A irreverência de Emílio de Menezes

De Curitiba(PR) - “A uma vaga na Academia Brasileira de Letras era candidato certo médico de alto conceito। Comentava-se, numa roda, se ele conquistaria a cadeira. - É mais que certo – opina o Emílio; - vocês compreendem: há muito tempo que F. está fazendo uma cabala única para entrar para a Academia! Não há acadêmico que adoeça, mesmo levemente, que ele não se ofereça para seu médico assistente e de graça... - Cavando o voto!... – interrompe um dos circunstantes. - Qual voto! Cavando a vaga...”
Busto do poeta na Praça General Osório, no centro de Curitiba
Isto dá uma idéia da verve ferina do poeta, jornalista e escritor Emílio de Menezes (1866-1918), nascido em Curitiba e vivido literariamente no Rio de Janeiro. O caso é contado por Bastos Tigre, também poeta e jornalista, em “Obra Reunida”, livro que contém toda sua produção, editado há umas três décadas sob o patrocínio do governo do Paraná. Há um busto seu na Praça General Osório, área mais central da cidade, pertinho da Boca Maldita (está sem placa, identifiquei pelos bigodões).

TENHO A MANIA DE PROCURAR conhecer alguma coisa da literatura das cidades por onde passo (além dos jornais, claro). Já falei neste blog de autores que conheci, lendo seus livros, em Manaus – Márcio Souza, Milton Hatoum e o indígena Yaguarê Yamã (nome de branco Ozias Glória de Oliveira), todos de origem no Amazonasनोट्स (Matérias Tardes tropicais e Ka'apora'rãga e as mães-da-mata).


Em Belém, li as tiradas humorísticas do baiano Rui Santana, que assina como Barão de Irará – homenagem ao Barão de Itararé – em “Entre sem Bater, ditos e não ditos”. Ele é de Irará, morou em Salvador (músico, ativista político de esquerda e produtor musical) e está na capital paraense, atuando também na edição de livros. É muito amigo do nosso cantor e compositor Wilson Aragão, de “Capim Guiné”, “Guerra de Facão”, etc, etc.

Quando vinha pra Curitiba, tratei de conhecer logo Dalton Trevisan, contista curitibano reconhecido nacionalmente. Li durante a viagem “O Pássaro de Cinco Asas” (contos) e “A Polaquinha” (romance), comprados num sebo em Goiânia.

FELIZ COINCIDÊNCIA
- No caso de Emílio de Menezes, foi uma feliz coincidência. Há muito tinha curiosidade de conhecê-lo, por sua fama de irreverente, satírico, irônico, boêmio (muitos o comparam a Gregório de Matos). Descobri aqui, por acaso, que o rapaz era curitibano.

Tem uns três ou quatro livros de poesia, que poderíamos considerar, como leigos, o “lado sério” de sua obra, produção muito festejada pela crítica. É contemporâneo de gente como Machado de Assis (1839-1908), Olavo Bilac (1865/1918) e Raimundo Correia (1859-1911), aquele do famosíssimo soneto “As Pombas” (“...mas aos pombais as pombas voltam, e eles (os sonhos) aos corações não voltam mais”).

Mas, o que ficou mesmo, como marca indelével, foram seus escritos na imprensa, cheios de vivacidade e ironia, ferroando autoridades, políticos, seus colegas jornalistas e jornais. Incluem-se aí muitos sonetos.
É pena que eles estão num contexto de 100 anos atrás. Então hoje os ditos espirituosos, os chistes, as referências a personalidades da época se tornam praticamente ininteligíveis.

ERA UMA FIGURA EXTRAVAGANTE, pelo que pude perceber em “Obra Reunida” (não li tudo, é um volume muito grande, textos dele e sobre ele, eruditos e rebuscados, um jornalista de hoje diria pesados). Tem a fama de ter enriquecido rapidamente especulando com ações na Bolsa de Valores e empobrecido também rapidamente na boemia e nas ostentações de riqueza.

