Bandeiras vermelhas do PC


Foto reproduzida da 1a. página do jornal La Nación


Calma, camaradas comunistas, não é o PC que vocês estão imaginando. É o Partido Colorado, a direitona paraguaia. Eles têm bandeira vermelha e, pra completar, ainda têm uma estrelinha daquela que ficou famosa no Brasil com o Partido dos Trabalhadores (PT). (Na verdade, eles não usam a sigla PC, mas a ANR, Associação Nacional Republicana, entidade que mantém o partido).
Os colorados festejaram na sexta-feira, dia 11, os 122 anos de fundação do partido e lotaram a Praça da Democracia, no centro de Assunção। Muita gente – o jornal La Nación estimou em 10.000 pessoas, eu arriscaria um número maior – e, é claro, milhares de bandeiras vermelhas tremularam em homenagem à sua "gloriosa história".


Primeira página do La Nación de sábado, dia 12



Foi naquele esquemão de jogo de luzes, queima de fogos, telão gigante, muito som e apresentação de artistas populares. As diversas estrelas da centenária agremiação estavam lá. Antes do show, foi colocada, solenemente, uma enorme coroa de flores no Panteão dos Herois. No meio do show, o único pronunciamento, da presidente do partido, senadora Lílian Samaniego, que fez um chamamento à unidade visando retornar ao poder em 2013 (o mandato presidencial aqui é de cinco anos).
(Pelo que venho acompanhando nos jornais, eles carecem mesmo de unidade। Na última quinta-feira, dia 10, por exemplo, véspera da comemoração, dois senadores colorados tiveram um bate-boca terrível em plena sessão do Senado)
O Partido Colorado é muito conhecido por ter se "eternizado" no poder no Paraguai durante 60 anos ininterruptos (incluindo os quase 35 da tenebrosa ditadura de Alfredo Stroessner – 1954/1989), barrado no ano passado por Fernando Lugo e sua Aliança Patriótica para a Mudança। Veio de suas entranhas a União Nacional dos Cidadãos Éticos (Unace, que no início, aliás, era "dos Colorados Éticos"), liderada pelo general reformado Lino Oviedo, hoje a terceira força parlamentar do país (depois dos colorados, também da oposição, e dos liberais, governistas).

EXISTE DIREITA NO BRASIL? - Creio haver um aspecto admirável nessa coisa dos colorados estarem em praça pública festejando o 122º। aniversário। Uma "elite branca" com um certo brio, uma certa coerência, não? Claro que eles hoje arrotam defender os princípios democráticos, etc, etc, mas vamos lá.

É sempre escorregadio a gente comparar, mecanicamente, fatos históricos de dois países sem a devida contextualização, mas não agüento a tentação. Dá pra lembrar os udenistas brasileiros (União Democrática Nacional – UDN), direitistas, entreguistas, golpistas por excelência (seu líder mais notável foi Carlos Lacerda). Pois bem, depois de ajudarem o golpe de 1964, tiveram seu partido extinto pela ditadura. Em seguida, a maioria dos udenistas se aglutinou na Arena, depois PDS, ambos paridos pela mesma ditadura.
Veio então a chamada redemocratização. Por que os udenistas não tiveram coragem de recriar a antiga UDN? Preferiram outra sigla, o PFL, logo depois outra, o DEM (Democratas, que palavra prostituta! Que me perdoem as prostitutas, vocês são anjos bons diante dos demos). É muita sigla, muita falta de brio, não?

A doideira do futebol


Praça da Democracia no dia do jogo Paraguai x Argentina
Por aqui a paixão pelo futebol é a mesma coisa do brasileiro. Já mostrei em matéria anterior a cidade enfeitada com bandeiras do país e camisas da seleção. Na quarta-feira, dia 9, quando o Paraguai garantiu sua classificação para a Copa do Mundo na África do Sul, ao vencer a Argentina por 1 a 0, foi muita festa. Houve "carnaval" no centro de Assunção (Praça da Democracia, Palma, rua considerada turística, e imediações) logo em seguida ao jogo, varando a madrugada.
O presidente Fernando Lugo - nosso ex-bispo católico famoso não só por ter derrubado o domínio de 60 anos do Partido Colorado, mas também por ter se revelado um grande namorador - entrou em campo depois do jogo, devidamente paramentado com as cores da "albirroja", e decretou, à noite mesmo, um tal de "asueto" - que deve ser o mesmo que o nosso ponto facultativo nas repartições públicas - para o dia seguinte.
No dia do jogo, os três jornais considerados "sérios" (ABC, Última Hora e La Nación) deram sua primeira página todinha para o "fútbol", não houve uma única chamadinha pra outro assunto. Nos outros, uns três ou quatro, dedicados ao que se costuma chamar de temas populares (futebol, polícia, sangue, fofoca de artista e celebridade, novela, etc), nem é preciso falar. A grande repercussão está ligada ao fato da classificação ter sido sofrida, a vitória sobre a Argentina (1 a 0, gol de pênalti) foi decisiva. O Brasil, ao contrário, jogou contra o Chile, em Salvador-Bahia, com a classificação já assegurada.
Um detalhe: todos os jornais diários daqui (acho que são sete) são naquele formato menor, moderno (esqueci o nome exato, criado pelos especialistas, pra variar em inglês), como o Jornal do Brasil atual, o Correio (antigo Correio da Bahia) e O Estado do Paraná.

