Adeus Bolívia!


Paseo El Prado (foto de Deta)


De La Paz - Que significa Bolívia? “Bolívia é um amor desenfreado”. Esta definição é do libertador da hispano-américa, Simón Bolívar (o nome do país, claro, vem do nome do libertador, que foi o seu primeiro presidente após a independência, em 6 de agosto de 1825). Já ouvi a frase algumas vezes, citada pelo presidente da Venezuela (terra de Bolívar), Hugo Chávez, o principal líder anti-imperialista da América Latina, um dos alvos preferenciais da mídia capitalista.



Falando em anti-imperialismo, li outro dia aqui no Cambio, jornal estatal (é bom ter à disposição, todos os dias, um jornal estatal de um governo revolucionário), uma verdade lapidar: vivemos, os latino-americanos, sob cerco militar e midiático. Verdade lapidar. Para resistir, só o povo mobilizado e organizado, o povo nas ruas, a insurgência popular. Sem isso, estamos f...ritos.



Bem, pra mim, Bolívia (estou pensando em La Paz) são duas coisas: revolução e altura. Revolução porque (para usar uma linguagem simples, poderíamos dizer, jornalística), o país tem um presidente - o “furacão Evo”, como chamou o La Prensa, um dos principais jornais bolivianos, em manchete de 7 de dezembro, dia seguinte às eleições – que “manda obedecendo”.



Todo presidente manda obedecendo. A alguém, a alguma coisa, tudo bem.O diabo é que grande parte dos presidentes manda obedecendo aos mais ricos, às empresas transnacionais (as que mandam ou querem mandar no mundo, sem que para isso tenham se submetido a qualquer tipo de consulta ao povo), enfim, para abreviar, ao império dos Estados Unidos.

 Alto, vista de La Paz (foto minha)


Mas o “índio” Evo Morales Ayma manda obedecendo aos mais pobres, aos movimentos sociais, aos seus “hermanos” povos originários/camponeses, aos mineiros, aos trabalhadores. Você duvida? Eu acredito. E pude sentir aquele gostinho da velha e maltratada utopia na Praça Murillo, na festa da vitória, na noite de 6 de dezembro, milhares de bolivianos e bolivianas aplaudindo seu presidente, pulando, dançando e gritando: “Socialismo... socialismo... socialismo”.



Revolução porque eu estava ali na multidão, emocionado, de vez em quando me lembrava que virei repórter depois de aposentado, e tirava um “papelito” do bolso e anotava alguma coisa. Mas... teve uma hora, no decorrer da festa, que o animador de auditório começou a homenagear os diversos “hermanos” latino-americanos ali presentes. Quando citou os brasileiros, não vi ninguém se manifestar, levantei o braço direito, punho fechado, naquele gesto significativo, recebendo sorrisos de simpatia ao meu redor.

La Paz, vista de El Alto (foto de Deta)


Revolução e altura. Altura porque os 3.600 metros acima do nível do mar de La Paz maltrataram bastante o meu coração (em El Alto, a cidade de um milhão de habitantes que é, de fato, um grande subúrbio de La Paz, é pior, são 4.000 metros). Que saudade da minha velha e boa saúde! É um baticum desenfreado do coração, sangramento pequeno, mas constante da mucosa nasal, pele e lábios ressecados, um cansaço dos diabos, deixei de dar minhas caminhadas, acho que não engordei porque o apetite também não é lá grande coisa. Além da pressão alta (controlada), me apareceu até pressão baixa.



Conclusão: resisti bravamente até as eleições, valeu, porém La Paz nunca mais! Nunca mais um passeio pelo Paseo El Prado, meu ponto predileto por aqui, nunca mais o olhar para o alto, para El Alto, para os morros ao redor, com suas casas e edifícios de tijolo sem reboco, a paisagem que mais me impressionou em La Paz (vista lá de cima, de El Alto, La Paz fica num buraco).



“Entonces”, nunca mais! Adeus Bolívia! Longa vida à Revolução Democrática e Cultural do insurgente povo boliviano!

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