CELSO AMORIM: INVESTIDAS CONSERVADORAS AMEAÇAM AUTONOMIA DA AMÉRICA LATINA

Iniciativas de integração como o Mercosul e a Unasul fortalecem o continente contra ameaças conservadoras (Foto: RBA)
Para o ex-ministro de Relações Exteriores, governos populares no continente lidam com ataques ferozes às conquistas sociais e econômicas dos últimos anos.

Por Redação da RBA – Rede Brasil Atual, publicado em 27/08/2015

São Paulo – As conquistas sociais e econômicas dos últimos anos em países como Brasil, Venezuela, Bolívia, Uruguai e Argentina estão em risco? A questão foi direcionada ao ex-ministro de Relações Exteriores (governos Itamar e Lula) e ex-ministro da Defesa (governo Dilma) Celso Amorim, durante debate na última terça-feira (25), durante congresso realizado pela Fundacentro, pela Associação Latino-americana de Advogados Trabalhistas (Alal, na sigla em espanhol) e pelo Ministério Público do Trabalho.
Mediado pelo editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil, Silvio Caccia Bava, o debate também contou com a participação do economista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Ladislau Dowbor.

Amorim lembrou a resistência do Brasil à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que previa o fim das barreiras alfandegárias entre os 34 países que compõem o continente, e cuja implantação era liderada pelos Estados Unidos. “Um dos grandes desafios do início do governo Lula [2003] era a negociação da Alca, porque em vários aspectos o projeto era vantajoso para os Estados Unidos, mas prejudicava Brasil e outros países da América Latina”, afirmou.
Como exemplo, o diplomata citou as regras para a agricultura – os norte-americanos propunham a manutenção de suas tarifas de importação para laranja, açúcar a álcool, produtos nos quais o Brasil era competitivo –, para a indústria farmacêutica – com a manutenção de patentes que impossibilitariam o desenvolvimento da indústria de genéricos no país – e para a indústria nacional de um modo geral, em especial a naval que, segundo Amorim, não teria se desenvolvido com a Alca. Diante do impasse, o acordo não vingou e está paralisado desde a 4ª Cúpula das Américas de Mar del Plata (Argentina), em 2005.
“Há cerca de dois meses li um artigo assinado por dois economistas muito famosos, um brasileiro e um norte-americano. Após considerações sobre a retomada das relações entre Estados Unidos e Cuba, sobre a Cúpula das Américas, sobre ‘dificuldades econômicas’ pelas quais estaríamos passando e sobre as ‘insuficiências’ da política industrial, eles questionavam se não estaria na hora de ressuscitar a Alca. Então, se vejo ameaças às nossas conquistas e às do continente nos últimos anos? Sim, eu vejo”, afirmou Celso Amorim, sem informar os nomes dos economistas.
Mercosul

A ampliação do Mercosul foi outro exemplo de política externa do governo Lula destacado pelo ex-ministro. Hoje, o bloco é formado por cinco integrantes plenos – Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela (cuja entrada em 2005 contou com forte apoio do governo brasileiro) – e cinco países associados: Chile, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. “Muito mais que uma área de livre comércio, nosso empenho sempre foi pelo fortalecimento da autonomia, da paz, da democracia e da independência do continente. Por uma América Latina com capacidade de tomar decisões próprias e fazer suas próprias regulamentações”, disse.
Ainda assim, o comércio no Mercosul é volumoso. “As trocas comerciais intramercosul são muito maiores que as dos países da Aliança do Pacífico, mas essa última é muito mais agradável aos olhos dos que querem uma liberalização total dos mercados”, criticou.
O ex-ministro destacou também a criação da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), em 2008, como mais um passo no sentido de consolidar a autonomia dos países sul-americanos. “Num mundo complexo em que as relações comerciais passam mais por blocos que por países, é preciso fazer alianças fortes na América do Sul, mas sempre no sentido de fortalecimento das democracias. Mas essa política, como se sabe, desagrada fortes interesses”, enfatizou.

Com reportagem de Andréa Ponte Souza, do Sindicato dos Bancários de São Paulo

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