Ainda abusos da mídia na TV

De Curitiba (PR)


Aproveito um pouco mais, com estas notas, o debate do domingo na TV Paraná Educativa, mediado por Beto Almeida (ver matéria, logo abaixo, Abusos da mídia escancarados na TV):
ACM CHOROU – O ex-governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, o ACM, chorou quando da primeira prisão da dona da Daslu, Eliana Tranchesi, apanhada na Operação Narciso da Polícia Federal. O fato foi lembrado por Leandro Fortes (Carta Capital), ao se criticar durante o debate a recente capa da revista IstoÉ, com a empresária e a manchete "Exagero ou Justiça?", condenando a Justiça por ter aplicado a pena de 94 anos de prisão contra tão reluzente figura da elite brasileira.
Fortes comentou que a mídia evitou explicar em seu noticiário que os 94 anos são, na verdade, um somatório das diversas condenações em decorrência dos diversos crimes praticados pela loura empresária।

DIREITA É PALAVRÃO? – Por falar no ACM, há muito tempo me intriga um detalhe no noticiário da grande imprensa brasileira: nunca há referência explícita ao "líder da direita", ao "político direitista". Parece até que não existe direita na política nacional (ainda mais agora que o maior representante da direita virou Democrata, DEM). Isto em se tratando de político brasileiro. Quando os jornalões falam de política internacional, aí as expressões "direita" e "direitista" aparecem, no material distribuído pelas agências.
Fui despertado para isso lendo, há uns três anos, um jornal argentino, pela Internet, onde havia uma referência ao nosso ACM como "líder da extrema-direita"। Bingo, caíu a ficha! Pois então, no debate da TV Paraná Educativa, o Leandro Fortes (foto) lembrou tal particularidade da nossa mídia.



DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS – O repórter da Carta Capital chamou a atenção também para a diferença de tratamento nos casos do atual diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, e do ex Paulo Lacerda (ex também da Agência Brasileira de Inteligência - Abin).
O primeiro, acusado de torturar a doméstica Ivone da Cruz em matéria, bem fundamentada, da Carta Capital, foi poupado, até agora, pela "mídia gorda" (como chama Mylton Severiano, de Caros Amigos)। E pelo governo. O segundo, vítima de uma estranhíssima acusação ligada a um suposto grampo até hoje não comprovado, foi linchado pela mídia e demitido pelo governo.


A VOZ DO DONO – Alípio Freire (Brasil de Fato), outro dos jornalistas debatedores, contou ter ouvido de um político, mais ou menos assim: "Como posso denunciar a imprensa? Vou ficar dois meses fora da mídia!?" Ferino, Freire comentou que, para o político, dois meses sem mídia seria pior do que o pau-de-arara. Falava-se de tortura, ao se levantar o constrangedor episódio da "ditabranda" da Folha de S.Paulo. Ele falou da forte reação à posição do jornal , inclusive da manifestação na frente do prédio da Folha, onde – denunciou – compareceram poucos jornalistas e poucos parlamentares. (Pergunto eu: são, respectivamente, simples empregados e reféns?)
A propósito, Leandro Fortes disse que atualmente os jornalistas não têm mais coragem de falar fora de seus veículos, quando falam se referem apenas ao "jornalismo" de seus veículos, não mais à profissão no sentido universal। Comentou mais adiante, no decorrer da discussão, que alerta sempre a seus alunos (é também professor de Comunicação) para os "cursinhos de monstrinhos", cursos dados pelas empresas aos seus repórteres. Lamentou que os estudantes não tenham hoje parâmetros de boa imprensa e bons jornalistas.

INFLUÊNCIA DA INTERNET – Luiz Carlos Azenda (Rede Record e blog Vi o Mundo) ressaltou a influência crescente da Internet, lembrando a importância de blogs como os de Luis Nassif e Paulo Henrique Amorim। No caso da cobertura internacional – revelou – a Internet já dribla bastante o monopólio das agências de notícias.

Enfatizou ainda a perspectiva de realização neste ano da Conferência Nacional de Comunicação. Tal encontro, pelo qual as entidades ligadas aos meios de comunicação alternativos e comunitários vêm brigando há algum tempo, abre possibilidades de se debater um assunto tabu na política nacional – a renovação (hoje uma espécie de direito eterno adquirido) das concessões de rádio e televisão. O governo federal "ameaça" levar avante o projeto, já sob o fogo cerrado da grande mídia.

Comentários

Anônimo disse…
Já vi Collor falando de "forças liberais", mas realmente nunca vi ninguém dizer "direita". Até eu mesmo, quando falo para alguém (ou com alunos) não sinto como se falasse da política brasileira.

Realmente desconcertante.

Fabiano