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"Lula é um formador de políticos. Quem colar nele, mesmo sem ambição, tem futuro brilhante", diz Lurian (Foto: Maira Coelho/Divulgação) |
"Se ele abraçou o Collor, com
certeza se daria muito bem com o Eduardo Cunha"
Por Leandro Resende – no site do jornal O Dia, do Rio de Janeiro, de
02/04/2015
Rio - Lurian Cordeiro Lula da Silva virou notícia pela primeira vez
em 1989, quando o então candidato à Presidência Fernando Collor exibiu
depoimento de sua mãe acusando seu pai, o ex-presidente Lula, de tê-la incitado
a fazer um aborto. O tempo passou, Collor e Lula viraram aliados, e Lurian veio
parar em Maricá, na Região dos Lagos. É na cidade que ela diz ter enfim
encontrado paz e onde pode iniciar a vida pública em 2016. Cotada para ser a
candidata à sucessão do prefeito Washington Quaquá (PT), Lurian avalia que a
campanha eleitoral de 2014 foi pior que a de 1989, diz que o “ódio” incomoda o
pai e prega a volta de Lula para disputar a Presidência em 2018.ula é um formador políticos.
Quem colar
O DIA: Qual sua avaliação do governo Lula?
LURIAN: Nunca antes na história desse país tanta gente se tornou igual.
O governo do meu pai resgatou a autoestima do povo brasileiro.
Como ele vê os escândalos de corrupção?
Ninguém gosta de nada negativo. Sinto que ele fica dolorido por esse
ódio. Isso mexe com ele e todos nós. É aquela coisa do pai que deu tudo, e é
visto como maldito. Não é querendo mérito, a ingratidão é diferente. E foi nos
governos do PT que mais se investigou corrupção. E são escândalos que começaram
antes.
Ele volta em 2018?
Se não tiver um nome construído, ele vai. Aguenta o tranco: a voz mudou,
o cabelo e a barba caíram, mas a essência não mudou. Como militante, acho
ótimo. O povo merece a conclusão desse ciclo de crescimento. Lula é um formador
de políticos. Quem colar nele, mesmo sem ambição, tem futuro.
Você já morou e trabalhou em Santa Catarina e São Paulo. O que Maricá
tem de diferente?
Paz e respeito. A cidade me respeita. Não é a filha do Lula que está
ali, é uma pessoa normal. Em Maricá, consigo sair sem maldade. Maricá me dá
liberdade.
Você tem vontade de ser prefeita de Maricá?
Fico lisonjeada porque gosto de Maricá, mas não se está discutindo
sucessão. Quaquá tem dois anos de mandato. Minha preocupação é que conclua o
mandato com excelência. Não é pretensão minha. O prefeito pode optar por quem
ele quiser.
Aceitaria ocupar um cargo público na cidade?
Não tenho pretensão. Se tiver que ser, eu e Quaquá vamos ter que
amadurecer a ideia. Gosto de trabalhar com executivo porque é possível ver o
resultado. No parlamento, você depende muito dos trâmites. Em São Bernardo,
teve até comício com meu pai e virei terceira suplente. Não foi ruim, pois vi
como é a realidade numa campanha. Não quero tomar o lugar de ninguém, mas se
Quaquá me chamar para ficar com a parte social, iria com todo prazer.
Lula seria ouvido antes de você decidir ser candidata a prefeita?
Se eu tiver que ser, ele não se oporia a nada, mas conversaria até por
uma questão de hierarquia política. Ainda falta muito tempo até lá. Estou mais
preocupada com a gente terminar o ano bem.
O que você e seu pai conversam sobre o momento político do país? Já não
são poucos os que pedem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
A gente tenta fugir da política e fala de coisas amenas. É muito
massacre o tempo inteiro, é raro conseguirmos um momento de paz. Vira e mexe
dizem que nós já pedimos o impeachment de outros presidentes, mas não
instauramos o ódio, não batemos em ninguém por vestir vermelho, azul.
