Lula e a integração soberana
(O exemplo vem de Santo Domingo)


Santo Domingo, quem diria?, capital da República Dominicana, terra que lembra o ditador Trujillo, dos anos 50 (quem teve a ventura de ler, não esquece A Festa do Bode, do peruano Vargas Llosa). O exemplo talvez não venha propriamente de lá, mas foi percebido a partir de lá, quando na Cumbre de Rio, os presidentes dos países da América Latina e Caribe falaram com uma só voz e condenaram a violação do território de Equador pelo governo colombiano. E os Estados Unidos? Prestem atenção: “América Latina e Caribe”, Estados Unidos estavam fora (com o chefe ausente, a gente fica mais valente, ih! rimou).

Bem, mas em seguida, a decisão de Santo Domingo, que certamente será catalogada como histórica, foi confirmada no último dia 17 em reunião extraordinária da OEA, com a participação – e bote participação nisso – do governo estadounidense. Ou seja, com a voz do império falando, pressionando (não respeitam mais o chefe!). A resolução foi parida com muito suor, mas saiu, certamente outra decisão histórica. É bastante recordar que a velha Organização dos Estados Americanos expulsou Cuba de seus quadros logo após a vitória dos “barbudos” de Fidel e Che Guevara, o que levou o líder cubano, na sua lúcida virulência, a tachar a OEA de ministério das colônias dos Estados Unidos.

Tais reflexões brotam atraídas por uma notícia divulgada esta manhã de sábado de aleluia no sítio (site) do jornal venezuelano El Universal, com base em matéria de Folha de S.Paulo. O ministro de Defesa, Nelson Jobim, declara que a melhor ajuda que o governo estadounidense pode dar à criação do Conselho Sulamericano de Defesa é ficar longe, “manter-se à distância”. Nosso presidente Lula, que deve encontrar-se na próxima quarta-feira com seu colega Hugo Chávez, em Recife, vai propor o novo Conselho em reunião da União de Nações Sulamericanas (Unasul), que já devia ter-se realizado, mas foi adiada devido à crise envolvendo Equador, Colômbia e Venezuela. Lembremos que Jobim, na véspera da declaração, esteve em Washington para “explicar” o projeto à secretária de Estado Condoleezza Rice, a qual havia estado há poucos dias em visita ao Brasil.

Viva! Viva! O presidente Lula, que foi representado em Santo Domingo pelo chanceler Celso Amorim (muito bem representado, como sempre), parece avançar nesse processo de integração, com soberania, da América Latina e Caribe. Um processo tortuoso, difícil, penoso, mas que vem dando passos expressivos no desabrochar deste século 21, depois dos anos 90 de predomínio quase completo do famigerado neoliberalismo, o pensamento único patrocinado pelo deus chamado mercado. Avanços que se tornaram visíveis no bojo da denominada revolução bolivariana, liderada por Hugo Chávez, e assentada, por um lado, na mobilização de forças populares em diversos países latino-americanos e, por outro, no colapso paulatino da carcomida democracia representativa.

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