Um dólar vale 5।000 guaranis



Cotações oficiais pelo centro de Assunção
E um real vale mais ou menos 2।500 guaranis. É essa nova realidade que você tem logo que se habituar quando chega a outro país. A correspondência da moeda local com o dólar e o nosso real. Esta relação no título e na abertura se refere, claro, ao Paraguai. Veja as cotações na foto que deve ilustrar a matéria: dólar, euro, real e peso argentino. Portanto, não há qualquer dificuldade de trocar o real diretamente para o guarani. Mas, regra geral, o melhor é ter dólar em mãos. Se o visitante vai demorar mais de 15, 30 dias, penso que o mais cômodo é ter saldo bancário no Brasil e cartão internacional para saque.

Quanto às cotações, estou tratando do mercado oficial, não vou me arriscar nos esquemas ilegais। Mesmo assim, há variações. No aeroporto, quando cheguei, topei o dólar cotado a 4.000 guaranis (no centro da cidade, está sempre em torno de 5.000). Informação importante: do aeroporto ao centro de Assunção, o preço oficial do táxi está em 90.000 guaranis. Por que é importante? Porque é o momento mais propício para uma "facada" do taxista no "turista" que chega pela primeira vez à cidade (me lembro que em Caracas, nessa circunstância, paguei um valor muito superior ao normal).

É comum – creio que no caso de valores maiores – que se diga o preço em dólar, depois se transforma em guarani। Foi minha experiência, por exemplo, nos hotéis três estrelas pelo centro de Assunção. Preços: diária para solteiro na base de 34, 28 ou 26 dólares, com café da manhã. Se pagar com cartão de crédito, eles acrescentam 10%.

Alguns preços do meu dia-a-dia: jornais considerados "sérios" – 5.000 guaranis; os de sangue, futebol e fofoca – 2.500; uísque oito anos – 20.000; chopp grande – 6.000; cerveja Brahma – 12.000 (quase 5 reais); garrafinha de água mineral, 500 ml – 1.300; almoço em lugar simples – 10.000/15.000; num restaurante melhorzinho – 25.000/30.000. (Quem me conhece sabe que ando, preferencialmente, em lugar simples, a não ser quando tenho que tomar um uisquezinho).



Campanha com figuras de destaque da direita


Pela democracia participativa
O Partido do Movimento ao Socialismo (P-MAS) – ou mais especificamente a sua Juventude Socialista – vem fazendo uma campanha denunciando a "democracia de maquiagem" (de fachada). Na verdade, é aquela coisa que a esquerda volta e meia levanta sobre as limitações da democracia representativa, a chamada democracia burguesa, onde o povo aparece só pra votar e depois desaparece de cena. Defende em contraposição a democracia participativa, ou seja, com referendos, plebiscitos, o povo nas ruas, organizado, etc.
(Que meu amigo Heitor Reis, de Belo Horizonte, bravo guerreiro cibernético, não me leia, pois ele abomina tais conceituações. Diz simplesmente, com rigor científico conceitual, que no Brasil, por exemplo, não há democracia nenhuma, não adianta seguir ao substantivo um adjetivo qualquer। O que há é, sem tirar nem pôr, uma ditadura do poder econômico).



