RENILDO SOUZA: GOVERNO DILMA SE MOVERÁ ENTRE CHANTAGENS POLÍTICAS E PERIGOS ECONÔMICOS

(Foto: Internet)
Em artigo de dezembro/2014, o professor Renildo Souza já parecia antever o avanço da crise política que resultou na luta em torno do impeachment (ou golpe). Ele vai participar amanhã (quinta, dia 22), em Salvador, do debate ANÁLISE DE CONJUNTURA: ENTENDER A REALIDADE PARA TRANSFORMÁ-LA.

Por Jadson Oliveira (jornalista/blogueiro) – editor do Blog Evidentemente – publicado em 21/10/2015

“O cerco político em curso e a exasperação das forças oposicionistas colaboram para a construção de um impasse na economia. Há método e estratégia: plantar dificuldades políticas para colher interesses econômicos conservadores. Ou plantar impasse econômico para golpear o governo eleito. Assim, estão postas as coisas neste instante no Brasil”.

Assim dizia em dezembro/2014 Renildo Souza, que é professor da Faculdade de Economia da UFBa e membro do Comitê Central do PC do B, e que participará da discussão sobre a conjuntura política, com outros três ativistas e acadêmicos. O encontro será amanhã (quinta-feira, dia 22), a partir das 18:30 horas, no Sindpec (nos Barris – endereço abaixo).

No mesmo artigo, o economista baiano denuncia a ação nefasta da oligarquia financeira, os “ganhos estratosféricos permanentes no mercado financeiro” e as “condições financeiras especialíssimas do Brasil”.

Continua: “Os capitais estrangeiros já descobriram o maná e todos querem um tanto. A última moda, que vicejou muito durante os últimos quatro anos, foi a entrada de capitais estrangeiros, como se fossem investimento externo direto (IED), nas transações entre matriz e filiais de empresas multinacionais, para, fraudulentamente, obter ganhos com aplicações financeiras no Brasil. O cúmulo é a obtenção de recursos do BNDES, com taxas de juros subsidiadas pelo Tesouro Nacional, para que empresas, em vez de investir na produção, aprofundem suas apostas especulativas no mercado financeiro”.

A escolha do dirigente do Bradesco, Joaquim Levy, para o Ministério da Fazenda já havia sido anunciada e Renildo já alertava para o significado de tal escolha. E no final avisava: “É nesse quadro de chantagens políticas e perigos econômicos que se moverá o segundo governo Dilma”.

(O artigo vai transcrito, na íntegra, no final da matéria, assim como um editorial recente do Portal Vermelho, que é ligado ao PC do B).

Outras vozes no debate de amanhã: Luiz Filgueiras, Linauro Neto e Joaci Cunha

Além de Renildo, mais três debatedores estarão na reunião desta quinta-feira: o professor Luiz Filgueiras, também da Faculdade de Economia da UFBa; Linauro Neto, ativista da organização Oposição Operária (OPOP), que edita a revista Germinal; e Joaci Cunha, assessor do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) e editor-chefe da revista Cadernos do CEAS.

Outro debate dia 5/novembro com Celi Taffarel, Pery Falcon, Sílvio Humberto e Jorge Almeida

Um segundo debate está marcado para 5 de novembro (também uma quinta-feira), nos mesmos local e horário, com outros quatro militantes sociais e estudiosos: o professor Jorge Almeida (Macarrão), dos quadros do PSOL; Sílvio Humberto, vereador pelo PSB de Salvador-Bahia; Pery Falcon, ex-presidente da CUT-Bahia; e a professora Celi Taffarel, da Faculdade de Educação da UFBa e integrante do PT.

Os dois encontros são coordenados por José Donizette, mais conhecido por Goiano (do Projeto Velame Vivo, movimento cultural da Chapada Diamantina, interior da Bahia), pelo professor Carlos Freitas (da Comissão da Verdade da Faculdade de Direito da UFBa), por Joaci Cunha (do CEAS) e pelo jornalista Jadson Oliveira (deste Blog Evidentemente - www.blogdejadson.blogspot.com).

SERVIÇO:

O que: debate ANÁLISE DE CONJUNTURA: CONHECER A REALIDADE PARA TRANSFORMÁ-LA;

Onde: Sindpec – Rua Conselheiro Spínola, 07 – Barris – Salvador-Ba. - Telefone: (71) 3328-4699

Quando: dias 22/outubro e 05/novembro – a partir das 18/30 horas.


Renildo Souza: O momento político e os constrangimentos financeiros

O novo governo da presidenta Dilma defronta-se com velhos e cruciais problemas na economia. Desde sempre, constata-se, como voz geral, de que é preciso aumentar substancialmente o investimento para que a economia brasileira possa ter uma evolução com taxas mais elevadas e mais sustentadas de crescimento.

