Molina deixou audiência escoltado por policiais (Foto: Reprodução Twitter) |
Detido provisoriamente por acusação de corrupção, ex-mandatário fará
defesa nesta sexta; audiência teve áudio de escutas que provariam sua culpa.
Por Vanessa Martina Silva - São Paulo – reproduzido
do portal Opera Mundi, de 03/09/2015
O juiz
Miguel Ángel Gálvez decretou nesta quinta-feira (03/09) ordem de prisão
provisória para o ex-presidente da Guatemala Otto
Pérez Molina, que renunciou à presidência ontem (02/09). O político, que
havia se apresentado à Justiça, foi enviado à prisão de Matamoros, onde ficará
até sexta (04/09), quando será reiniciada a audiência judicial.
O
advogado de Molina, César Calderón, contestou a decisão, alegando que há
violação do princípio de inocência, legalidade e livre locomoção do
ex-mandatário. A defesa ressaltou ainda que o político teve a oportunidade de
fugir e não o fez para responder devidamente ao processo.
O
Ministério Público, no entanto, entendeu que a detenção provisória não viola os
direitos de Molina e o juiz manteve a detenção.
Defesa
Em
declarações após a audiência, Molina ressaltou que não há a menor intenção de
“fugir do país” e voltou a dizer que vai “respeitar o devido processo, dar a
cara [à investigação]”.
O
ex-mandatário argumentou que há inconsistência nas provas apresentadas pelo
Ministério Público contra ele. Por quase cinco horas, Molina ouviu as escutas
apresentadas na audiência perante o juiz e que seriam provas do envolvimento
dele com o caso de corrupção conhecido no país como “a linha”.
Ele
defendeu ainda que falta investigação e que tudo será esclarecido amanhã
(04/09), quando será retomada a audiência. E questionou ainda o fato desse
processo estar ocorrendo às vésperas das eleições no país. “Há grupos que
querem adiar as eleições. É preciso que acima de tudo elas sejam realizadas.
Neste país temos que aprender que temos que respeitar a lei”, afirmou Molina
minutos antes de deixar o prédio escoltado por policiais.
Crise
política
“Somos
exemplo para o mundo. Hoje o sistema dá mostras de que está funcionando, essa é
uma grande lição especialmente quando a polarização nos levou a um conflito
entre irmãos”, afirmou o deputado Orlando Blanco, da UNE (Unidade Nacional da
Esperança) sobre o processo que resultou na renúncia de Molian.
A ONU
também comentou o momento vivenciado pela Guatemala. “Finalmente haverá um
devido processo, no qual se poderá deduzir ou não as responsabilidades que o
presidente teve neste caso. Houve uma demanda social de luta contra a corrupção
e creio que as instituições estão respondendo, fortalecendo o estado de
direito”, afirmou o representante das Nações Unidas para os Direitos Humanos,
Alberto Brunori.
Já Amícar Pop, deputado do partido de esquerda Winaq, afirmou que a renúncia de Molina não acaba com os problemas da Guatemala, mas a “sociedade nos dá a opção de tomar uma rota para fazer as grandes reformas constitucionais que o país está pedindo. Não podemos seguir adiando como fizemos com a lei eleitoral. Temos que limpar o sistema”, afirmou Pop.
Contexto
No último
dia 21 de agosto, o Ministério Público e uma comissão da ONU acusaram Molina de
ser um dos cabeças de uma rede chamada “a Linha” dedicada à cobrança de
subornos a empresários para a evasão de impostos no sistema nacional de
aduanas.
Diante
das acusações e da pressão popular em todo o país, o ex-mandatário renunciou na
noite desta quarta-feira (02/09), três dias antes das eleições gerais.
No
próximo domingo (06/09), os guatemaltecos deverão ir às urnas para eleger um
novo presidente, vice-presidente, 338 prefeitos, 158 deputados e 20
representantes do Parlamento Centro-Americano.
Eleições
Com
relação às eleições que serão celebradas neste domingo (06/09), apesar do
pedido de alguns setores da sociedade guatemalteca para que elas sejam adiadas
por conta do clima político no país, a magistrada do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), María Eugenia Mijangos, afirmou que as eleições gerais serão
realizadas com normalidade.
“O tom
das manifestações tem sido pacífico, se continuar nesse mesmo sentido e se for
realizada a substituição do presidente da República como estabelece a
Constituição, eu não vejo porque não possam ser realizadas as eleições”,
afirmou Mijangos.
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