Tragédia colombiana

Marcelo Salles escreveu no último dia 9 em sua coluna Sobre Mídia e Política, no blog Fazendo Media: a média que a mídia faz, a seguinte nota:


Sobre as eleições na Colômbia (segundo turno neste domingo, dia 20), é bom ficar de olhos bem abertos. As pesquisas de opinião davam empate técnico, mas o candidato uribista, Juan Manuel Santos (foto), ex-ministro da Defesa, venceu o primeiro turno com quase o dobro dos votos. Observadores internacionais disseram que muitos eleitores deixaram de votar por conta da “violência”. A direita põe a culpa nas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Eu tenho lá minhas dúvidas. Por que as Farc fariam uma ação que favorecesse o candidato uribista?



Fiz o comentário abaixo lá no Fazendo Media e ampliei um pouco para publicar aqui no meu blog:

Marcelo, sobre as eleições na Colômbia, você faz uma pergunta pertinente: por que as Farc fariam uma ação em benefício de seus inimigos – o presidente Álvaro Uribe e seu candidato Juan Manuel Santos?

Acrescento outra: por que a disparidade enorme nas pesquisas – do empate técnico à vitória esmagadora do candidato uribista? A qual, ao que parece, deve ser confirmada ou ampliada no segundo turmo, próximo dia 20.

Tenho lido os sítios que considero mais confiáveis (além dos brasileiros, os de Telesur, La Jornada/México, Página 12/Argentina e Público/Espanha) e não consegui entender bem. (Quando candidato, para o público aqui no meu blog, as pesquisas apontavam vitória de Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá, pelo Partido Verde, escrevi  Esperança de "cambio" na Colômbia, postado aqui em 10/maio e no Fazendo Media em 04/maio).

Para as forças que costumamos chamar, na falta de uma designação mais precisa, progressistas, a Colômbia é uma tragédia.

 Desde 1948, quando assassinaram aquele líder popular/liberal Jorge Gaitán, o país vive até hoje, 62 anos após, uma conflagração. Além da incrível longevidade de grupos guerrilheiros (as Farc em especial), é um tal de assassinar opositores, candidatos a presidente, sindicalistas e simples camponeses (os últimos para serem “transformados” em guerrilheiros, os “falsos positivos”). Tudo mesclado com paramilitares, narcotraficantes e espionagem de opositores; agravado com os milhões de miseráveis e refugiados (os “desplazados”, deslocados); e reforçado com o domínio da mídia, inclusive internacionalmente.

Parece ser uma violência institucionalizada, uma coisa horrível. Ficando pela América Latina, vemos matança semelhante no México, mas confesso minha igonorância quanto à realidade mexicana (no nosso Brasil também se mata muita gente pelas periferias das grandes cidades - além de sindicalistas rurais, sem-terra -, mas aí a maioria é pobre/negra, ninguém liga).

Há dois ingredientes no caso das eleições colombianas que me parecem importantes:

1 – O poder de manipulação das informações do pessoal de Uribe (com apoio integral do império), cuja política belicista parece encontrar amplo respaldo nas camadas médias e no chamado povão, que não vislumbram outras opções em meio a tanta violência;

2 – O poder de intervenção, legal e supra-legal, do pessoal de Uribe no interior do país, lá onde a voz do terror é a voz de Deus, lá nos grotões, como dizemos (ou dizíamos) no Brasil.

Os analistas políticos às vezes destacam também o êxito da adoção de medidas compensatórias/assistenciais, como crédito subsidiado para as camadas de renda média/pequena – a exemplo das aplicadas com sucesso no Brasil. Tais medidas ajudariam a compor o quadro em que o presidente Uribe aparece com elevados índices de aprovação popular, na faixa dos 80%.

Um dia desses, no meu caminhar pela América Latina/Caribe, espero fazer uma temporada na Colômbia para ver mais de perto a sua realidade.

Comentários

"Parece ser uma violência institucionalizada, uma coisa horrível". Isso que voce chama de violencia institucionalizada me choca Jadson, pois essa é a caracteristica básica de um regime totalitário.
Parece a mesma história de sempre, da fachada governamental: a burocratização dos poderes públicos, a falsa idéia de imparcialidade (quando já se está seguindo uma ideologia) como fator de justiça gerada por essa suposta imparcialidade, as massas (quer dizer, o povão), o líder carismático (por exemplo, Hitler tambem foi eleito com a porcentagem de 89,9% do eleitorado no plebiscito de 19 de Agosto de 1934). Isso tudo, no caso da Colombia, somado a um "inimigo comum": as Farc, que serve para unir a maioria da população. Assim, o governo tem todo apoio para buscar a eliminação dos inimigos da nação: aqueles que "dizem" matar por qualquer motivo (que seria o motivo ideológico).
Essa é a meu ver a realidade política básica da opressão. Do absurdo, do caos, da ignorância humana. É o horrível como bem tu descreves Jadson, porque não sabemos explicar. Um abraço amigo. É um prazer compartilhar do mesmo espaço nacional! hehehe