Façanha boliviana

Fila para registro no Paseo El Prado, a dois dias do encerramento
De La Paz (Bolívia) – As eleições de 6 de dezembro na Bolívia têm um componente inédito, a adoção de um tal registro biométrico dos eleitores. Nas últimas duas semanas, o “padrón biométrico” (uma tecnologia moderníssima, com digitais, fotos e assinaturas digitalizadas) rendeu seguidas manchetes de primeira página em todos os jornais daqui. Até o dia 17, já que o prazo para inscrições encerrou-se no dia 15, lá para a meia-noite.

Mas é claro que o destaque não é por causa da tecnologia moderna, mas pela luta política que envolveu o tal padrão. Ele foi adotado por exigência da oposição, numa espécie de chantagem para tentar inviabilizar o pleito de dezembro, previsto na nova Constituição aprovada em janeiro deste ano. Os oposicionistas, que têm maioria no Senado, argumentaram que só aprovariam a realização das eleições com o novo registro dos eleitores, já que o então existente estava cheio de irregularidades, o número de inscritos inchado – chegaram a dizer que estavam votando pessoas já mortas e recém nascidos. Daí – denunciavam -, a vitória de Evo Morales nas urnas.

Diziam mais: que o novo registro ia mostrar que os aptos a votar não passariam dos 3 milhões (os inscritos estavam em 3,8 milhões. A população do país é mais de 9 milhões – encontrei na Internet 9,2 milhões e 9,6 milhões). A oposição jogava com a certeza de que era impossível fazer toda a reformulação das inscrições num prazo de dois a três meses e ainda faltava dinheiro para o trabalho. Houve um impasse. O presidente Evo Morales chegou a fazer uma greve de fome, lembram?

EVO “DESVIA” US$ 40 MILHÕES DA COMPRA DE AVIÃO - Quase todos concordavam que era impossível introduzir o novo padrão. O governo hesitou e, afinal, decidiu: topou o desafio. Evo Morales chegou a “desviar” 40 milhões de dólares, que seriam para a compra de um novo avião presidencial, para custear a trabalheira.

Pois bem. O número de eleitores, no badalado padrão biométrico, à medida que ia se aproximando o prazo fatal, dia 15, ultrapassou os 3 milhões (sonhados pela oposição), chegou aos 3,8 milhões (meta considerada ideal) e foi, foi subindo até bater, no final, nos praticamente 5 milhões (4.997.172). Na última semana, tinha manchete de jornal todo santo dia. Eu mesmo cheguei a fazer uma referência ao número de eleitores, aqui no blog, em torno de 4,5 milhões. (Está em curso agora um trabalho de depuração, revisão, para corrigir possíveis irregularidades).
Nos 5 milhões estão incluídos 170 mil registrados em nove cidades de quatro países (pela primeira vez vão votar bolivianos residentes no exterior): Argentina, Espanha, Estados Unidos e Brasil, onde houve inscrições somente em São Paulo – 18.618 votantes.

José Antonio Costas (foto reproduzida do jornal La Razón)


“UM MILAGRE DESTE PAÍS” - O presidente da Corte Nacional Eleitoral (CNE), José Antonio Costas, um dos herois da façanha, em entrevista ao jornal La Razón (privado, considerado o mais lido da Bolívia), declarou: “Eu creio que é um milagre deste país”. E após algumas considerações, acrescentou: “...e digo que é um milagre apesar de ser engenheiro, porque normalmente somos os mais descrentes”. (Talvez parte do ”milagre” possa ser atribuída às virtudes da mobilização popular numa democracia participativa).
A entrevista - onde Costas diz ter folgado, nos últimos meses, apenas “uns quatro domingos”, nenhum sábado, com jornadas sempre acima das 12 horas – está num caderno especial da edição do dia 16, cuja manchete é “Êxito” (já disse que o La Razón é privado, tem posição crítica diante do governo).

No mesmo caderno, há uma materinha esclarecedora. É com o ex-presidente da CNE, José Luis Exeni, que renunciou ao cargo (alegando “razões pessoais”) 15 dias depois do Congresso ter autorizado o pleito de 6 de dezembro, com o padrão biométrico. Na verdade, só há uma frase de Exeni: “Não vou fazer nenhum comentário ainda”.

Mas na matéria é lembrado que, na época da polêmica sobre a adoção do novo registro, o então presidente da Corte tinha declarado, baseado em cálculos muito otimistas, que a trabalheira com o novo padrão só estaria concluída, na melhor das hipóteses, lá para o dia 8 de janeiro de 2010, mais de um mês, portanto, após a data das eleições.

Igual, igualito

Um anúncio numa rua central de La Paz:
“Maestro (mestre) consejero Don Justo
Lee su suerte
En: coca, naipe, alcohol y cigarro
Para: negocio, trabajo, viaje, matrimonio, amor y general (geral)”.

Peço licença para um PARÊNTESE EXISTENCIAL

A solidão, a morte e a filosofia

Não importa se estamos sós ou cercados de amigos e familiares, a morte é um anti-ato de solidão extrema.

Comentários

EI..
me explica melhor esse seu parenteses...
abraço!!
Unknown disse…
Amor, que viagem foi essa? não entendi nada desse final. Pare de mascar essa folha.
Jadson disse…
Amoreco, tive um ataque de riso quando li seu comentário. Já parei de mascar a coca, mas quando pensei o pensamento acho que ainda estava mascando.
Companheiro Jonas (Zoclinho), vc é chegado nessas coisas existenciais, transcendentais, estudioso da Filosofia, não sei se conseguiria explicar. Me bateu, assim de repente, que o cara quando tá morrendo, se sente, irremediavelmente, só. Alguém, espírito de porco, poderia me perguntar: como vc sabe? Boa pergunta.
(Parece que meu "brilhante" Parêntese existencial ofuscou meu Façanha boliviana).
Mônica Bichara disse…
Deta, melhor você antecipar a viagem que seu Moreco tá dispirocando com essas folhas. Esse "brilhante parêntese", segundo o filósofo Araka Pinga, é coisa de boiola. Desculpa, companheiro, mas não resisti. beijos
Jadson disse…
Mônica, muito bem, gostei, não imaginei que meu "brilhante parêntese" me renderia tanta risada. Pero, companheira, evidentemente, Araka é gente boa, mas não o considero um "filósofo" respeitável.
De qualquer forma, pelo sim, pelo não, já parei com a coca.