Por Renildo Souza (*) – artigo reproduzido do site do PC do B, de 12/12/2014
Em um cenário de chantagens políticas e perigos econômicos é que se moverá o segundo governo Dilma (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
Mas, no momento, o cerco político em curso e a exasperação das forças oposicionistas colaboram para a construção de um impasse na economia. Há método e estratégia: plantar dificuldades políticas para colher interesses econômicos conservadores. Ou plantar impasse econômico para golpear o governo eleito. Assim, estão postas as coisas neste instante no Brasil. 

Aqui, não cabem dúvidas sobre a natureza dos problemas brasileiros no cruzamento da economia com a política, neste instante. Portanto, diga-se mais uma vez: a oligarquia financeira, imbricando as frações diversas de capitais da produção e da finança, beneficia-se do caso particularíssimo brasileiro de ganhos estratosféricos permanentes no mercado financeiro. É o excepcionalíssimo brasileiro. Para isso, as taxas de juros precisam ter o estatuto de saque aberto contra a maioria da população. Para isso, o Estado tem de transferir renda, através do orçamento público, para o parasitismo do rentistas, detentores de títulos.

Os capitais estrangeiros já descobriram o maná e todos querem um tanto. A última moda, que vicejou muito durante os últimos quatro anos, foi a entrada de capitais estrangeiros, como se fossem investimento externo direto (IED), nas transações entre matriz e filiais de empresas multinacionais, para, fraudulentamente, obter ganhos com aplicações financeiras no Brasil. O cúmulo é a obtenção de recursos do BNDES, com taxas de juros subsidiadas pelo Tesouro Nacional, para que empresas, em vez de investir na produção, aprofundem suas apostas especulativas no mercado financeiro.

Nessas condições financeiras especialíssimas do Brasil, matando de inveja os operadores de Wall Street, o investimento e o consumo são duramente constrangidos. Por aqui, só se admite investimento produtivo se as margens de lucro forem absurdas. O lucro da empresa tem que ser muitíssimo alto, senão é melhor simplesmente aproveitar as benesses das aplicações financeiras. Qualquer recuo no tamanho da rentabilidade, empresários revoltam-se, o mercado fica “nervoso”, a bolsa cai, a imprensa grita histérica, e, assim, nessa toada, as empresas engavetam os planos de investimento. Por conseguinte, o ritmo de crescimento da economia é tão trôpego, tão medíocre. Voo de galinha. Ou stop-and-go.

Mas o melhor é o diagnóstico alardeado para esse estado de coisas na economia. Enchem o peito e sentenciam, com rara desfaçatez: o país não cresce, porque há Estado demais, intervencionismo contra o mercado, populismo distributivista, gastança fiscal, desperdício governamental, ineficiência pública, corrupção....

Por que a campanha eleitoral (e o país) embicou para tanta celeuma, tanta paixão, sobre Banco Central, banqueiros e juros? Por que isso beneficiou a candidata Dilma? Ou melhor, por que Joaquim Levy assume o principal ministério no novo governo Dilma? Há uma percepção, embora difusa, sobre os efeitos perversos da forma brasileira de organização financeira. Efeitos perversos, que são sofridos pela maioria dos brasileiros. A resposta para a ascensão de Levy só pode ser a contingência do cerco político sobre a presidenta Dilma. É uma evidência do poder imenso, uma demonstração dos recursos políticos descomunais concentrados nas mãos da pequena minoria – rentistas, bancos e empresas -, cevada nos ganhos espetaculares do mercado financeiro. E tudo isso, na política, neste momento, funciona como chantagem, ultimato. Levy é uma concessão. Concessões, recuos e acordos são manobras usuais, ditadas pela correlação de forças. Armas da política. Assim, o controle da política econômica será objeto de novas rodadas de disputa e conflito por dentro do governo. Mas a “concessão Levy” é restringida pelos seguintes fatores: há uma presidente vitoriosa, um governo eleito, um novo mandato. Há um lado que ganhou. Há uma trajetória política recente percorrida pelo maioria do povo. Há expectativas e aspirações dessa maioria.

Simplismo não ajuda em nada na interpretação de fenômenos complexos. Toda a carga de denúncia sobre as características e os movimentos do mercado financeiro no Brasil não pode negar a importância, no capitalismo, da centralização dos recursos, do sistema de crédito e da constituição do mercado de capitais para a modernização e dinamismo da economia. Era Marx que destacava o papel da bolsa e das sociedades anônimas para viabilizar as gigantescas construções ferroviárias na Inglaterra. Ou, nos nossos tempos, no início da década de 1990, vale lembra que a China abriu as bolsas de Xangai e Shenzen. Para não falar dos perigos da fragilidade de bancos, como se viu e ainda se vê, na atual crise global, tanto nos Estados Unidos como Europa.

