ESTADOS UNIDOS X CUBA: A AGENDA DA NORMALIZAÇÃO

Raúl Castro e Barack Obama (Foto: Página/12)
Restam sérios conflitos por resolver: Washington insiste com sua política de direitos humanos para a ilha e o governo de Raúl Castro exige o fim do bloqueio que dura quase 53 anos e meio. Mas há outras diferenças incontornáveis.
Por Gustavo Veiga – no jornal argentino Página/12, edição impressa de hoje, dia 2

O restabelecimento das relações diplomáticas e sua consequência, a abertura de embaixadas anunciada ontem, não significa a normalização do vínculo entre os Estados Unidos e Cuba. Isso é outra coisa. A crônica duma mudança estável e duradoura entre os dois países ainda está por ser escrita. Ficam diferentes e sérios conflitos por resolver: Washington insiste com sua política de direitos humanos para a ilha e o governo de Raúl Castro exige o fim do bloqueio que dura quase 53 anos e meio. Podem ser enumeradas também outras diferenças incontornáveis: Cuba pede a devolução duma parte de seu território, onde os EUA mantêm a base-presídio de Guantânamo, e o governo de Barack Obama pede compensações econômicas pela nacionalização de empresas norte-americanas nos primeiros anos da Revolução Cubana. A lista de reclamos mútuos é longa, ainda que não simétrica.
A relação entre os Estados Unidos e Cuba começou a dar sinais vitais em 17 de dezembro do ano passado. Desde então, se avançou em aspectos formais de sua instrumentação. O mais significativo foi o anúncio de que em 20 de julho próximo abrirão suas embaixadas nas duas capitais. “Levou tempo, mas este momento chegou”, disse Obama, apesar do Estado cubano ter recordado ao presidente que “não poderá haver relações normais entre Cuba e os Estados Unidos enquanto se mantenha o bloqueio econômico, comercial e financeiro.”
As consequências para o país caribenho têm seu correspondente numérico. Desde que o governo de John Kennedy aplicou o embargo em 3 de fevereiro de 1962, Cuba estima que o impacto sobre sua economia chegou aos 116 bilhões e 880 milhões de dólares em perdas. Reclama por isso uma indenização que supera em 16 vezes o que lhe exigem os Estados Unidos como reparação pelas expropriações de suas empresas. Ademais, a correlação numérica deve ser lida em termos políticos. A ONU vota ano após ano a condenação ao bloqueio. Em 2014, a lista chegou a 188 países que aprovaram a resolução contra apenas dois: Estados Unidos e Israel. Houve três abstenções.
Continua em espanhol, com traduções pontuais:
Todo empezó (Tudo começou) con la reforma agraria de la Revolución, que en mayo de 1959 afectó los latifundios de propietarios norteamericanos. Un in crescendo de medidas y contramedidas llevó a la crisis de los misiles en octubre de 1962. Ese fue el punto de inflexión. En 1960 el gobierno de Dwight Eisenhower ya había suspendido la cuota azucarera cubana que entraba al mercado de EE.UU. La Habana respondió con la nacionalización de compañías en varios sectores clave (chaves) de su economía: teléfonos, electricidad, refinerías de petróleo, bancos. De ahí que hoy reclame unos 7 mil millones (7 bilhões) de indemnización que cubren 5900 demandas contra Cuba.
Seis días antes del anuncio de Obama sobre la apertura de embajadas, el secretario de Estado de su gobierno, John Kerry, denunció ante el Congreso estadounidense a Cuba por violaciones a los derechos humanos. La lista se completó con acusaciones semejantes contra México, Venezuela y Ecuador. Admitió también en su informe anual sobre el mundo que en su país se violaron los derechos humanos en 2014: “No podemos más que ser humildes cuando hemos visto lo que hemos visto (quando vemos o que vemos) en el último año en términos de desacuerdos y disturbios raciales”, dijo. Ergo, los asesinatos de negros a manos de la policía.
Estados Unidos y Cuba también se reclaman la extradición de acusados por atentados terroristas. Luis Posada Carriles, nacionalizado estadounidense, es el más conocido. Lo responsabilizan de la voladura (da explosão) de un avión comercial cubano el 6 de octubre de 1976. En él, viajaba una nutrida delegación de deportistas de la isla.
La lista de demandas es demasiado extensa y algunas, en buena medida, no pudieron resolverse porque el gobierno de Obama está sujeto a una serie de prerrogativas cedidas al Congreso desde que rige (vigora) la Ley Helms-Burton del 12 de marzo de 1996. Se votó durante la presidencia de Bill Clinton. La política exterior hacia Cuba la conducen (a conduzem) los senadores y diputados. No el presidente, aunque tiene amplias facultades que podrían moderar los efectos que causa el bloqueo, pero desde diciembre del año pasado no las instrumentó.

Tradução (parcial): Jadson Oliveira

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