Cartazes do P-MAS, bandeiras e "sedução" para o consumidor



A "democracia de maquiagem" – denuncia a esquerda - vive amarrando as mãos do presidente Fernando Lugo, que foi eleito pela massa mais pobre com um avançado programa de mudanças sociais e políticas. Mas, há um ano e pouco na Presidência, está enredado nos nós atados pela direita – o Parlamento, a Justiça, os partidos políticos, a mídia. Aparentemente, os espaços institucionais de ação de Lugo são mais estreitos do que os de Lula no Brasil, por exemplo, embora as perspectivas de mobilização popular por aqui pareçam mais viáveis.
Os militantes da Juventude Socialista do P-MAS lembram que está na Constituição paraguaia a referência explícita à democracia participativa. Citam: "A República adota para seu governo a democracia representativa, participativa e pluralista, fundada no reconhecimento da dignidade humana".
O P-MAS, pelo que pude entender até agora, é um partido diminuto, de pouca influência, sem representação parlamentar. Faz parte da Aliança Patriótica que elegeu Lugo. (Para melhor compreensão do leitor brasileiro, talvez possamos compará-lo ao nosso PSTU - faz barulho, é combativo, mas pouco influente. Entretanto, é sempre bom estar atento às peculiaridades da realidade de cada país e política é um troço bem complicado).
Bem, pra completar: acontece que a campanha contra a "democracia de maquiagem" ganhou uma repercussão aparentemente inesperada. Uma entidade da direita, Fundação Liberdade, tomou as dores e respondeu com outra campanha: "A democracia que nos oferecem". O alvo principal, óbvio, é Fernando Lugo, que aparece nos cartazes como Pôncio Pilatos, lavando as mãos diante da figura de Barrabás, que representa as mazelas que esmagam o povo paraguaio.
Em resumo: como diz um dos líderes dos Sem-Teto, Darío Ramos, entrevistado por este blog (matéria anterior), eles impedem Fernando Lugo de cumprir as promessas de campanha e depois dizem: "Aí está o presidente que vocês elegeram".

A pilha paraguaia
O companheiro Rui Baiano, morando ultimamente em Ananindeua (região metropolitana de Belém, Pará), ao saber que estou em Assunção, me alertou: "Cuidado com o uísque paraguaio!" Pois é, o uísque não sei, mas já caí no conto da pilha paraguaia.


Comprei dois pares (quatro) na mão do camelô, baratinho, baratinho, por 8.000 guaranis (quase 4 reais), daquela média (AA), alcalina. Antes, vinha comprando um par (duas) por 10.000 guaranis. É pra minha maquininha fotográfica digital. Comprei e fui fazer a cobertura da manifestação dos sem-teto, na quarta-feira, dia 9 (matéria já aí no blog). Quando liguei a maquininha, nada, na tela o aviso: trocar bateria. "Porra, é o famoso produto paraguaio, perdi 8.000 guaranis", pensei e corri em busca de uma loja pra comprar outra.

Comentários

Jadson disse…
Há um erro no final do primeiro parágrafo da matéria "Pela democracia participativa". Onde está "Defende em contraposição a democracia representativa, ou seja, com referendos, plebiscitos, o povo nas ruas, organizado, etc", o correto é "Defende em contraposição a democracia participativa, ou seja..."
Unknown disse…
Vc caiu no conto da pilha paraguaia. O presidente Lugo no da camisinha. É bom tomar cuidado.
Bj grande.
Anônimo disse…
Gostei da matéria sobre a organização dos Colorados. Realmente a organização e coerência política da direita brasileira parece ter sido sempre fraca. Enquanto o esquerdista pelo menos conhece e reproduz a vulgata marxista, o de direita nunca nem ouviu falar em Locke, Smith ou Maquiavel.

Saudades,

Fabiano
Jadson disse…
Amoreco, estou sempre atento, mas desconfio que já tomei um uísque 8 anos (o Red) com um gosto não muito confiável. Por precaução, passei pro 12 anos, como te falo num e-mail.
Fabiano, essa "invisibilidade", essa falta de explicitação da direita brasileira há muito tempo me intriga, um processo de deseducação política espantosa. Hoje mesmo li uma matéria na imprensa brasileira (pela internet), o nosso presidente Lula dizendo que na eleição de 2010 pra presidente não vai haver candidato de direita. "Será impossível!!??", como dizia aquela nossa vizinha lá no subúrbio de Itacaranha (vc não deve se lembrar, era muito pequeno, mas Eni com certeza se lembra).
Anônimo disse…
Lembro da vizinha de vocês falarem apenas. Quanto ao tema, me parece que tem a ver com a despolitização da população brasileira, que nunca aprendeu a tomar partido nas decisões públicas. Assim existem grupos de interesse (cujo principal interesse é se manter no poder), mas sem tantas preocupações de nível ideológico. É só ver os quadros dos partidos brasileiros ao longo do século XX, são quase sempre os mesmos nomes só que em filiações diferentes.

Saudades,

Fabiano
Meu caro Jadson, o whisky paraguaio é o começo de tudo, o cabra toma uma "meiota" ai acha tudo barato e sai comprando gato por lebre, pela manhã, descobre que foi lesado é a resaca "paraguaia", dá em qulaquer lugar, todo respeito ao povo paraguaio.
abraços