De Porto Espanha (Trinidad e Tobago) – Amiga, eis o teu poema. Você diz que a autoria é de um teu amigo. Pode ser. Você me pede para bolar um título: está aí, espero que goste. E me pede para publicá-lo, observando ser a cara do meu blog. O dono do blog agradece lisonjeado, torcendo para que seja apreciado por seus leitores:
“Então, quando pensei que o tamanho da dor me sufocava,
que me debatia debalde e a esperança era um fio se extinguindo...
O resgate aportou longe e foi chegando,
de forma imprecisa, provocante, arisca.
Seria o corpo de mulher?
Seria o povo de novo na rua?
Seria a revolução?
Pode ser o delírio do amor inacabado.
Pode ser o amanhecer do amor revisitado.
Pode ser o estertor do amor abortado,
abrindo veredas depois avenidas para o novo.
Quão belo, embora tardio, o dia da alegria, na canção de Vandré!
A vida batendo, perseguida, clandestinamente, no verso de Gullar.
As veias sangradas da América Latina, no ensaio pungente de Galeano.
Tu vens, de novo, esticando as fibras do meu coração.
Tu vens, de novo, buscando esperança, a excomungada, a olvidada,
porém inesgotável, sonhada, matada e sempre renascida.
Tu vens, de novo, e eu te quero, guloso...
e seremos milhões, no grito profético e visceral de Tupac Katari”.
Comentários
Bj.
Tupac Katari era indígena da nação Aymara (a mesma do presidente Evo Morales). Comandou, juntamente com sua mulher Bartolina Sisa (os dois são reverenciados como herois do povo boliviano), uma revolta indígena em 1781 contra os colonizadores espanhois. Houve um cerco histórico a La Paz. Mas acabou derrotado e foi morto de uma forma particularmente cruel: foi amarrado a quatro cavalos, postos em disparada para lados contrários. Antes da execução, disse: "Voltarei e serei milhões". A profecia se cumpriu, os povos originários hoje são milhões dirigindo a Revolução Democrática e Cultural da Bolívia.
Para os menos informados ou esquecidos: Vandré é o nosso cantor e compositor Geraldo Vandré; Gullar é o nosso poeta Ferreira Gullar; e Galeano é o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor de As veias abertas da América Latina.