BRASIL: COMO SUPERAR A CRISE COM A ECONOMIA NAS MÃOS DUM EMPREGADO DO BRADESCO?

"A recessão está relacionada com uma política que supôs coisas que não existiram", diz Theotonio (Foto: Bernardino Ávila/Página/12)
Theotonio dos Santos, economista: “A explicação das medidas que o Brasil adota não se associa à teoria econômica e sim a ministros que respondem aos negócios do sistema financeiro. É uma crise gerada pelos próprios governantes e os interesses do poder econômico”.
Trecho de matéria traduzido do jornal argentino Página/12 (por Federico Kucher), edição impressa de hoje, dia 28 (o título e o destaque acima são deste blog)
–Como se explica a recessão no Brasil?
–Diante dum cenário de menor folga externa houve uma reação precipitada da política econômica. A resposta de subir a taxa de juros provocou uma situação grave. Levou a economia a um cenário de recessão e afetou muito fortemente o prestígio da presidenta Dilma Rousseff, que havia alcançado níveis de aprovação de mais de 70%. Estas decisões foram influenciadas em parte por erros grosseiros de previsão. No caso, se supôs que os Estados Unidos iam aumentar sua taxa de juros de referência (gerando maiores pressões pela saída de capitais). Mas isto se trata dum mito. Faz quatro anos que dizem que a vão subir, porém nunca o fizeram. Então se converte numa ficção que se criou para fomentar um clima de medo nos países emergentes. A própria imprensa brasileira promoveu a ideia duma grande recuperação dos Estados Unidos, que com sorte alcançará um crescimento de 2%. E, por outro lado, fez alarme sobre a queda da expansão da China, que passou de 8% para 7%. A verdade é que crescer 7% é muito. Apresentar isso como um problema grave parece ridículo. O que na realidade é grave é que se usaram estes argumentos para tomar a decisão de subir a taxa de juros brasileira. A recessão, portanto, está relacionada com uma política que supôs coisas que não existiram. As ameaças armaram o cenário para recorrer a medidas de austeridade que causaram inflação, queda da atividade e tensões para o PT.
–Qual foi o papel dos ministros nas medidas de ajuste?
–Dilma, numa situação de debilidade em matéria de apoios políticos, colocou à frente do Ministério da Economia um empregado do sistema financeiro, que defende os interesses desse setor (NT: refere-se obviamente a Joaquim Levy). O governo fez isto como se fosse o correto. Assim, a explicação das medidas que o Brasil adota não se associa à teoria econômica e sim a ministros que respondem aos negócios do sistema financeiro. É uma crise gerada pelos próprios governantes e os interesses do poder econômico. Conseguiram fazer acreditar que no Brasil existia uma dificuldade de excesso de demanda, que não se podia continuar aumentando o consumo dos setores populares e que teria que subir a taxa de juros. Mas como um país onde ainda existem milhões vivendo na pobreza vai ter excesso de demanda?
Tradução: Jadson Oliveira
Link para ler toda a matéria, em espanhol, no Página/12:

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