(Lembra até o grande Honoré de Balzac, que se consumiu em ostentar dinheiro e nobreza, duas coisas das quais era carente. Este “de” Balzac, distintivo de nobreza na época, ele começou a usar na marra e terminou ficando. Fez o diabo pra conquistar uma aristocrata russa e arrombou o estômago tomando café forte para não dormir e escrever, escrever, escrever, a fim de pagar as dívidas. Ambos eram gordos e morreram cedo).
Machado de Assis
“MORALISTAS, ME PERDOEM...” - Na primeira vez em que foi cogitada a sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, conta-se que Machado de Assis, fundador e presidente, levou alguns dos confrades a visitar um bar, em cujas paredes havia um belo retratão do Emílio portando um copo de cerveja. Não foi preciso dizer palavra, a candidatura morreu. (Pelo que se pode perceber que o grande Machado, sempre enaltecido - com justiça, aliás – tinha pelo menos um defeitinho... “Moralistas, me perdoem...” Há um verso de um poema que começa assim, me esqueci o autor).

Mas acabou “entrando” na Academia. Entre aspas, porque morreu sem a solenidade de posse. Foram tantas idas e vindas no interminável trabalho de censura do discurso de posse, recheado de “inconveniências”, que o novo imortal acabou morrendo sem festa e sem discurso. Já muito doente, foi empossado num ato simples.
NOTAS E ANOTAÇÕES

TRANSGÊNICO É VENENOJeffrey M. Smith, pesquisador norte-americano cujo último livro saiu no Brasil com o título Roleta Genética, fez palestra em Curitiba, na Escola de Governo (reunião de secretariado do governador Roberto Requião), transmitida ao vivo pela TV Paraná Educativa. Falou sobre os males dos alimentos transgênicos, com revelações chocantes. Quem se interessar, é só acessar o site da Agência Estadual de Notícias (AEN), do governo paranaense (http://www.aenoticias.pr.gov.br/). Estão disponíveis a matéria “Pesquisas mostram que transgênicos fazem mal à saúde, garante escritor” e a íntegra da palestra.

REZANDO EM NOME DE FLEURY!? – Muito boa a entrevista feita por Lúcia Rodrigues e Tatiana Merlino, da revista Caros Amigos, com o frei Yves Terral, que rezou uma missa em São Paulo pelos 30 anos da morte do delegado Sérgio Fleury, o mais famoso torturador da ditadura de 1964/1985. Cerca de 70 pessoas assistiram à celebração. As repórteres apertaram o frei especialmente por ele ter dito na homilia que estava rezando “em nome de Fleury” e não, como é usual, “pela alma de Fleury”. Disse ainda que “Fleury tinha um ideal”. “Uma missa para o torturador”, título da matéria, está no site da Agência Brasil de Fato.




Silvio Rodríguez

DEMOCRACIA ESTADUNIDENSE - Silvio Rodríguez, um dos mais consagrados cantores e compositores de Cuba (lá eles chamam cantautor) – do movimento Nova Trova, assim como Pablo Milanés – teve negado visto para entrar nos Estados Unidos . Tinha sido convidado para participar de uma homenagem ao músico Pete Seeger. É isso aí a badalada democracia estadunidense. Já pensou a zoada que a grande mídia faria se se tratasse do governo brasileiro, ou do venezuelano, ou do boliviano, etc, etc? Quantos brasileiros ficaram sabendo disso?

GRANDE LUTADOR DOS BANCÁRIOS - Recebi convite do companheiro Euclides Fagundes, presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, para o lançamento do seu livro “Mutti de Carvalho – um líder nato”, no dia 14 de maio, em Salvador. Mais uma homenagem ao grande lutador dos bancários baianos e brasileiros, um dos principais fundadores do sindicato. Uma justa homenagem. A história dos lutadores do povo precisa ser melhor conhecida.

Comentários

Grande jadson valeu,linkei seu blog no meu www.semlivros.blogspot.com
abração
Anônimo disse…
leggere l'intero blog, pretty good
Unknown disse…
Interessante! Eu estava lendo sobre Emilio de Menezes, pq sei que uma minha tia-avó Rafaelina de Barros, de nobre familia de Sao Carlos foi sua companheira na boemia vida no Rio de Janeiro