BANCÁRIOS BAIANOS: NAVEGADORES DO SONHO, 40 ANOS DEPOIS


Goiano e Lustosa organizaram o encontro (no canto, Deise Lins) (Todas as fotos: Smitson Oliveira)
Bancários, ex-bancários, aposentados, amigos/amigas – ao todo, coincidentemente, 40 pessoas -, militantes políticos a partir da década de 1970, viveram uma tarde de congraçamento no último sábado, dia 16, em Salvador. Festejaram o companheirismo forjado nas lutas sindicais e políticas contra os pelegos e outros agentes da ditadura militar; e celebraram a comunhão de sonhos por um Brasil melhor, por um mundo mais justo.

Congraçamento temperado nas lembranças dos jovens lutadores de ontem e, em grande parte, ainda lutadores e sonhadores 40 anos depois. Por que 40 anos, com o velho simbolismo dos anos arredondados?

Em 1978, a Oposição Sindical Bancária conseguiu disputar uma eleição para dirigir o Sindicato dos Bancários da Bahia, numa chapa encabeçada por Edelson Santos. Foi derrotada pelo então presidente, reeleito, Eraldo Paim, “pelego da ditadura”.

Foi derrotada, mas mostrou o crescimento dos setores combativos do sindicalismo bancário, uma categoria de grande tradição de luta na Bahia e no Brasil que tinha sido golpeada a partir de 1964/1968 (derrubada de Jango e AI-5). Crescimento que desembocou na vitória eleitoral e tomada do sindicato em 1981, instalando uma diretoria presidida por Osvaldo Laranjeira, representativa de forças políticas ligadas a partidos de esquerda.

Os organizadores do encontro, realizado no restaurante Gibão de Couro, na Pituba, foram Valdimiro Lustosa e Goiano (José Donizette), ambos componentes da nova diretoria vitoriosa de 1981.

A comemoração dos “40 anos”, portanto, se espraiou não apenas para a vitória de 1981, mas também para o início da Oposição Bancária em 1972, cuja figura de proa foi Geraldo Guedes, hoje advogado em Brumado-Bahia, presente também ao encontro. (Melhor dizer reinício da oposição sindical, que tinha sido desarticulada pelo AI-5 em 1968).

Se espraiou ainda para a famosa “chapa verde” de 1975, uma tentativa de concorrer na eleição sindical, frustrada pelos vetos dos “órgãos de segurança”. Era encabeçada por Corinto Soares Joazeiro, do antigo Banco Econômico e um dos poucos “sobreviventes” dentre os ativistas barrados pela repressão no bojo do AI-5.

Então, foram as lutas, os casos e as lembranças do período de 1972 a 1981, anos marcantes da nossa história, que foram revividos pelos então jovens, hoje sessentões e setentões. Lembranças às vezes tristes e doloridas, mas às vezes também divertidas e belas, lembradas com saudade, porque afinal de contas éramos jovens e habituados aos sonhos e às utopias.

Debate sobre a conjuntura

Mas muito do conteúdo dos comentários e discursos  – entremeados pelas bonitas canções de Gilton Della Cella, cantor e compositor (cantautor, diriam os hermanos latino-americanos) – mostrou que as atenções dos participantes não estão restritas à questão sindical. Estão, também e sobretudo, voltadas para os difíceis desafios da conjuntura brasileira: o movimento Lula Livre, eleições com viés de perseguição aos partidos e movimentos de esquerda e o protagonismo da tutela da mídia hegemônica e da Justiça (Operação Lava Jato), tendo como biombo o suposto combate à corrupção.

Além do assanhamento de forças da ultradireita, promotoras do clima de ódio e intolerância, uma situação que é facilitada pela débil mobilização popular e a desarticulação dos segmentos democráticos. Nota-se ainda um maior protagonismo das Forças Armadas, como se vê no caso da intervenção no Rio de Janeiro.

E, por último, sem que sejam menos graves,outros atentados  aos interesses populares e nacionais, consubstanciados no ajuste econômico neoliberal, com o conseqüente aumento do desemprego e outros índices de recessão, na destruição das conquistas trabalhistas e na entrega das riquezas naturais, em especial o petróleo.

Daí que Goiano lembrou a oportunidade dos debates sobre a conjuntura que o Projeto Velame Vivo e outros movimentos sociais estão programando para serem retomados no próximo mês de julho, ainda sem data definida. A perspectiva é que haja a participação de Sérgio Gabrielle, ex-presidente da Petrobras, e Ruy Medeiros, conhecido advogado e ativista social de Vitória da Conquista.

PS1: Além de Gilton, houve a colaboração do “cantautor” Carlos Villela. Ele cantou, de sua autoria, ‘Navegador de sonhos’. Daí que este jornalista/blogueiro “roubou”, com pequenas alterações, para o título da matéria. 

PS2: O encontro parece ter sido um sucesso. Circularam entre os participantes sugestões no sentido de novos eventos semelhantes, inclusive com a ideia de passarem a ser regionais.  

Segue uma seleção de fotos:
Genésio Ramos e Carlos Novais

Euclides Fagundes foi da oposição sindical, já exerceu a presidência do Sindicato e hoje integra sua diretoria (atrás Gilton Della Cella)

Leonel Rocha, Paulo Morais e Pedro Barbosa
Mila Novaes, Goiano, Maria de Jesus, Edna Soares, Lustosa e Pedro Barbosa

Carlos Villela

Sérgio Guerra e Rita Rapold


Laranjeira e Lustosa


Leonel Rocha, Bebé, Lustosa e Goiano

Antônio Carlos, Edelson Santos, Jadson Oliveira e Geraldo Guedes

Gilton Della Cella






Comentários

Edna Viana disse…
Um encontro histórico. Após 40 anos, companheiros e com panheiras se reuniram para uma comemoração da chapa que concorreu às eleições do Sindicato dos Bancários com bons discursos, boas reflexões sobre a conjuntura política brasileira. O evento foi regado com boa música e boa comida. O texto do companheiro Jadson Oliveira e as fotos de Smitson Oliveira revelam como valeu a pena a tarde de sábado (16.06.18). Os organizadores anunciaram para breve um novo encontro para debates sobre o atual momento político nacional. Aguardem!
Unknown disse…
Muito bacana, que venham os próximos encontros.
Parabéns pelos registros .
Militão disse…
Militão! Sou suspeito. Mas o encontro foi ótimo. Você resumiu bem. Todavia, você deveria ter publicado (Ainda pode fazë_lo) aqueles 3 artigos que você escreveu anos atrás sobre a Oposição , para uma compreensão do que aquela época. Um grande abraço. Guedes.
Jadson Oliveira disse…
Militão, mandei hoje - antes de ter lido essa sua sugestão - o link daqueles 3 artigos contando o período de 1972 a 1975 para o pessoal que foi ao nosso encontro dos 40 anos. Abraços, Jadson
Unknown disse…
Parabéns, pelo encontro historico.