Brasil é extremamente
violento com a esquerda, neoliberalismo está fora do espírito do tempo e
capitalismo representa o velho, afirma rapper do Ceará."Coloquei o desafio de imaginar o fim do capitalismo, e não o fim do mundo”, disse rapper de Fortaleza no programa SUB40, do site OPERA MUNDI, do último dia 21 (Reprodução/Twitter/@joaoinvictor)
São
Paulo (Brasil)
22 de jul de 2022
(Reproduzido
do site OPERA MUNDI)
O
rapper de Fortaleza (embora nascido em Brasília) Don L afirma que sua música
representa uma reação ao discurso liberal que ele via no hip-hop, de celebração
de conquistas individuais, e não coletivas.
"Coloquei
o desafio de imaginar o fim do capitalismo, e não o fim do mundo”, ele resume
seu álbum mais recente, Roteiro para Aïnouz Volume Dois,
em conversa com o jornalista Breno Altman no programa SUB40 desta
quinta-feira (21/07).
Trata-se
de uma maneira de inverter o tom derrotista tantas vezes adotado no Brasil, no
rap ou fora dele: “a gente gosta da distopia. Todo mundo fica gozando com a
distopia, falando da merda em que estamos vivendo. Eu quis falar de vitória,
dentro de uma perspectiva coletiva, não individual”.
Assim,
o álbum tenta imaginar um Brasil pós-revolucionário, socialista e vitorioso,
com “lastro e pé na realidade, mesmo quando cria utopias”. Seu ponto de partida
é um autoquestionamento: nossos sonhos são realmente nossos ou são sonhos da
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Questionado
por Altman se o mercado pode "amansar" o rap, ele responde que isso
já tem acontecido, não só com o rap, e encontra na política uma possível
explicação: “o Brasil exterminou fisicamente boa parte da esquerda. Não houve
um julgamento disso, e a gente segue perdendo grandes lideranças assassinadas
toda semana. Este país é extremamente violento com a esquerda. Fala-se que é
uma democracia, mas até hoje não vi lideranças de direita ser assassinadas no
nosso país”.
O
resultado, argumenta, é uma esquerda muito contida, acossada por medos
fundamentados e mais propensa à conciliação, o que se reflete na música e na
cultura.
“O
que a esquerda não fez é o que a direita diz que a esquerda fez e a gente
deveria ter feito, que é o marxismo cultural”, provoca. “Só dois partidos têm
pautas que considero realmente de esquerda, o Partido Comunista Brasileiro
(PCB) e a Unidade Popular (UP), mas, no contexto em que estamos, vou acabar
votando no Lula mesmo, porque o momento pede para a gente fazer isso”, decifra.
Para
Don L, a eventual posse de Lula para um terceiro governo será o começo grandes
novos problemas: “O Brasil precisa ser refundado. Lula fez grandes coisas, não
diminuo sua história, mas tem coisas que são inconciliáveis. Precisamos tirar
um pouco dessa burguesia sanguessuga que está aí desde que o Brasil foi fundado
como um experimento colonial. Precisamos ter grandes sonhos".
Trilha da revolução
O rapper defende que a música popular brasileira, e não especificamente
o rap, é a trilha sonora da revolução no país. “O samba é muito importante. O
funk é uma música eletrônica original brasileira, considero que é hip-hop
também. A diversidade da música popular brasileira é a trilha da revolução”,
concilia.
Don L contesta, por fim, a ideia de que conceitos como revolução,
comunismo ou luta de classes estejam ultrapassados em 2022. “Isso é o que os
liberais querem fazer a gente acreditar. Não tem nada mais fora do espírito do
tempo que o neoliberalismo. O capitalismo é que é o velho. O próprio planeta
não aguenta mais viver com esse modo de produção. É socialismo ou barbárie,
mesmo. A distopia é legal para quem está no poder usufruindo da desigualdade
extrema.”
O neoliberalismo não o convence a cravar outro ídolo político que não
seja o cubano Fidel Castro: “a gente tem uma mania de derrotismo na esquerda,
mas Fidel conseguiu, com uma ilhazinha desse tamanho, ali na boca do império
querendo matar ele a vida inteira, construir uma experiência com seu coletivo,
e o cara morreu de velho. É o maior de todos os tempos”.
Estabelecido na cidade de São Paulo desde 2014, o rapper que veio do
Ceará se emociona com as fotos da tomada de Havana por Fidel, em 1959,
especialmente aquelas que mostram guerrilheiros dando voz de prisão à polícia.
Para ver o vídeo da entrevista, na íntegra, entre no Opera Mundi. Segue o link: https://operamundi.uol.com.br/sub40/75754/don-l-meu-desafio-e-imaginar-o-fim-do-capitalismo
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Goiano.