De Assunção (Paraguai) – "Vai chegar a hora, e não vai demorar, em que o povo paraguaio organizado vai sair às ruas e exigir a reforma da Constituição". A previsão é de Darío Ramos (foto), um dos dirigentes da Coordenação Nacional dos Sem-Teto (Coordinadora Nacional de los Sintechos – CNST), ao apontar o Parlamento e a Justiça como as travas que impedem as mudanças sociais e políticas exigidas pela maioria da população e prometidas pelo então candidato e hoje presidente Fernando Lugo. A reforma constitucional é encarada como fundamental para tais mudanças.
Enquanto isso – e aí está o "x" da história -, as forças populares articulam a mobilização, pois sabem que a garantia das mudanças está no povo nas ruas. Darío Ramos arrola as forças: são ao todo 30 organizações nacionais de sem-teto - a CNST é uma delas, a maior; mais o Movimento Campesino Nacional Organizado (MCNO) - os sem-terra daqui -, o movimento dos professores, dos advogados e a Central Nacional dos Trabalhadores (CNT).
"Vamos mobilizar 300 mil pessoas para sair às ruas", prevê. Não seria sonho, otimismo demais, como mobilizar tanta gente? "Há muita necessidade e sede de justiça", responde Darío, acrescentando: "Não se esqueça que o povo elegeu um bispo para a mudança" (em espanhol, o "cambio", a palavra mais repetida por aqui, e pela América Latina, nos discursos da esquerda). E vai chegar o momento, diz ele, em que Fernando Lugo vai chamar o povo às ruas para que possa cumprir seu programa de governo.
Por falar em mobilização, a Coordenação Nacional dos Sem-Teto (CNST) levou nesta quarta-feira, dia 9, cerca de 500 pessoas às ruas centrais de Assunção para cobrar mais ação do governo Fernando Lugo। Os manifestantes saíram, por volta das 10 horas, das imediações do Palácio da Justiça e, depois de percorrerem trechos de quatro ruas, umas 20 quadras, se concentraram em frente à sede da Secretaria de Ação Social (SAS), ligada à Presidência e encarregada dos serviços que interessam diretamente aos sem-teto.
A cobrança está fundamentada em três pontos básicos: a compra de terras para construção de casas, a construção de casas em terrenos já comprados pelo governo e a viabilização, gratuitamente, dos documentos de posse no caso das famílias já assentadas. Lideranças e representantes de assentamentos – 20 são mantidos pela CNST – discursaram. O principal líder do movimento, Gilberto Cáceres, reclamou que até agora a SAS
só aplicou 7% do seu orçamento previsto para este ano।
Mas não houve qualquer atrito e tanto os policiais como os manifestantes pareciam bem à vontade. O repórter conversou amistosamente com alguns policiais e dois oficiais.
O segundo aspecto é o idioma utilizado pelos oradores. É apelidado de "guarañol", mistura do guarani com o espanhol, as duas línguas oficiais do Paraguai. Para quem conhece um pouco o espanhol, a compreensão do discurso fica limitada a uns 10 a 20%. Os manifestantes (e os policiais), no entanto, entendiam perfeitamente. (Uma repórter da TV Telefuturo – canal 4, sinal aberto, ou canal 7, TV a cabo -, que cobria o evento, me disse que ela compreendia pouca coisa, um membro da equipe traduzia para ela. Comentou que 90% dos pobres falam o guarani).
No final, os sem-teto deslocaram-se umas quatro quadras na área central da cidade e foram para a Praça da Independência, em frente aos dois prédios que abrigam a Câmara dos Deputados e o Senado. Ali aguardariam o informe de uma comissão que, às 15 horas, teria audiência com o chefe de Gabinete do presidente Lugo, Miguel López Perito.
Ele avalia que os latifundiários, os sojeiros (plantadores de soja) e os narcotraficantes continuam fortes no poder, inclusive dentro do governo Lugo। E manobram, através de seus representantes no Legislativo, no Judiciário e nos partidos políticos, para bloquear a ação do governo e frustrar as expectativas do povo। Depois, tentarão recuperar a presidência com o bordão: "Aí está o presidente que vocês elegeram!"
Por isso – explica Darío Ramos -, o governo está negociando com os dissidentes internos dos partidos considerados de direita – Partido Colorado, que ficou no poder durante 60 anos, incluindo os 34 da ditadura Stroessner; Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), que apoiou Lugo na eleição; e União Nacional dos Cidadãos Éticos (Unace, nascida de uma dissidência dos colorados liderada pelo general Lino Oviedo). Nesta ordem, são os três partidos mais fortes no Congresso.
Terra para construção de casas (Limpio é o nome do lugar)
Terra para construção de casas (Limpio é o nome do lugar)
Os governistas – seguindo o raciocínio do dirigente da CNST - acreditam que atraindo tais dissidentes, somados aos deputados e senadores de partidos pequenos mais à esquerda, é possível ao governo costurar uma maioria parlamentar। Isso viabilizaria a atuação rumo às transformações, incluindo as requeridas na Justiça, cujo processo de formação de sua Corte Suprema está imerso hoje numa rumorosa polêmica.
