas vidas.

É preciso lembrar sempre que são as mulheres pobres, negras e jovens, do campo e da periferia das cidades, as que mais sofrem com a criminalização. São elas que recorrem a clínicas clandestinas e a outros meios precários e inseguros, uma vez que não podem pagar pelo serviço clandestino na rede privada, que cobra altíssimos preços, nem podem viajar para países onde o aborto é legalizado, opções seguras para as mulheres ricas.

Diante de tudo isso, nós, mulheres da Marcha Mundial, vimos a público repudiar esta ação criminosa da Rede Globo contra as mulheres pobres que praticam aborto. Ao invés de punição, nós propomos para o Brasil uma política pública integral de saúde que auxilie mulheres e homens a adotarem um comportamento preventivo, que promova de forma universal o acesso a todos os meios de proteção à saúde, concepção e anticoncepção, sem coerção e com respeito. Somente a legalizaçao do aborto no Brasil é capaz de reverter a situação dramática da clandestinidade do aborto, que mata, humilha e pune as mulheres que ousam decidir por suas vidas.

Fazemos coro com os movimentos que lutam pela democratização dos meios de comunicação para dar um basta nesta postura criminosa, reacionária e autoritária da Rede Globo.

Fora Rede Globo! Basta de violência contra a mulher!

Pelo fim da criminalização das mulheres e pela legalização do aborto!

Comentários

Joana D'Arck disse…
Apoiado! Temos que protestar e lutar contra esse conservadorismo assassino, que mata mulheres pobres e desfavorecidas por não assegurar o direito da escolha, a assistência segura. Abaixo a Globo e seus programas "fantásticos" para fazer a cabeça da sociedade com idéias retrógradas, ultrapassadas, comprometidas com o que há de mais conservador no país.
Este comentário foi removido pelo autor.
Apoiado 2!
Ao que entendo, há uma confusao entre publico e privado, entre visão religiosa e laica. A própria lei nao dá espaço para as escolhas que comprometem apenas o individuo que as faz, enquanto a Igreja tem seu espaço de atuação em locais não estatais e prega uma moral de doutrinação do individuo tanto na sua vida social quanto pessoal.
A visão retrógrada não dá a importância devida a educação dessas mulheres para tomarem precausões a fim de não se arrependerem depois de atos paticados.
A moral tradicional (a moral natural da religião) diz que o corpo humano é de Deus e por isso nao deve ser violado, que significa que uma pessoa nao tem direito de tirar a vida de outra. Mas essa visão nao leva em conta que o ser que está sendo formado ainda não é pessoa, pois tem apenas possibilidade de vir a ser pessoa.
Enfim, a rede globo só condena. Não explica, por exemplo, que a visão da tradição cristão contra o aborto se baseia no fato de que a formação de um novo ser humano deve acontecer (para os crentes) na afetivação do amor e, deste modo, não há arrependimento posterior do individuo. "ama e fazes o que quiseres"!
Essa visão conservadora nao leva em conta os estupros, as condições psicológicas e sociais do individuo, que muitas vezes não tem mentalidade capaz de prever situações. Tais como as consequencias de uma relação sem compromisso, ou as consequencias biológicas de um simples orgasmo!
Mas a legalização do aborto pelo Estado laico deveria ser válido até para os mais fervorozos crentes da religião cristã, pois a legalização nao é o mesmo que dizer: "AGORA É HORA DE TODOS ABORTAREM. GEREM FETOS E DEPOIS ABORTEM." É, sim, a legalização de uma pratica que já vem ocorrendo a muito tempo em todas as éras.
Cabe ao individuo escolher. O Estado, a TV e a religião não possuem qualquer autoridade natural, justificavél, capaz de condenar as escolhas que o individuo faz na sua privatividade!!!!!
Unknown disse…
E abaixo Marina Silva tb com sua Igreja Evangelica
Anônimo disse…
Parabéns Jadson, a muito a Rede Globo usa suas reportagens tendenciosas para influenciar o julgamento dos brasileiros!
Ass: Lúcio Rodrigues
Anônimo disse…
Quer dizer que Marina Silva é contra o aborto?

Com relação a globo, talvez ela seja só o porta voz, mas parece um lance da mídia em geral: nunca vi um filme, novela ou séria (brasileira ou estrangeira) falando de maneira não conservadora sobre o assunto. Fica pra mim aquela velha pergunta: as pessoas são manipuladas em suas opiniões ou a mídia apenas reflete a opinião geral?
Jadson disse…
Fabiano, Marina Silva é da Igreja Evangélica, pelo que sei, bem fervorosa.
Ela até tentou contornar a coisa ao ser entrevistada no Portal Terra, mas teve de mostrar sua posição "de princípio", como ela justifica, contra a legalização do aborto. Sugeriu um plebiscito, ora, todo mundo sabe do conservadorismo da sociedade em questões como esta. A prova é que os políticos fogem de tais temas ou vão na onda da maioria, como diz um amigo meu, a gente quando é candidato só vê voto na sua frente.
Aliás, para sermos justos, Marina tem até um mérito: sua opinião neste caso é por convicção moral/religiosa, piores são os que têm posição favorável e mentem por oportunismo, para puxar o saco do eleitor.