Mulher não é só bunda e peito

As palestrantes Rachel Moreno e Janeslei Albuquerque (com microfone)
De Curitiba(PR) – Este pode ser o grito de guerra que resume o debate inicial da II Jornada pela Democratização da Mídia: rumo à Conferência de Comunicação, realizada no sábado, dia 11, na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Educação (APP-Sindicato). Tudo foi organizado pela Comissão Paranaense Pró-Conferência de Comunicação (CPC/PR).

A primeira palestra foi de Rachel Moreno, da Articulação Mulher e Mídia, conhecida militante do movimento feminista. Falou da necessidade dos movimentos sociais atuarem na primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), convocada para dezembro deste ano, visando mudar a forma como as mulheres são retratadas na mídia, reflexo direto do machismo, uma mazela entranhada na sociedade brasileira.

FUNDAMENTALISMO CONSUMISTA - Ela discorreu sobre a utilização da mulher a partir da revolução industrial, seu papel na reposição da força de trabalho, até a “loucura” dos dias atuais em que ela é peça chave na engrenagem do fundamentalismo consumista. Concluiu pela urgência de controle social da mídia, especialmente da TV – controle do conteúdo, outorga ou não de concessões, publicidade sujeita a critérios e limites, etc.

Transcrevo algumas de suas declarações registradas na Internet (http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/artigos/1012.html), refletindo o conteúdo de sua palestra: “Estamos mexendo com o aparelho ideológico do Estado. O controle acaba sendo gerado pela produção de imagens, valores, atitudes e modelos. E a TV produz e controla cabeças, corações, mentes e bolsos em todo mundo. Neste sentido, a TV acaba entrando definitivamente em todas as casas e em nossas vidas na construção da nossa subjetividade”.

“A TV é a voz mais socialmente aceita a apresentar a imagem dos fatos e dos valores e isso nos preocupa. Este é um poder concedido a pessoas que o exercem com fins comerciais, sem parar pra pensar na responsabilidade social que este poder carrega. Não queremos mostrar simplesmente a nossa versão dos fatos, mas o mínimo que podemos esperar é que a TV retrate a diversidade da sociedade em todas as suas dimensões, e que todas as pessoas encontrem nela seu espaço, já que a comunicação é uma via de duas mãos. Não podemos só ler e assistir: a comunicação está inscrita entre os direitos humanos e todos devem ter o direito de participar”.

TV FORMA AS CONSCIÊNCIAS - “E tudo isso vale não só para a TV, mas para toda mídia. Quando passamos em uma banca de jornal, temos uma idéia de como se vê a mulher e sobre o que se pensa que a mulher deseja: peito, bunda e cozinha. Vale pra impresso, rádio, TV e Internet, mas sabemos que a TV ainda é o meio mais poderoso na formação das consciências”.

A palestra A imagem da mulher na mídia, seguida de debates, foi mediada por Janeslei Albuquerque, secretária educacional da APP-Sindicato e da Marcha Mundial das Mulheres. No mesmo sábado, foram discutidos mais três temas: o racismo, a homofobia e a publicidade infantil na TV, assuntos que serão objeto de matérias deste blog.

CONCENTRAÇÃO DA MÍDIA NO DIA 22 - No próximo dia 22, a segunda jornada prossegue com o debate sobre a concentração dos meios de comunicação, dentro dos preparativos dos ativistas e da sociedade civil do Paraná de olho nos embates a serem travados com os poderosos empresários da mídia na Confecom. Até 5 de setembro, haverá discussões ainda sobre a complementaridade necessária do sistema público de comunicação, digitalização e convergência e sobre a Internet.

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