Um dia caraquenho

O baiano na Praça do Silêncio

Um baiano passeia pelas ruas e praças centrais da capital de um país latino-americano, onde foi superada a democracia representativa e cavalga à toda carreira a democracia participativa. Caracas (Venezuela), terça-feira, dia 22 (Dia Mundial da Terra), a partir das 10h da manhã. Há sol, mas o tempo está fresco, ao contrário do calor de Salvador. Na cabeça, a idéia de acompanhar a marcha anunciada pelo movimento indígena desde El Silencio até a praça El Venezolano (áreas do miolo de Caracas), mas passando por sítios mais distantes, como Avenida México e Bellas Artes, tudo no município Libertador.

Nos portões de entrada da Assembléia Nacional (equivalente ao nosso Congresso Nacional), um grupo de uns 200 manifestantes se aglomera, com cartazes e faixas, antes de participar de uma sessão especial sobre os problemas ambientais e mudanças climáticas. Entre os presentes há quem recorde a advertência do líder cubano Fidel Castro - hoje meio aposentado devido a problemas de saúde -, feita no Rio de Janeiro, em 1992 (quem se lembra da Eco-92, dos tempos do “nosso” presidente Fernando Collor?): “No planeta Terra uma espécie está ameaçada de extinção: a espécie humana” (Coloco aspas para dar mais charme, porém não deve estar literal, cito de memória).

Segue o baiano. Pertinho (cerquita, diriam por aqui), na praça Simón Bolívar, o GreenPeace expõe uma baleia inflável de 18 metros de comprimento e o cartaz: “Latino-américa protege as baleias. E Venezuela?”. Reclama que o país não faz parte da Comissão Internacional que preserva esses animais marinhos contra a caça indiscriminada. Além disso, o local mantém sua rotina com duas “esquinas calientes”, onde atuam os partidários do presidente Hugo Chávez, e um canto sempre ocupado por um pregador religioso ou, às vezes, um vendedor daqueles “remédios” milagrosos para quase todos os males (este blog já fez matéria sobre esta praça). Ela, na verdade, deu origem a Caracas. Era a chamada Plaza Mayor, em torno da qual os colonizadores espanhóis foram construindo a cidade.

Já se aproxima o meio-dia. A marcha dos indígenas, os povos originários da América, já deve estar na praça El Venezolano, iria começar às 9h, pensa o baiano. O local fica a apenas uma quadra, a uns 100 metros. Ali há uma aglomeração, mas não há qualquer indício de indígena. Homens e mulheres (algumas com bebês nos braços), umas 80 pessoas, discutem e deliberam, com o auxílio de um pequeno alto-falante. São buhoneros (os sempre “indesejados” ambulantes, camelôs) desalojados da praça e imediações que se organizaram para lutar por outros pontos de venda. A área está em reforma total, passeios, ruas, jardins, tudo em obras de reparação (a oposição, claro, acusa os chavistas de oportunismo, devido às eleições para alcaldías - prefeituras - e governo dos estados em novembro próximo).

Bem, nada dos indígenas. O baiano vai então à sede do Parlamento Indígena da América – Grupo Parlamentar da Venezuela (seis deputados federais representam os chamados povos originários), próxima à Assembléia Nacional. “Não é hoje a marcha?” “É sim, está neste momento no bairro Bellas Artes. Até umas 2h chega à praça El Venezolano”, responde um muchacho, com traços inconfundíveis quanto à origem, numa sede quase vazia. Já vai dar 1h da tarde. Na recepção do prédio, uma moça logo se identifica como descendente de portugueses ao perceber o sotaque (isso é muito comum aqui). Conversamos um poquito em português, óbvio. “Obrigado, muito obrigado”.

O baiano toma uma sopa (sai rapidíssimo, fica mais barato e é servida em quase todo restaurante). Compra um jornal e vai ler na praça El Venezolano, esperando a chegada da marcha. A manifestação está inserida no processo de divulgação das idéias dos indígenas venezuelanos, as quais serão aproveitadas na feitura da Carta Ambiental das Américas, uma posição representativa dos indígenas de todo o continente. Entretanto, a marcha parece ter-se atrasado muito. Por volta das 15:30h, este baiano, que agora compartilha com vocês um dia caraquenho, desiste e vai tomar uma cervezita e um ron.

(Segundo a imprensa local, houve outras atividades relativas ao Dia Mundial da Terra, como um encontro de universitários, uma promoção do laboratório alemão Bayer e uma programação especial através do National Geographic Channel. Também o presidente Chávez destacou o tema ao receber, à noite, o vice-presidente de Cuba, Carlos Lage, que participa nesta quarta-feira, dia 23, em Caracas, de reunião extraordinária da Alternativa Bolivariana para as Américas - Alba. Presentes ainda os mandatários da Bolívia e Nicarágua. A Alba é constituída pelos quatro países).

Comentários

Liliana Peixinho disse…
Jadson
Seu blog, anunciado em sala pela colega Einar, foi motivo de visita, hoje, dia 25,de jornalista/alunos do curso de Webdesign promovido pelo Sinjorba na FTC. Eu, particularmente, gostei do registro/olhar sobre as ações do Dia da Terra. Que os deuses da natureza brilhem sobre seus passos para uma caminhada de experiências interessantes para socializá-las ao mundo.
Beijo harmonioso da eterna admiradora do seu modo exemplar de viver
Liliana de Peixinho
www.amigodomeioambiente.com.br
liliana@amigodomeioambiente.com.br
Liliana Peixinho disse…
Jadson
Seu blog, anunciado em sala pela colega Einar, foi motivo de visita, hoje, dia 25,de jornalista/alunos do curso de Webdesign promovido pelo Sinjorba na FTC. Eu, particularmente, gostei do registro/olhar sobre as ações do Dia da Terra. Que os deuses da natureza brilhem sobre seus passos para uma caminhada de experiências interessantes para socializá-las ao mundo.
Beijo harmonioso da eterna admiradora do seu modo exemplar de viver
Liliana de Peixinho
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