A Cachoeira da Onça representou o que posso considerar o primeiro contato direto com alguma coisa da floresta amazônica, uma pequena amostra, muito acanhada certamente, mas já é um começo. Dá pra sentir que a gente está numa mata diferente, uma certa grandiosidade se imaginamos nosso mato da Chapada Diamantina ou (é sacanagem!) nossa caatinga do sertão baiano.
A caminhada pela trilha é um exercício prazeroso e saudável
A cachoeira propriamente dita é pequena, mas o seu entorno é grande.
Aquelas árvores compridas, produzindo sempre sombra, uma variedade de plantas, muitos riachos (chamados aqui igarapés) e pequenas pontes por toda a trilha, em torno de dois quilômetros, da sede da reserva ecológica até a cachoeira. Uma gostozura a caminhada.
Pequenas pontes embelezam a travessia dos igarapés
Fala-se numa grande variedade também de pássaros, animais e o que os técnicos chamam de formações rochosas।
Leitura da Carta da Floresta, uma exortação pela preservação
A Reserva Particular de Proteção Natural é mantida pela Fundação Rede Amazônica, que, por sua vez, é mantida pela Rede Amazônica de Rádio e Televisão, cuja TV é a repetidora da Rede Globo no estado।
A visita à reserva, de ônibus (três ônibus), na quarta-feira, dia 19, fez parte da programação do Festival Literário Internacional da Floresta – Flifloresta, ao qual já me referi na matéria anterior, SOS Amazônia। Paguei mais 25 reais, com direito a café da manhã, para a viagem.
Um pagé (com ramos) e outros representantes de nações indígenas
E assim o fizeram. Com simplicidade, mas com toques solenes, a combinar com o tema e local. Nada contundente, são declarações de princípio mais chegadas ao formal. Fala da crença "na utopia e na realização do sonho de edificação de uma terra sem males"."Afirmamos nosso compromisso em defendê-la (a Amazônia) e empreender esforços para promover iniciativas capazes de preservá-la como espaço vital do ser humano, dos bichos, das plantas, das águas, dos passarinhos. De todos os seres, inclusive os encantados". E vai por aí... Bonito, poético.
Comentários
Mônica sugere a publicação da Carta da Floresta. Tenho dúvida se vale a pena, pois embora tenha achado bonita, creio que as afirmações são muito genéricas. Como diria o nosso José Irecê, “muito cheiro mole”. Vão aí na íntegra as 10 conclusões da Carta:
1 – que a Amazônia brasileira pertence ao povo brasileiro, que, por meio de suas instituições, deve agir para protegê-la em benefício das suas populações e da humanidade;
2 – que os países amazônicos devem agir, em cooperação mútua, para proteger seus ecossistemas em benefício das suas populações e da humanidade;
3 – que as intervenções sociais, econômicas e políticas para a Amazônia, quando necessárias, partam das necessidades e valores das suas populações, e não de interesses que se superponham a essa peculiaridade;
4 – que a Amazônia seja compreendida como múltiplos e complexos sistemas biológicos e culturais, cuja interdependência não pode ser negligenciada em prejuízo do ambiente e das suas populações;
5 – que as decisões de políticas públicas e outras formas de intervenção na natureza e no ambiente social, quando necessárias, se efetivem por meio do diálogo entre conhecimento, tecnologia e os saberes tradicionais dos povos amazônicos;
6 – que as culturas amazônicas, nas suas mais variadas manifestações de criatividade e saber, sejam sempre reconhecidas como produção intelectual indissociável dos seus produtores individuais ou coletivos;
7 – que se expresse o repúdio, de forma imediata e enérgica, a quaisquer formas de manifestações de preconceitos e de vontade de subjugar os povos da Amazônia;
8 – que os governos dos países amazônicos empreendam ações conjuntamente para assegurar os deslocamentos culturais das populações tradicionais que vivem nas regiões fronteiriças, para que as suas terras tenham a legitimidade e a continuidade referendadas por suas tradições;
9 – que os conflitos inerentes às cidades e o meio rural amazônicos sejam mitigados pelo Poder Público e pela sociedade, para que não se transformem em risco à qualidade de vida humana e da natureza;
10 – por fim, que a Amazônia represente e seja reconhecida, sempre, como um grande gesto de amor por toda a Humanidade.