Adversários de Evo têm péssima folha-corrida


Foto publicada pela Agência Boliviana de Informação ( http://www.abi.bo/#) , domingo passado (29 /11), em que o Presidente Evo Morales, encerra a Campanha Política na cidade de Llallagua ( Potosí) .


De La Paz (Bolívia) - O presidente Evo Morales Ayma, cuja reeleição no próximo domingo, dia 6, é considerada certa, tem como principais adversários uma dupla que exibe uma biografia barra-pesada: Manfred Reyes Villa e Leopoldo Fernández, candidatos a presidente e vice pelo Plano para Progresso da Bolívia – Convergência Nacional (PPB-CN).



Manfred Reyes e Leopoldo Fernández

Manfred continua em segundo lugar na última pesquisa da Ipsos Apoyo, Opinión y Mercado, divulgada a sete dias do pleito, com 18% das intenções de voto, enquanto Evo está com 55% (o governo diz que suas pesquisas apontam Evo com 67% a 70%). O destino mais provável de Manfred, portanto, não é ser presidente, mas sim ir para a prisão ou fugir do país, como prevê gente do governo. Ele é ex-prefeito (cargo que corresponde a governador no Brasil) de Cochabamba, foi reprovado no referendo revogatório de 2008 (o mesmo em que Evo foi confirmado como presidente com 67% dos votos).

Responde a processo por corrupção, fez parte do governo neoliberal de Gonzalo Sánchez de Lozada e é acusado de participação (é militar) no massacre de uma dezena de políticos de esquerda em 1980, dentre eles o líder socialista Marcelo Quiroga Santa Cruz. Foi na época da ditadura de Luis García Meza, que atualmente cumpre pena de prisão em La Paz.

UM CANDIDATO ATRÁS DAS GRADES - Leopoldo Fernández já está atrás das grades. É ex-prefeito de Pando (um dos quatro departamentos da chamada Meia Lua – chamam também Oriente e Nação Camba). Está preso, preventivamente, respondendo a processo como acusado inclusive de genocídio, no caso do massacre dos indígenas/camponeses em setembro/2008, quando da tentativa do golpe separatista.


Samuel Doria Medina
O terceiro na pesquisa, com 10%, é Samuel Doria Medina, grande empresário do ramo do cimento. Seu partido chama-se Unidade Nacional (UN). Ele e Manfred vivem defendendo a renúncia do outro, alegando que com uma só candidatura Evo teria um adversário mais competitivo e se poderia buscar um segundo turno. Mas cada um rechaça a proposta do outro. Além dos três, há mais cinco candidatos a presidente, os quais são mencionados muito raramente devido à inexpressividade eleitoral.

O vice-presidente de Evo, o professor e intelectual Álvaro García Linera, é também candidato à reeleição. Ele tem uma vida marcada pela militância de esquerda, sempre ligado aos movimentos indígenas, sendo autor de livros neste sentido. Foi preso político durante seis anos. O vice aqui, ao contrário do que ocorre no Brasil, tem ampla atuação política e administrativa. É, inclusive, encarregado de presidir o congresso.

DE OLHO NA MAIORIA DO CONGRESSO - Além do presidente e do vice, os cerca de cinco milhões de eleitores bolivianos vão escolher ainda os 166 membros do congresso. E uma parte desses eleitores vai decidir se aceita ou não a autonomia de cinco departamentos (estados), de uma região e de 12 municípios.




A grande expectativa do dia 6 de dezembro é a composição do congresso, já que o governo se empenha para conseguir uma maioria de 2/3, o que é encarado como fundamental para desatar os nós institucionais que ainda atrapalham o chamado "proceso de cambio" (processo de mudança). São 130 deputados e 36 senadores, quatro por cada um dos nove departamentos. Atualmente o governo tem maioria na Câmara dos Deputados, mas é minoria no Senado, onde a oposição consegue travar muitos projetos. O congresso passará a chamar-se Assembleia Legislativa Plurinacional, de acordo com a nova Constituição aprovada em janeiro deste ano.

AUTONOMIAS TAMBÉM EM JOGO – Quanto ao voto pelo Sim ou pelo Não, no capítulo das autonomias, são três tipos no caso deste pleito:
1 – Autonomia departamental - A consulta se dará nos departamentos de La Paz (o estado onde fica a cidade sede do governo tem o mesmo nome, La Paz – digo sede do governo porque, oficialmente, a capital do país é Sucre), Cochabamba, Potosí, Chuquisaca e Oruro. Nos outros quatro, da Meia Lua, Santa Cruz, Tarija, Pando e Beni, já houve tal consulta no ano passado, na ocasião da briga separatista.

Agora, nos moldes da nova Constituição, os estatutos autonômicos desses quatro departamentos terão que ser adequados. Significa que deverão ser adaptados aos princípios constitucionais, cuja receita básica é unidade e cooperação. Lembremos que tais estatutos foram elaborados sob a égide do separatismo, uma orientação totalmente diversa da atual (justamente por isso agora o governo de Evo Morales faz campanha em favor da autonomia).

2 – Autonomia regional – A consulta se refere apenas à província de Gran Chaco, do departamento de Tarija (aqui, além dos departamentos e municípios, há províncias e cantões).

3 – Autonomia municipal – Somente para os habitantes de 12 dos 327 municípios bolivianos. O eleitor vai dizer se aceita que seu município entre "no regime de autonomia indígena originário camponesa" (não sei exatamente o que isso quer dizer).

O que significa optar pela autonomia? De modo geral, significa que o departamento (ou a província, ou o município) terá mais liberdade administrativa e financeira, uma forma de descentralização - o governo federal e o congresso transferem atribuições aos governos locais.

(ENCERRAMENTO DA CAMPANHA - Evo Morales e Álvaro Linera estão na fase de grandes concentrações para encerrar a campanha eleitoral. As duas últimas serão em locais de forte simbologia: na quarta-feira, dia 2, será em Santa Cruz de la Sierra (capital de Santa Cruz), que foi (ou é, vamos ver o resultado da eleição) a grande trincheira da direita; e na quinta, dia 3, em El Alto, a cidade de um milhão de habitantes que é, de fato, um grande subúrbio de La Paz e a combativa vanguarda da Revolução Democrática e Cultural, como é chamado o processo revolucionário da Bolívia).

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