KÁTIA GERAB BAGGIO: EDITORIAL DA FOLHA LEMBRA AMEAÇAS DA MÍDIA A GOULART

Família Frias, do apoio à ditadura à lista do HSBC (Foto:Viomundo)


O editorial intitulado "Última chance", da Folha de S. Paulo, e a necessidade de resistência ao golpe


Como é mais do que evidente, é cristalino, não é o desejo de moralizar a política brasileira que está em questão nas ameaças golpistas (...) O que está em pauta é, sim, uma ampla e profunda agenda de retrocessos sociais.
Por Kátia Gerab Baggio (*) - reproduzido do blog Viomundo - o que você não vê na mídia, de 14/09/2015
O editorial intitulado "Última chance", publicado na capa da Folha de S. Paulo, com inusual destaque, no dia 13 de setembro de 2015, é um "dileto produto" da mesma família Frias que já denominou, em outro editorial, a ditadura militar inaugurada em 1964 como "ditabranda".
São os Frias golpistas, como já vimos em outros momentos da história do Brasil.
O editorial defende a necessidade de revisar "desembolsos para parte dos programas sociais", além da "desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios em saúde e educação, que se acompanharia de criteriosa revisão desses dispêndios no futuro".
Menciona a necessidade de "alguma elevação da já obscena carga tributária", mas não faz referência, em nenhum trecho do texto, à urgente necessidade de combate mais efetivo à gigantesca sonegação de impostos. Esta, sim, efetivamente obscena.
O editorial termina com as seguintes palavras: "não lhe restará [à presidente Dilma Rousseff], caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa."
O momento é grave.
O tom do editorial não é muito diferente das ameaças feitas a João Goulart, em março de 1964, pela mídia liberal-conservadora da época (incluindo o jornal dos Frias).
Mas as forças da resistência — organizadas na Frente Brasil Popular, movimentos sociais e sindicais, PT, PCdoB e políticos de alguns outros partidos que são contrários ao golpismo — não irão aceitar o golpe sem reação.
E, aos que se alinham à esquerda, mas estão, com razões indiscutíveis, profundamente insatisfeitos com o governo Dilma, no segundo mandato, digo o seguinte:
Caso Dilma não resista às pressões brutais que vem sofrendo desde que foi reeleita — pelos mercados, pelo grande capital, pela "grande" mídia e pelas oposições — e eventualmente venhamos a ter um governo do PMDB em aliança com as partidos de oposição (PSDB - DEM - PPS e outros partidos menores de direita e centro-direita), avalio que todos os avanços sociais dos governos Lula e Dilma estarão em risco.
Penso que propostas da pauta direitista do Congresso e de parte da sociedade — aprovação da legalidade da terceirização de atividades-fim pelas empresas; cortes drásticos em programas sociais como Bolsa Família e encerramento de outros programas; cortes ainda mais severos nos orçamentos da Educação e Saúde; revisão do Mais Médicos; fim do regime de partilha e da política de conteúdo nacional da Petrobras; aprovação de uma "reforma política" que só atenda aos interesses dos partidos direitistas, com a manutenção da legalidade das doações de empresas às campanhas eleitorais e aos partidos; diminuição da maioridade penal etc. — terão enormes chances de serem aprovadas pelos parlamentares, sem o anteparo de um governo eleito com o apoio da maior parte dos setores de esquerda, centro-esquerda e movimentos sociais.
E que, apesar de cada vez mais acossado pelos setores de direita, sabe que não pode virar as costas, completamente, aos seus eleitores.
Se a presidente Dilma Rousseff for derrubada — não acredito que ela renuncie —, avalio que o retrocesso será inevitável.
Como é mais do que evidente, é cristalino, não é o desejo de moralizar a política brasileira que está em questão nas ameaças golpistas — a defesa da manutenção das doações de empresas às campanhas e aos partidos, por parte das oposições de direita a Dilma e ao PT, demonstra isso claramente. O que está em pauta é, sim, uma ampla e profunda agenda de retrocessos sociais.
Em razão disso, penso que a resistência ao golpe é necessária.
Além, é claro, da defesa fundamental e imprescindível dos princípios democráticos.
(*) Kátia Gerab Baggio é professora de História das Américas na UFMG.

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