Vivi tempos de paz e enterrei meus pais meus filhos estão aí para chorar ou não no meu enterro vivi tempos de guerra e chorei no adeus de jovens amigos não no último adeus horrível como dizem os jornais. Então descobri que aos 50 anos eu posso tudo posso escrever a lápis num caderno um poema ao amor revisitado posso vislumbrar uma virada socialista em cada esquina da América Latina posso virar direitista ou reviver minha adolescência de udenista gritar na praça pública viva a UDN União Democrática Nacional viva o general Juracy Magalhães posso me tornar carola meu irmão é espírita e não tem medo de morrer então posso muito bem virar carola apesar do padre da minha infância que não era pedófilo mas era agiota digo agora porque minha mãe já morreu não lhe daria tal desgosto vim a saber por acaso no gabinete da presidência da Assembleia Legislativa da Bahia. Posso escrever no meu blog assim aos borbotões sem parágrafos e sem vírgulas como a gente pensa para bombardear os leitores com mil incoerências pedindo desculpas à minha querida editora Joana D’Arck sei que ela vai dizer esse rapaz anda muito estiloso pra meu gosto mas espero que ela entenda que agora eu posso tudo ou quase tudo. Posso não torcer para o time de Dunga e Kaká posso aderir à “hinchada/barra brava” de Maradona e Messi posso me drogar de política nas eleições para presidente do Brasil ou na agitação da Bolívia e da Venezuela ou de amor ou de droga propriamente dita no rum/ron do Caribe no singani dos altiplanos bolivianos na cachaça brasileira se o fígado não aguentar mais posso fumar/beber drogas mais naturais posso até perguntar ao médico como aquele famoso teatrólogo qual é mesmo a drogra que posso consumir porque na verdade na verdade ninguém aguenta tanta sobriedade como diz uma amiga minha. Posso viver um novo sentimento de paixão dilacerante que está no ar provar de novo as emoções do alvorecer viver esse momento mágico após ser largado como um sapato velho pelo amor de tantos anos e eu desesperado mas nem tanto proclamar arranco você desgraçada da minha cabeça na vida tudo é provisório tudo passa por que só meu amor por você não passará? passou porque a natureza é como é não tem contraditório e o melhor está no agora posso desafiar os medos dos 50 a sensação da última oportunidade de amar um grande amor de viver uma revolução de saltar para o escuro destemido temerário desfrutar do resto da mocidade o grande amor pode ser o último como disse Balzac embora o grande romancista na vida real nesta disciplina da paixão homem/mulher tenha sido um fracasso. Posso me matar por que não? Sem deixar bilhete porque aí perde a graça pois a gente busca o tudo mas também busca o nada o infinito o absoluto o insondável os dois extremos se tocando como dizemos ou dizíamos nas intermináveis masturbações político/ideológicas. Posso mudar de mulher trocar de carro deixar o emprego passar a usar somente camisa social como meu pai posso dar de presente aquele velho relógio que Barretinho meu primeiro chefe no jornalismo me vendeu quando queria entortar sua vida e foi embora pro México posso deixar de usar relógio e carregar um computadorzinho chamado celular posso usar uns óculos mais modernos para ficar parecendo Jack Nicholson posso deixar o cabelo crescer como nos anos 60 meu chefe me chamava Gal Costa posso arranjar um álibi por não aderir ao Twitter e Facebook posso reler mais uma vez as assombrosas aventuras de Dom Quixote e Sancho Pança posso adquirir mesmo tardiamente o hábito de escutar música posso começar tudo de novo tabula rasa não tenho ideologia nem amor nem parente nem amigo nem mesmo conhecido sou um “cachorro sem dono” como disse meu amigo Demão lá da Chapada Diamantina posso voltar a estudar inglês posso me aposentar e iniciar um giro pela América Latina/Caribe posso dar a volta por cima ou por baixo e me transformar num esposo fiel pai extremoso e avô idem posso comprar um apartamento bonito se o dinheiro der se possível no Rio Vermelho posso arranjar uma profissão diferente fotógrafo por exemplo começar a fazer terapia posso comprar um pandeiro aprender percussão com os cubanos posso voltar a surfar na onda dos movimentos sociais ou ao contrário me quedar num canto qualquer calado mofando apodrecendo esperando a morte e parece que vou ter um infarto ou um AVC e vou parar por aqui porque já estou sem fôlego e o leitor coitado!
(Último texto escrito em Porto Espanha, capital de Trinidad e Tobago. Vamos ver se começo a “trabalhar” neste mundão chamado São Paulo, onde pretendo cobrir principalmente atividades dos movimentos sociais).
(Último texto escrito em Porto Espanha, capital de Trinidad e Tobago. Vamos ver se começo a “trabalhar” neste mundão chamado São Paulo, onde pretendo cobrir principalmente atividades dos movimentos sociais).
Comentários
Te adimiramos muito.
Beijo.
Beijos, abraços, extensivos ao nosso suíço/baiano JP.
Te amo
Heny