EMPODERAMENTO CRESPO: “EU TÔ NA RUA É PRA LUTAR PELO DIREITO DO CABELO ENCRESPAR”

(Fotos: Jadson Oliveira)
Muita gente bonita na primeira Marcha do Empoderamento Crespo, um fato marcante na “cidade negra” do Salvador, no mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra – 20 de novembro. E pouco mais de quatro décadas depois que o Ilê Aiyê arrasou nas ruas do carnaval baiano, em 1974.

Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – editor do Blog Evidentemente – publicado em 08/11/2015

De Salvador-Ba – Milhares de pessoas, a grande maioria jovens negras e negros, desfilaram pelo centro da capital baiana na luta pela afirmação dos valores culturais afro-brasileiros: contra o racismo, contra o preconceito racial e social, contra o machismo, contra o extermínio da juventude pobre e negra, contra a intolerância, por uma sociedade de paz e bem-viver.

Foi a primeira Marcha do Empoderamento Crespo, ontem, sábado à tarde – do Campo Grande à Praça Castro Alves, pela Avenida Sete, no centro histórico -, um fato marcante na “cidade negra” do Salvador, no mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra – 20 de novembro (dia da morte do herói maior Zumbi dos Palmares), data que é feriado, por exemplo, em São Paulo (não é feriado na Bahia).

Pouco mais de quatro décadas depois que o Ilê Aiyê arrasou nas ruas do carnaval baiano, em 1974, gritando aos quatro ventos a beleza, os valores e a história dos afro-descendentes, conforme lembrava ontem durante o desfile um entusiasmado velho militante do movimento negro, Gilmar Santiago (vereador da capital pelo PT). Lembrou ainda outro fato, segundo ele também notável, o surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978.

Não apenas ele estava entusiasmado: meu antigo companheiro de lutas, Antônio Olavo (cineasta) também. Ativista do movimento anti-racismo, ele ajudava no desenrolar da marcha. Me disse, com ar de satisfação, que sua filha de 10 anos estava participando. “Calculei 3.000 pessoas”, lhe disse numa consulta. Ele rebateu: “Não, são mais de 5.000” (a estimativa do pessoal da Polícia Militar foi 2.000). 
Antônio Olavo me anunciou que, finalmente, seu filme-documentário 'Revolta dos Búzios'' vai sair
Gilmar Santiago (camisa azul), ao lado de Ana Célia da Silva
Desculpem a falha do fotógrafo: não consegui foto com toda a extensão da passeata
Outra que não escondia o entusiasmo era Ana Célia da Silva, uma das fundadoras do MNU. Seu doutorado versou sobre a discriminação do negro na rede de ensino e ela trabalhou na elaboração da Lei 10.639, sancionada pelo presidente Lula em 2003, obrigando as escolas do ensino fundamental e médio a ensinar a história e a cultura dos negros, um tema silenciado durante 500 anos.

A euforia dos velhos ativistas vinha, obviamente, das belas e combativas imagens que marchavam pelas ruas, beleza que espero exibir, um pouco, modestamente, na seleção de fotos que fiz na minha maquininha (nunca fui profissional de foto, mas apenas, e sempre, de texto).

Era muita gente bonita, com cartazes e algumas faixas, bradando “Eu tô na rua é pra lutar pelo direito do cabelo encrespar”, ou “Cabelo crespo não é duro pelo contrário é motivo de orgulho”, e outras consignas de luta.

As moças que faziam parte da comissão de organização informaram que a articulação e mobilização foram feitas, basicamente, pelas redes sociais, com orientação apartidária e horizontal, características predominantes nos movimentos recentes da juventude.


“Que entidades dirigem o movimento?”, perguntei. “Nenhuma”, garantiram, explicando que há entidades que apoiaram a marcha. A meu pedido, citaram algumas como a Uneb (Universidade do Estado da Bahia), e a Sepromi (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado).

Mais fotos:

Minha conterrânea Vilza, da tradicional família Almeida das cidades de Iraquara e Seabra (na bela Chapada Diamantina, interior da Bahia)

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