Concentração diante da Secretaria de Ação Social
Enquanto isso – e aí está o "x" da história -, as forças populares articulam a mobilização, pois sabem que a garantia das mudanças está no povo nas ruas. Darío Ramos arrola as forças: são ao todo 30 organizações nacionais de sem-teto - a CNST é uma delas, a maior; mais o Movimento Campesino Nacional Organizado (MCNO) - os sem-terra daqui -, o movimento dos professores, dos advogados e a Central Nacional dos Trabalhadores (CNT).
"Vamos mobilizar 300 mil pessoas para sair às ruas", prevê. Não seria sonho, otimismo demais, como mobilizar tanta gente? "Há muita necessidade e sede de justiça", responde Darío, acrescentando: "Não se esqueça que o povo elegeu um bispo para a mudança" (em espanhol, o "cambio", a palavra mais repetida por aqui, e pela América Latina, nos discursos da esquerda). E vai chegar o momento, diz ele, em que Fernando Lugo vai chamar o povo às ruas para que possa cumprir seu programa de governo.
Observação: Darío Ramos não inclui os veículos da imprensa entre os protagonistas da direita। Afirma que no Paraguai eles são meros caudatários dos partidos. Relaciona: o ABC, o jornal mais lido, é ligado à Unace; o Última Hora (cita juntando com a TV Telefuturo) ao Colorado; e La Nación também aos colorados. Os três jornais, considerados os "sérios" do país, batem sempre no governo Lugo e massacram, impiedosa e diariamente, em várias matérias da mesma edição, o presidente venezuelano Hugo Chávez, não perdendo oportunidade de lembrar que se trata de amigo do presidente paraguaio.
Os manifestantes na fria manhã de Assunção
Gilberto Cáceres, o principal líder dos Sem-Teto do Paraguai
Cobrando mais ação do governo
Por falar em mobilização, a Coordenação Nacional dos Sem-Teto (CNST) levou nesta quarta-feira, dia 9, cerca de 500 pessoas às ruas centrais de Assunção para cobrar mais ação do governo Fernando Lugo। Os manifestantes saíram, por volta das 10 horas, das imediações do Palácio da Justiça e, depois de percorrerem trechos de quatro ruas, umas 20 quadras, se concentraram em frente à sede da Secretaria de Ação Social (SAS), ligada à Presidência e encarregada dos serviços que interessam diretamente aos sem-teto.
A cobrança está fundamentada em três pontos básicos: a compra de terras para construção de casas, a construção de casas em terrenos já comprados pelo governo e a viabilização, gratuitamente, dos documentos de posse no caso das famílias já assentadas. Lideranças e representantes de assentamentos – 20 são mantidos pela CNST – discursaram. O principal líder do movimento, Gilberto Cáceres, reclamou que até agora a SAS
só aplicou 7% do seu orçamento previsto para este ano।
"Paredão" dos policiais e o corredor para os carros
APARATO POLICIAL E "GUARAÑOL" - Dois aspectos chamam a atenção do estrangeiro, no caso o repórter। O primeiro foi o enorme aparato policial na frente da SAS, desproporcional ao número de manifestantes। A situação era tão estranha que o "paredão" de policiais cercava literalmente a concentração e tirava quase toda a visibilidade de quem passava ou parava para assistir ao protesto, além de garantir um corredor para os carros।
Mas não houve qualquer atrito e tanto os policiais como os manifestantes pareciam bem à vontade. O repórter conversou amistosamente com alguns policiais e dois oficiais.
O segundo aspecto é o idioma utilizado pelos oradores. É apelidado de "guarañol", mistura do guarani com o espanhol, as duas línguas oficiais do Paraguai. Para quem conhece um pouco o espanhol, a compreensão do discurso fica limitada a uns 10 a 20%. Os manifestantes (e os policiais), no entanto, entendiam perfeitamente. (Uma repórter da TV Telefuturo – canal 4, sinal aberto, ou canal 7, TV a cabo -, que cobria o evento, me disse que ela compreendia pouca coisa, um membro da equipe traduzia para ela. Comentou que 90% dos pobres falam o guarani).
No final, os sem-teto deslocaram-se umas quatro quadras na área central da cidade e foram para a Praça da Independência, em frente aos dois prédios que abrigam a Câmara dos Deputados e o Senado. Ali aguardariam o informe de uma comissão que, às 15 horas, teria audiência com o chefe de Gabinete do presidente Lugo, Miguel López Perito.
Comentários
que interessante. Eu estou começando a acreditar que o futuro será diferente quando se fala em política, pois ja é uma grande conquista policiais e manifestantes não se agredirem mutuamente....
um forte abraço.. vamos em frente companheiro!