GUATEMALA: EM MEIO À CRISE POLÍTICA, 7,5 MILHÕES VÃO ÀS URNAS ELEGER NOVO PRESIDENTE

Da esquerda para a direita, os três candidatos à frente nas pesquisas: Sandra Torres, Manuel Bendizón e Jimmy Morales (Foto: Reprodução/Opera Mundi)
País vive instabilidade após renúncia e posterior prisão do ex-presidente Otto Molina; três candidatos disputam vaga no segundo turno.
Por Vanessa Martina Silva - São Paulo – reproduzido do portal Opera Mundi, de 06/09/2015

Mais de 7,5 milhões de guatemaltecos vão às urnas neste domingo (06/09) nas eleições gerais deste ano no país. Não se trata, no entanto, de uma eleição qualquer: ela ocorre em meio aos protestos realizados durante diversas semanas e apenas três dias depois da prisão do ex-presidente Otto Pérez Molina (que renunciou na última sexta-feira, 03/09) e da posse de Alejandro Maldonado como novo chefe do governo.

A situação política criou ainda mais incertezas em torno da jornada eleitoral que elegerá novos presidente e vice-presidente, 158 deputados, 20 representantes do Parlamento Centro-Americano, além de prefeitos e vereadores. Os primeiros resultados devem ser conhecidos depois das 21h (0h em Brasília).

Movimentos sociais do campo e indígenas, no entanto, seguem nas ruas e anunciaram que realizarão plantões na Cidade da Guatemala para manifestar rechaço aos candidatos que disputam a presidência. Eles defendem que as eleições sejam adiadas, já que o país vive um momento de instabilidade provocado pela renúncia de Molina em meio às denúncias de corrupção.

Presidenciáveis

A cadeira presidencial é disputada ao todo por 14 candidatos. Apenas três deles, no entanto, apresentam chances de passar para o segundo turno, que será realizado em 25 de outubro, de acordo com dados da empresa Prodatos, divulgados pelo jornal Prensa Libre na última sexta-feira (04/09):

Jimmy Morales, do partido de direita Frente de Convergência Nacional, é comediante e aparece à frente na disputa, com 25% dos votos. Entre suas principais propostas estão combater a fome e o desemprego;

Manuel Baldizón, do Partido Líder (Liberdade Democrática Renovada), é advogado e cientista social. Postulava como favorito, mas, por denúncias de irregularidades na campanha, viu sua popularidade cair. Encontra-se agora em segundo lugar, com 22,9% dos votos. Ele propõe dar prioridade a um plano de crescimento econômico para gerar emprego e impulsionar a educação e atender às crises de habitação e saúde;

Sandra Torres, da União Nacional da Esperança, aparece em terceiro lugar, com 18,4% das intenções de voto. Em 2011, se divorciou do então presidente do país, Álvaro Colon, para poder se candidatar. Formada em ciência da comunicação, desenvolveu um trabalho importante no combate à pobreza no país. Candidata de centro-esquerda, propõe um acordo nacional baseado em três eixos: solidariedade, desenvolvimento econômico e segurança democrática e justiça.

Eleições transparentes e seguras

A preocupação com a transparência da votação foi manifestada por diversos setores. Em entrevista à Agência France Presse na semana passada, a guatemalteca Rigoberta Menchu, prêmio Nobel da Paz em 1992, saudou “o grande despertar da população”, mas mostrou preocupação com a votação de domingo e disse esperar que o país “passe esse dia 6 de setembro sem um pingo de sangue derramado”. No mesmo sentido, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu “que estas eleições se realizem de forma pacífica”.

Para garantir a segurança do processo eleitoral, no país que registra mais de 6.000 mortes violentas por ano, mais de 35 mil agentes da polícia foram deslocados para os 3.047 centros de votação, como informou o Ministério de Governo.

Não é só a violência que preocupa. De acordo com o diretor da organização Accion Ciudadana, braço local da organização anticorrupção Transparência Internacional, Manfredo Marroquin, a prática da compra de voto é comum na Guatemala. Isso pode acontecer, disse ele em declarações à Agência France Presse, “através da distribuição de sacos com alimentos ou de sorteios durante os comícios, de prêmios que podem ser motos ou bicicletas”.


À mesma agência, Jonathan Menkos, diretor do Instituto Centro-Americano de Estudos Fiscais, afirmou que “50% do financiamento dos partidos vem da corrupção” e ressaltou que “infelizmente, a grande maioria dos partidos políticos só tem palavras de boa vontade e nenhum plano concreto” para lutar contra ela.

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