Todavia, aqui no Brasil, sobretudo nos anos 1990 e 2000, cristalizou-se uma versão de mercado financeiro centrado em explosivos e insustentáveis ganhos. Os percentuais exibidos pela rentabilidade dos bancos no Brasil despertam inveja aos maiores bancos do mundo. Aqui, a economia pode entrar em recessão, a indústria pode afundar, mas os lucros fabulosos são garantidos, inabaláveis. Troca-se, supostamente, solidez bancária por juros extorsivos. Expõem-se espantalhos: a quebra de um banco pode arrastar o resto, configurando o que os economistas chamam de “crise sistêmica”, referindo-se a um colapso do setor bancário, contaminando toda a economia. Mas o fato é que uma taxa de real de retorno de 3% em uma aplicação nos Estados Unidos é considerado, em qualquer época, como um ganho excelente, enquanto aqui no Brasil acostumaram-se, e gostaram, de ganhos reais três vezes maiores do que se pratica nos principais mercados financeiros internacionais.

A estruturação e o funcionamento do mercado financeiro brasileiro tornaram-se perigosamente descolados dos investimentos nas atividades produtivas, além das relações parasitárias com o orçamento público. A tarefa de reforma financeira no Brasil para a construção de padrões e estruturas consentâneas com o financiamento do desenvolvimento é uma tarefa extremamente difícil nesses tempos de capitalismo duro, desregulado, senhor do mundo. 

Por aqui, neste instante, pintam um quadro catastrofista, exigindo encolhimento do Estado. Para os conservadores, 2015 (e talvez também 2016) tem que ser o ano do ajuste (sic): cortes de gastos e aumento de juros. Contudo, sabemos, que essa é a receita, certa e certeira, para o precipício recessivo, para o sofrimento do povo, para a reversão das parcas conquistas dos trabalhadores. 2015 não é 2003, que terminou com brutais 13% de desemprego. 2015 não é 2011, que enfiou, com duras políticas fiscal e monetária, o primeiro governo Dilma na rota inapelável do crescimento econômico medíocre.

É nesse quadro de chantagens políticas e perigos econômicos que se moverá o segundo governo Dilma. É nesse quadro conflituoso que os trabalhadores lutarão, o povo se manifestará. É nesse quadro que se conta com as possibilidades de influência progressista do novo governo sobre o curso da economia e dos direitos sociais da maioria dos brasileiros.

(*)Renildo Souza é economista, professor universitário na Bahia e membro do Comitê Central do PCdoB desde 1988.


Portal Vermelho: Que ninguém se deixe enganar por miragens! A luta continua!

Os sinais de mudança na conjuntura política começaram a se evidenciar nas últimas semanas.


Editorial do Portal Vermelho – de 19/10/2015

Cresceram as dificuldades para a direita e os conservadores que tentam depor Dilma Rousseff e criar um atalho à margem das eleições e da lei para voltar à Presidência da República.

As dificuldades vão desde os constrangimentos dos “moralistas” cuja bandeira está enlameada por revelações recentes, até as decisões prontas e responsáveis do STF que barraram, no campo jurídico, a conspiração golpista, impondo o respeito à lei e à Constituição.

São mudanças importantes; revelam que, ao contrário das anacrônicas pretensões políticas da direita (que é o principal fator de instabilidade política no país), as instituições e a legalidade democrática revelam uma vitalidade e consistência insuspeitas pela direita. Mandões que teimam em ver o Brasil como uma republiqueta que eles dominam e ao qual impõem seus interesses exclusivistas.

Uma importante mudança na conjuntura foi a emergência da liderança política da presidenta Dilma Rousseff contra o golpismo e a direita conservadora.

O protagonismo da presidenta – que se apresenta, e cresce, como líder da luta democrática e desenvolvimentista – fortalece a mobilização da militância ao denunciar de forma aberta e veemente os golpistas e sua tentativa ilegal e antidemocrática. Sua liderança será reforçada com o amplo diálogo com a base social e política, trabalhadores e empresários. Com o campo progressista e avançado para combater a ofensiva reacionária da direita.

A luta democrática do povo, dos trabalhadores, dos movimentos sociais, sindicatos, organizações populares, sai às ruas em defesa da legalidade, do mandato da presidenta Dilma Rousseff, da retomada e avanço do desenvolvimento para fortalecer o emprego e a renda.

É uma conjuntura de luta na qual os democratas, patriotas, a esquerda em geral – e os comunistas em particular – não podem baixar a guarda.

As boas notícias dos últimos dias reequilibraram as condições do enfrentamento e fortaleceram a resistência contra os golpistas.

Mas não se pode esquecer que é uma luta em curso, na qual cresce a importância da mobilização da militância democrática. A “crise política do país continua grave”, alerta o PCdoB. E reforça: “Que ninguém se deixe enganar por miragens” neste momento em que as ameaças contra a democracia continuam presentes. As forças democráticas e progressistas, os movimentos sociais, as centrais sindicais devem manter a “mobilização crescente e permanente contra o golpe”.

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