Ponha um ônibus na praça



Se você é motorista, está desempregado, tem algum dinheiro (um capital razoável) ou crédito, você pode comprar um ônibus e ir para a batalha. É isto mesmo.

Foto: Deta (arquivo)
Na Venezuela, uma pessoa física pode botar um ônibus para rodar numa linha de transporte coletivo, num processo semelhante ao que ocorre no Brasil com os táxis। A pessoa tem de comprar o ônibus, comprar uma vaga (aqui se chama “cupo”, seria o equivalente brasileiro da compra do taxímetro) e se associar ao que se chama “sociedade civil”, que tem a concessão para explorar determinadas linhas। Pronto, o dono do carro vai ser patrão de si mesmo e pode contratar um ou mais auxiliares, podendo possuir ainda mais de um ônibus.



Cesar Mujica, 47 anos, casado, dois filhos, é dono de um ônibus (na verdade, quase todos os que rodam aqui em Caracas são pequenos, lembrando o que chamamos na Bahia de lotaçãओ) O nome mais geral é autobus, mas os menores são chamados também de buseta e camionete). Ele calculou o preço de um ônibus (já usado) em torno de 100 mil bolívares fortes (pela cotação oficial mais de 50 mil dólares e no mercado paralelo, hoje, uns 30 mil). Já o “cupo” está ao redor dos 60 mil bolívares. Mujica roda na linha Baruta-Trinidad-Chacaito e é associado à Sociedade Civil União Baruta, Chacaito e Hatillo, que tem a concessão para explorar a Linha Sul Leste (usam assim separadas, Linea Sur Este).


O secretário de Organização da sociedade, José Melo, informou que 80% do transporte público de Caracas é operado por sociedades civis deste tipo, enquanto o restante está sob a forma de cooperativas e “companhias” (esta terceira forma equivale a nossas empresas)


Isto sem computar os carros do que se chama “metrobus”, ônibus (todos grandes) vinculados ao sistema do metrô, que é estatal। No caso da sua sociedade, são 170 ônibus, o que aparentemente é muito pouco, já que se trata de uma área grande, estendendo-se até El Silencio, no centro da capital (abrange rotas que percorrem quatro municípios de Caracas: Libertador, Chacao, Baruta e El Hatillo। Fica de fora só Sucre)। A explicação de Melo é que outras sociedades exploram também os mesmos roteiros, com algumas variações, uns incluem determinados bairros, etc। Tais sociedades funcionam sob as normas das prefeituras (alcaldías) e do Instituto Nacional de Transporte e Trânsito Terrestre (Inttt)। Elas garantem assistência médica aos associados।



Particularidades
- A passagem de ônibus, em relação à de Salvador, é muito barata। Custa 1 bolívar forte (equivalente a 60/80 centavos do nosso real)
- Aos sábados e domingos, aumenta para 1,10 bolívar, o mesmo valor cobrado às vezes em qualquer dia, a depender de alguma variação na रोता -Para se entender isso, é necessário lembrar que o combustível aqui, para nossos padrões, é quase de graça। Um litro de gasolina custa 0,70 e 0,97 (tipo especial) bolívar। Significa que o tipo comum, de menor custo, equivale, hoje, a 57 centavos do real (R$ 0,57 – em Salvador um litro de gasolina está em R$ 2,75)।
-No sistema metrô/metrobus é ainda mais barato. Uma passagem no metrô (chamado aqui metro, sem acento) é 0,50 bolívar. Detalhes: não há cobrador, o motorista recebe o dinheiro na entrada do passageiro; o passageiro desce tanto pela porta dianteira, como pela traseira; não há catraca;
-o dinheiro que vai sendo arrecadado fica exposto numa caixa aberta sobre o capu, uma prova de que não há tanto assalto a ônibus como em Salvador; não existe aquela proibição quanto a sentar-se no capu, já vi motorista convidar passageiro a instalar-se no dito cujo।


Foto: Deta (arquivo)


Quanto aos táxis, há uma complicação: não se usa taxímetro.

O passageiro tem que negociar o preço da corrida com o taxista.



