Pressão popular contra latifúndio midiático IV


Entrevista (cont.)


A singularidade da Internet



P – Que peso teria a Internet nos embates que serão travados no processo da Confecom?
João Paulo Mehl - O que torna a internet singular é a tal quebra do pólo emissor - ou seja, dadas algumas condições infraestruturais básicas, qualquer pessoa pode se tornar um emissor de mensagens, disponibilizando na rede suas opiniões e pontos de vista। Sendo assim, a lógica dos meios de comunicação de massa, em que há um emissor e milhões de receptores passivos, é posta em xeque। Além disso, a internet propicia o acesso à informação de forma não linear, permitindo ao usuário uma posição mais pró-ativa durante a navegação। Dessa forma, a mobilização por meio desta mídia não esbarra nos filtros comuns dos veículos de comunicação comerciais। A recente articulação para barrar o PL do Azeredo (projeto de lei do senador Eduardo Azeredo, do PSDB-MG, que pretende "censurar" o uso da internet) demonstra, na minha opinião, que os cidadãos atrás dos computadores conectados à internet podem cumprir papel central no debate da democratização dos meios e da popularização do processo de conferência, sensibilizando e trazendo opiniões importantes para o debate।

Reunião no Salão Nobre da APP-Sindicato (dos professores)

P – Para os que efetivamente necessitam de recursos públicos para participar dos trabalhos, o que significa o corte de R$ 8,2 milhões para R$ 1,6 milhão no orçamento da conferência?

João Paulo Mehl - A Comissão Nacional Pró-Conferência de Comunicação (CNPC) protocolou junto ao Ministério das Comunicações, no dia 9 de junho, documento em que repudia o corte de verbas anunciado। Esta posição é resultado de um amplo debate que as comissões estaduais e nacional vêm fazendo। Tal corte interfere diretamente nas expectativas de realização da Confecom, podendo, inclusive, inviabilizá-la, já que a participação dos vários setores da sociedade distribuídos pelo Brasil fica dificultada, para dizer o mínimo। É uma limitação enorme e que deve ser revertida। Nosso papel, neste momento, é pressionar o Governo Federal para rever este corte, pois ele deixa claro que existem forças no próprio governo resistentes a fazer as necessárias mudanças no sistema de comunicação brasileiro .

P – Houve algum tipo de consulta do Ministério das Comunicações para definir os membros da Comissão Organizadora da Confecom?

Rachel Bragatto - Em abril, durante seu seminário, a CPC/PR manifestou-se acerca da definição dos membros da Comissão Organizadora, prevista na portaria 185. Conforme está em nossa nota pública, "de 26 membros, dez são representantes do poder público e 16 da sociedade civil, sendo que apenas sete são representantes da sociedade civil não empresarial: ABCCOM (Associação Brasileira de Canais Comunitários), Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária), CUT (Central Única dos Trabalhadores), Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Fitert (Federação Interestadual dos Trabalhadores de Empresas de Radiodifusão e Televisão), FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação) e Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social. A Abepec (Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais) é, na realidade, mais uma representação do poder público, enquanto que as demais cadeiras da sociedade civil (oito) são ocupadas por representantes de entidades empresariais.

Entendemos que não é possível contemplar todos os setores da sociedade, no entanto, é inadmissível que a representação das entidades e organizações sociais seja cortada de forma a garantir uma super representação dos empresários. Esses grupos possuem um grande poder econômico e político, mas são, na realidade, uma minoria ínfima da população ".

(Para maiores detalhes, como todas as entidades que compõem a CPC/PR e todos os integrantes da Comissão Organizadora, consultar www.proconferenciaparana.com.br e/ou www.proconferencia.org.br ).

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