A peste da cultura contemporânea






Grupo Teatro de Rua - em alusão aos "demônios da comunicação" alienando cerébro de leitores.


"O terrorismo midiático é a primeira expressão e condição necessária do terrorismo militar e econômico que o Norte industrializado emprega para impor à humanidade sua hegemonia imperial e seu domínio neocolonial. Como tal, é inimigo da liberdade, da democracia e da sociedade aberta e deve ser considerado como a peste da cultura contemporânea". Esta visão está contida na Declaração de Caracas, divulgada nesta segunda-feira, dia 31, ao final do Primeiro Encontro Latino-americano contra o Terrorismo Midiático, que reuniu, entre os dias 27 e 30, jornalistas, comunicadores e estudiosos da América Latina, Caribe e Canadá.

(No mesmo período deu-se a reunião semestral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, sigla em espanhol), cujas conclusões refletem, ao contrário, a posição dos patrões e do "mercado", merecendo, obviamente, ampla veiculação nos meios de comunicação empresariais).

No encontro dos jornalistas, realizado no Centro de Estudos Latino-americanos Rómulo Gallegos (Celarg) – organizado pelo Ministério de Comunicação e Informação e pela Agência Bolivariana de Notícias -, foram denunciadas agressões e campanhas de difamação das "transnacionais informativas e da SIP" (as denúncias incluem também o grupo Repórteres sem Fronteiras) contra a luta dos povos do Equador, Bolívia e Nicarágua, bem como do Brasil, Argentina, Uruguay e México. Cuba e Venezuela são mencionados como os países mais visados, destacando-se ainda "a dramática situação que atravessa atualmente o jornalismo democrático no Peru, Colômbia e outras nações".

A declaração acusa o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de "criminalizar todas as modalidades de luta e resistência popular, sob pretexto de uma falsa noção de segurança". E sublinha, com veemência, as perseguições contra os meios alternativos, populares, comunitários e inclusive alguns empresariais. "A informação não é uma mercadoria. Tal como a saúde e a educação, é um direito fundamental dos povos e deve ser objeto de políticas públicas permanentes", proclama. Os organizadores prevêem a possibilidade de um segundo encontro no mês de junho próximo.

Protesto bem humorado



Crítica a cadeias internacionais, como CNN.


Manifestação de estudantes participantes juntamente com o grupo de teatro.

Não só de palestras e debates viveu o encontro sobre terrorismo midiático (houve em torno de 25 conferências e a participação da platéia – a imensa maioria formada de jornalistas e estudantes de comunicação - foi intensa, com muitas perguntas e propostas). No sábado, dia 29, ocorreu uma passeata para protestar contra os integrantes da SIP, com representação teatral (grupo Teatro de Rua, com a peça Liberdade de Pressão) em frente ao Hotel Caracas Palace, onde estavam reunidos os donos e editores de jornais, a uns 200 metros do Celarg, na avenida Francisco de Miranda (Altamira, município Chacao, Caracas).

Foi uma manifestação bem humorada, que terminou com discursos contra os órgãos privados de comunicação e em defesa do governo de Chávez, da revolução bolivariana e do socialismo. Faixas e cartazes fustigavam TV's como a Globovisión (venezuelana) e a CNN (estadounidense), bem como jornais, a exemplo: "El Mercurio (Chile), Prêmio Pinochet de Liberdade de Expressão; El Nuevo Herald (Miame/EUA), Prêmio à Ignorância Jornalística; El Universal (Venezuela), Prêmio ao Perfeito Anexionista Latino-americano".

Definições exemplares


Do jornalista venezuelano Freddy Fernández, diretor da Agência Bolivariana de Notícias:
A partir da doutrina Bush: “Terrorismo é tudo que vai contra os interesses dos Estados Unidos” (desqualificação cunhada pelos serviços de inteligência, CIA. Antes, a palavra mágica era comunismo).Terrorismo midiático é o assassinato do jornalismo e adoção da propaganda e da invenção e manipulação da notícia”.



A voz dos patrões e do “mercado”


Os membros da SIP, como se esperava, condenaram a política de comunicação do governo Hugo Chávez, apontando a existência de ameaças contra a liberdade de expressão, apesar do bombardeio diário de jornais e emissoras de rádio e TV contra as ações governamentais. Nas conclusões de sua assembléia, denunciaram o aumento das pressões sobre a imprensa independente por parte de vários governos do continente, bem como a pressão de juízes nos Estados Unidos no sentido de que sejam reveladas as fontes e o assassinato de jornalistas no México.


O presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, Gonzalo Marroquín, indicou que também em Nicarágua, Honduras, Colômbia, Equador e Argentina há situações complicadas, “mas a mais preocupante é a da Venezuela, devido à perseguição judicial, as ameaças verbais e a tendência clássica dos governantes de premiar ou castigar segundo a linha editorial”.


Comentários

Eny disse…
Jadson,
Ler uma matéria sua, escrita por prazer, me deu muita alegria. Lembrei-me dos velhos tempos do Jornal Movimento e dos tempos de militância e sonhos.
Agora só falta o livro, que já tem título "Mont-Serrat, Terceiro Barreiro).
Beijos!
Eny
Vanda Amorim disse…
Muito boa as três últimas postagens. Acho, inclusive, que nós, jornalista brasileiros, temos que ter coragem de, nós mesmos, analisarmos o terrotismo midiático local, deixarmos cair as nossas ilusões que o status de jornalista cria e arregaçar as mangas para fazer jornalismo sério.
Um cheiro.

P.s. Tou gostando de ver sua narrativa. Muito boa.
Anônimo disse…
Acho que meu pai está rejuvenescendo. Para quem rejeitava novas tecnologias, está através delas que sua forma de expressão mais talentosa e crítica está reaparecendo. Fico muito feliz e satisfeito, pois a verdadeira revolução acontece dia-dia.

Fabiano (filho de Jadson)
Zé Paraiba disse…
O Fabiano, filho poeta do Jadson, diz bem quando afirma do rejuvenescimento do pai. Pensei em algum momento que ele esqueceria das lutas que enfrentou nos anos de ferro,quando passava pra gente os textos mimeografados da Luta Operária. Estarei acompanhando com ansiedade as tuas aventuras, jovem companheiro.
ZE PARAÍBA