Bem, para o visitante que não conhece a cidade, é um horror। Como se discute o preço se não se conhece o roteiro, a distância? Por exemplo, quem chega pela primeira vez no aeroporto vai pagar, fatalmente, 150 bolívares para qualquer ponto de Caracas। Depois, se aprende que não é bem assim, o preço pode variar de 80 a 120 bolívares, a depender do local, do momento, da negociação. Falando do setor transporte, o que mata mesmo o cidadão são os engarrafamentos. Não sei se podemos comparar a São Paulo. Em relação a Salvador (uma cidade com a metade da população de Caracas), os daqui são 10 vezes piores.




Bolívar forte – Muita gente deve estar intrigada com essa coisa de “bolívares fortes”. Lembram da época de inflação alta, quando o Brasil vivia cortando zeros e trocando o nome da moeda? (Venezuela ainda sofre um dos mais altos índices de inflação da América, foi 22,5% em 2007).

É o seguinte: desde primeiro de janeiro deste ano que a moeda venezuelana, que se chamava simplesmente “bolívar”, perdeu três zeros e passou a se chamar “bolívar forte”.

Isto somente até 30 de junho, seis meses durante os quais circula também o bolívar antigo, com os três zeros. A partir de primeiro de julho, acaba o bolívar antigo e fica apenas o “bolívar forte”, o qual pode voltar a ser tratado como “bolívar”, simplesmente, sem o “forte”. Entenderam? Me esforcei bastante.

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Notícias da América Latina


Por: Jorge Botero / La Jornada
1) Morre Manuel Marulanda, o “Tirofijo” (nome verdadeiro Pedro Antonio Marín), principal fundador e chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Segundo o anuncio oficial, no domingo, dia 25, feito através de vídeo enviado à Telesur, ele morreu de enfarto no dia 26 de março. Tinha 78 ou 80 anos (foram veiculadas duas datas de nascimento), mais de 50 anos dedicados à luta armada nas selvas colombianas.


Foi substituído no comando por Alfonso Cano (nome verdadeiro Guillermo León Sáenz Vargas), 59 anos, antropólogo que aderiu à guerrilha depois do assassinato de milhares de companheiros que atuavam na oposição institucional, na década de 1970। Graças à eficiência da “inteligência” imperial, os membros das Farc são conhecidos hoje como “narco-guerrilheiros”. Certamente, quando passar a era do presidente Álvaro Uribe (se passar), serão reconhecidos como lutadores do povo.
2) Os anti-chavistas foram às ruas no domingo, dia 25, para marcar o primeiro aniversário do fechamento da Rctv, do mega-empresário das comunicações Gustavo Cisneros।
A emissora vai ao ar apenas em canal por assinatura। Ela foi acusada de participação no golpe de Estado de 11 de abril de 2002 (Hugo Chávez voltou ao poder dois dias depois por pressão popular) e quando venceu o prazo de sua concessão, em maio de 2007, ela não foi renovada pelo governo.

Vestidos com camisetas brancas (os chavistas usam sempre o vermelho), os oposicionistas, apesar do dia chuvoso, promoveram passeata e concentração, com direito à cobertura ao vivo da TV privada Globovisión (os partidários de Chávez a chamam “Globoterror”). Expressaram livremente seu protesto contra a falta de liberdade de expressão.

3) A maioria dos “especialistas” que pontificam (ou pontificaram), nas telas das TV's internacionais, analisando a guerra no Iraque não passa de picaretas, devidamente instruídos pelo Pentágono.

Eles são custeados, de uma maneira ou de outra, pelas empresas contratadas pelo governo estadunidense para prestar serviços na “reconstrução” do país destruído pelas bombas imperiais. Manipulação da informação é isso aí. A revelação não foi feita por nenhum jornal esquerdista, mas pelo The New York Times, conforme matéria publicada pelo diário venezuelano Últimas Noticias.

4) Criada, em reunião dos chefes de Estado dos 12 países da América do Sul, realizada no Brasil, na sexta-feira, dia 23, a União das Nações Sulamericanas (Unasul)। Mesmo com a ação desagregadora da Colômbia, aliada incondicional do império (Álvaro Uribe não quis avalizar a proposta de criação do Conselho de Defesa da região, de autoria do governo de Lula), o processo de integração soberana da América Latina vai em frente.

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