PERDIDO NA IMENSIDÃO PAULISTANA

De São Paulo (SP) – Nesses primeiros dias na imensidão da capital paulista, em plena Copa da África do Sul, ao som irritante da “vuvuzela” que já invade os espaços iniciais da campanha eleitoral, me sinto meio perdido/isolado/desentrosado. Onde estão os movimentos sociais, cujas atividades pretendo cobrir para meu blog? Ou eles estão ofuscados/condicionados pela euforia do futebol e pelo vale-tudo da eleição para presidente?


Sempre tive uma espécie de medo da grandiosidade deste mundo chamado São Paulo. Nas minhas andanças pela América Latina/Caribe, as pessoas dizem “ah! brasileño, Rio de Janeiro, San Pablo...” Então, quando estava no calor sufocante de Trinidad e Tobago, desentendendo completamente o inglês crioulo, decidi enfrentar esse medo, fazer uma temporada por aqui. O frio não é problema, convivi com o frio do inverno curitibano e com o frio do verão de La Paz. E todo mundo aqui fala o português, que beleza!

Mas a imensidão ainda me assusta, as distâncias são longas. Tento memorizar itinerários, nomes de ruas/praças, estabelecer novas rotinas, descobrir bares/restaurantes/padarias/cafés. Meu ponto referencial por enquanto é a badaladíssima Avenida Paulista, aquela coisa exagerada que faz a gente ficar pequena diante da ostentação dos enormes edifícios. Tenho zanzado muito pela Paulista (olha a intimidade!) com a companheira Olívia Soares (Olivinha para os íntimos), jornalista baiana que anda por aqui, porém, por pouco tempo, pois detesta o clima.

Meus roteiros até agora, na maioria das vezes caminhando ou de metrô, passam, além da Paulista, por Aclimação (bairro onde estou morando), São Joaquim, Vergueiro, Paraíso, Rua Augusta, Largo do Arouche, Praça da República, Viaduto do Chá, Vale do Anhangabaú, Rua Direita, Praça da Sé, Praça João Mendes... Dei uma escapada ao bairro de Pinheiros e fiz uma “viagem” a São Bernardo do Campo, passando por Diadema, duas cidades do ABC paulista.

“Ah! São Paulo é São Paulo!” É assim que a gente costuma falar quando não acha coisa mais inteligente pra falar. Bem, aqui comprei fácil fácil um livro que procurei e não encontrei em vários lugares, inclusive Curitiba e Salvador; aqui você topa com baiano/nordestino em cada esquina; comida braba de sertanejo também não falta, incluindo a feijoada – mas, atenção, no caso específico da feijoada, somente às quartas e sábados.

É, no entanto, uma cidade cara. Li uma relação dos lugares mais caros para turistas: São Paulo está em primeiro lugar dentre as cidades das Américas e em 21º. no mundo. Para comparação, Buenos Aires, a charmosa capital argentina, na qual planejo morar uns meses em breve, é a 161ª.

Bem, o mais importante é ver além das aparências e obviedades. O jornalista Mino Carta, da revista Carta Capital, disse numa recente palestra que São Paulo é o estado mais reacionário do Brasil, falando num contexto político, criticando os meios de comunicação dominantes. Fico matutando: e a maioria, o povo mais simples, mais pobre, como é diante de tanta exibição de grandeza? Vamos tentar ver.

(Ilustro o texto com uma foto da Avenida Paulista, aparecendo a companheira Olivinha; e, em homenagem aos movimentos sociais, uma outra da assembléia dos servidores da Justiça estadual, na Praça João Mendes, quarta-feira, dia 30, quando eles aprovaram a continuidade de uma greve que já dura mais de 60 dias).

Comentários

Joana D'Arck disse…
"São Paulo é como um mundo todo/ no mundo, um grande amor perdi...". É o baiano Caetano Veloso, que depois de fazer o hino mais bonito de São Paulo (Sampa), como reconhece o pai de uma amiga paulista, que resume lindamente esse mundão que você agora tenta descortinar (ui! descortinar é poético), numa frase da música Vaca Profana. Estive por três vezes nesse mundão de meu Deus, mas ainda estudante, por duas vezes participando de congressos universitários, e numa dessas vezes fiquei na Travessa Brigadeiro Luís Antônio, aí na Paulista. De outra vez passei um mês de férias com duas colegas, hospedada na casa de uma tia delas, na Vila Antonieta. Com pouca grana (curtíssima), sem carro, conheci pouca coisa, mas tive alguma noção da imensidão dessa cidade que exige maior intimidade com ela para ser mais agradável e menos assustadora. Aliás, Caetano também disse: “É que Narciso acha feio o que não é espelho” . Confesso que estou curiosa para saber mais de Sampa pelos seus olhos. Futuque aí. Um abraço para Olivinha. Tudo bem que ela não gosta do clima, mas quero saber dela também sobre as aventuras de vocês por aí.
Edelson disse…
Jadson, não é tão fácil, estar numa multidão e sentir-se só; São Paulo é isso aí. O movimento social está na periferia( Capão Redondo, Santo Amaro,Itaquera) e tb na galeria do Rock, onde todas as tribos,desde os Punk( e todas as suas vertentes) ao Reppers, se encontram. O espaço é amplo, difícil é inserir-se nele.
Mas, acredito, como os outros desafios, esse também será superado.
Um forte abraço
Edelson
Na minha opiniao, quanto maior a cidade, maior a desconsideração com o outro (egoísmo gerado pelo instinto de sobrevivência), maior é o conformismo diante das injustiças...
enfim, na história de todas as civilizações Incas, Egípcios, Mongóis, quase sempre que a população aumenta inicia-se um descontrole em massa. O caos se instala. Aí o governo cria medidas pra atenuar a crise até chegar o momento da própria extinção.
Ai jadson, estou sendo muito trágico... hehehe
um abraço companheiro.
Boa sorte por ai!!!
Anônimo disse…
Ir a galeria do rock para observar diferentes estilos de vida é uma opção interessante, mas não sei se Jadson vai gostar... As outras opções de movimentos pode ser!

Quanto a frieza de lugar de massa, depende das culturas que nela se misturam. São Paulo tem uma coisa de comunidades que vai pro oposto disso, se você faz parte daquele grupo. Ex.: Asiáticos, árabes, italianos, nordestinos, etc...

Boa sorte!
Fabiano