PAPA FRANCISCO: TÃO PREVISÍVEL QUANTO INCÔMODO – POR WASHINGTON URANGA

(Foto: AFP/Página/12)
“Serve para alguma coisa o que o Papa faz e diz? Tem real incidência? Ou se trata duma prédica de boa vontade que ajuda a gerar manchetes dos meios noticiosos e entusiasma setores progressistas da sociedade, católicos ou não, mas que não contribui realmente para gerar mudanças?”

Por Washington Uranga – no jornal argentino Página/12, edição impressa de hoje, dia 18 (Título original: Tan predecible como molesto)

O papa Francisco finalizou seu périplo mexicano, giro que na realidade havia começado em Cuba com o encontro histórico que teve ali com o patriarca Kiril (Cirilo), da Igreja Ortodoxa Russa. E enquanto os focos se concentravam nas afirmações de Bergoglio no convulsionado México, reiterando seu discurso sobre a pobreza, a corrupção e a necessidade de mudanças na própria Igreja Católica, a diplomacia vaticana dirigida por Francisco dava simultaneamente um novo passo no sentido da “diplomacia da misericórdia” convidando ao Vaticano o Gran Imán Ahmad al-Taybib, reitor da universidade egípcia de Al-Azhar, a instituição acadêmica e religiosa de maior autoridade do Islã sunita.
Para a maioria dos observadores vaticanos está cada dia mais clara a condição de estrategista de Francisco. No México, país com um dos episcopados mais conservadores do mundo, falou com dureza sobre a necessidade de transformar a missão da hierarquia e disse aos bispos que eles devem ser “servidores” e não “funcionários”. No território mexicano não evitou tampouco os temas mais escabrosos como corrupção, narcotráfico e a realidade dos jovens carentes de possibilidades que se deixam seduzir pelo dinheiro que lhes prometem para se converterem em sicários. O Papa fala, denuncia, propõe seguindo um discurso no qual reitera as mesmas convicções e defende temas similares, adaptando-o a cada realidade. Para fazê-lo usa linguagem coloquial quando se dirige à massa e teológica ou doutrinária para falar aos próprios. No México não foi diferente.
Reiterou sua opção pelos pobres e pelos excluídos de qualquer tipo. Defendeu os povos originários e voltou a lhes pedir perdão como havia feito em julho passado na Bolívia e antes de forma privada quando se reuniu com Milagro Sala no Vaticano. Criticou a corrupção e o uso do poder para benefício próprio. Pediu que os políticos mexicanos criem condições de vida para que os cidadãos do país possam viver ali dignamente e não tenham que fugir para os Estados Unidos buscando melhores condições de vida.
De alguma maneira Francisco, que foi novidade por seu discurso no começo do pontificado porque estabeleceu diferença com seus predecessores, começou a ser previsível pelo menos para quem segue de perto sua trajetória. A pergunta que se segue então é, serve para alguma coisa o que o Papa faz e diz? Tem real incidência? Ou se trata duma prédica de boa vontade que ajuda a gerar manchetes dos meios noticiosos e entusiasma setores progressistas da sociedade, católicos ou não, mas que não contribui realmente para gerar mudanças?
A isso haveria que agregar outra interrogação: qual é o papel que  corresponde jogar a Igreja Católica, como instituição religiosa nesse cenário? Sempre e quando se considere que corresponde a ela jogar algum papel.
Está claro que Francisco resulta um Papa pelo menos incômodo para determinados setores de poder que sempre se sentiram protegidos pela institucionalidade católica, a qual consideraram aliada. Também é incômodo para facções internas da própria Igreja, as quais não gostam de ouvir questionamentos como os que Francisco fez aos bispos mexicanos ao pedir-lhes que deixem de lado “fofocas (‘habladurías’) e intrigas, vãos projetos de carreira, vazios planos de hegemonia, infecundos clubes de interesses ou de ‘consorterías’”. Basta observar também o que se passa na Argentina com alguns e algumas que exibiam antes seus rosários e ante o gesto produzido por Francisco presenteando Milagro Sala com um rosário bento, opinam agora que se trata de um excesso, afirmam que não voltarão ao Vaticano ou se sentem fora da Igreja.
Continua em espanhol, com traduções pontuais:
Otra característica de la estrategia de Francisco se basa (se baseia) en la construcción conjunta en la diversidad. En esto también resulta predecible (previsível). Su postura no es proselistista, no intenta convencer con sus verdades o (ou) las de la Iglesia Católica. Las sostiene y las predica, no las resigna, pero como se lo dijo en Cuba a Cirilo, no compite con otros. Utiliza el mismo criterio cuando se dirige a los pueblos originarios y les pide perdón por los atropellos que la Iglesia cometió contra ellos. No es diferente su actitud cuando habla de los gays, de las parejas (casais) divorciadas o (ou) sobre otros temas. No deja de lado sus convicciones pero no trata de imponerlas.
Hacia el (Para o) interior de la Iglesia, mientras (enquanto) muchos le reclaman reformas más profundas e importantes, da pasos pidiendo coherencia a su propia tropa. Una frase de batalla ya es la de “pastores con olor a oveja (com cheiro de ovelha)”. A muchos no les gusta, pero él insiste con el ejemplo. Y avanza lenta pero firmemente en la reforma de la estructura eclesiástica hacia (rumo a) formas de conducción más colegiada y abierta. Está claro que este será un largo camino no exento de dificultades.
Entre sus grandes preocupaciones se encuentran la exclusión, la pobreza por un sistema económico que “ya no aguanta más”, y la guerra en el mundo que hoy se presenta en forma de microconflictos. Y ante la pregunta de qué puede hacer la Iglesia Católica, Francisco se responde a sí mismo que nada puede hacer sola. Pero parte de la base de que la fe, en cualquiera de sus manifestaciones, puede ser el motor para dar con las soluciones que la política y la economía no encuentran. Por eso se encontró con Cirilo y envió una delegación a Egipto para invitar al Gran Imán Ahmad AlTaybib. Por el mismo motivo el 31 de octubre ira a Lund (Suecia) para participar de una ceremonia en la que se recordarán los 500 años de la reforma protestante.
Es una estrategia de unidad. La misma que el jesuita Antonio Spadaro tituló en el último número de La Civiltá Cattolica, un órgano oficioso del Vaticano, como “la diplomacia de la misericordia”. Según Spadaro hay que mirar “la misericordia como proceso político” basado (baseado) en que ningún sujeto histórico puede ser visto como “enemigo absoluto y eterno” porque el enemigo de hoy puede ser el aliado de mañana. Según el propio Bergoglio “el lenguaje de la política y de la diplomacia” tiene que dejarse “inspirar por la misericordia que nunca da nada por perdido” y esto significa dejar de lado alineaciones (alinhamentos) estáticas y preconcebidas.
Francisco estuvo en México y fue predecible (previsível) en sus dichos y en sus gestos. Pero estando físicamente allá no abandonó su estrategia generando al mismo tiempo un gesto menor respecto de la política mundial pero importante en lo nacional y en los afectos de Bergoglio, como ha sido el regalo hacia (como foi o presente a) Milagros Sala, en el que dejó su impronta (sua marca) fijando posición. Mientras (Enquanto isso), en otro lugar lejano (longe) del mundo, extendió su invitación (seu convite) al Gran Imán Ahmad Al-Taybib para continuar con la tarea de agrupar a las grandes religiones tras la (depois da) “diplomacia de la misericordia”.

Tradução (parcial): Jadson Oliveira

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