Até
torcem pela morte dos outros. Estava indo para o trabalho quando ouvi no rádio
que meu pai tinha tido alta do câncer, em São Paulo. O taxista vira e fala:
deveria ter morrido, que morra a família inteira. Na hora, parei o táxi e
desci. Criou-se um clima de que tudo é culpa do PT, e não é.
Essa insatisfação contra o PT te tornaria um alvo numa campanha?
Em Maricá e Niterói, não, mas muita gente do Sul me ataca nas redes
sociais.
Pela abertura da ONG Rede 13, em Santa Catarina? Nas redes sociais, te
acusam de ter enriquecido com dinheiro público.
A Rede 13 foi criada para disseminar o programa ‘Fome Zero’ em Santa
Catarina. Trabalhei como voluntária, nunca teve dinheiro. Queria muito saber
onde está a conta e a senha desse dinheiro que dizem que tenho. O ônus da prova
não cabe mais a quem acusa, e ninguém prova nada.
Já vi propaganda de um terreno “ao lado da mansão da filha do Lula”.
Absurdo, nunca tive cartão corporativo. Paguei a vida toda por ser filha de
alguém.
Por que o estigma da corrupção colou tanto no PT, mais do que nos outros
partidos?
Há uma manipulação de massa para isso não ser desvinculado do PT. O
Mensalão é 'Mensalão do PT'. O 'Mensalão do PSDB' é chamado de 'Mensalão
Mineiro', por exemplo.
É só culpa da mídia? O PT não tem nenhuma responsabilidade sobre esses
escândalos?
Não. Se eu digo que tem, coloco toda a culpa da corrupção do mundo no
PT, e isso não é verdade. As pessoas ficam indignadas quando Dilma diz que não
sabia dos desvios, ou o Lula fala isso. Daí, as pessoas dizem: mas eles tinham
que saber! Veja aquele caso da menina que matou os pais: ninguém sabia melhor
dela do que seus pais, e foram apunhalados. Imagina se você vai saber o que se
passa dentro de um gabinete, com uma pessoa que as vezes você não tem a menor
relação. Não se pode culpar alguém pelo que uma outra pessoa fez.
Mas se a pessoa é o gestor, nesse caso o presidente da República, não
tem que saber?
Se foi omisso até o ultimo instante, e a pessoa será pega como todo
mundo diante da traição, então você não sabia. Parto do princípio que todos são
inocentes. Se não, se acharmos que todos irão trair, ninguém faz nada.
O 'Mensalão' jogou o governo Lula nas cordas e chegou a ameaçar sua
reeleição. Nada perto da proporção que o escândalo de corrupção na Petrobras
está fazendo com o governo Dilma, por exemplo. Por que?
O fato de Dilma ser mulher vulnerabiliza muito ela. A porrada vem muito
mais forte. Quando ela teve câncer, por exemplo, vinham perguntar se ela estava
de peruca. E tinham todo zelo com o José de Alencar. É um abuso, gostando ou
não dela. Mas Dilma já passou por coisas muito piores do que um milhão de
pessoas na rua, já passou por tortura. Ela sente o momento, mas se sente pior
ao ver que outros estão sentindo mais do que ela.
Como é a relação entre Dilma e Lula? Dizem que anda estremecida: seu pai
andou 'cutucando' a presidenta recentemente.
Eles têm relação de cumplicidade e carinho. Lula está deixando Dilma
governar. Acho ótimo, porque ela não é ele. Ela criou o perfil dela, agradando
ou não, é ela que está no poder. Mas amigo é isso: converge, às vezes diverge...
Que avaliação você faz da campanha de 2014?
Eu posso falar mais do que todo mundo e, sem dúvidas, de que essa
campanha foi pior do que a de 1989. Lá, você teve um candidato que atacou e
expôs na mídia uma intimidade do outro. E isso fez muita gente deixar de votar
nele. Agora, nessa eleição não teve nada de pessoal, é ódio puro, de graça. As
pessoas brigaram, não pode mais andar de vermelho...
Agora, como foi para você aquele dia em que o Collor exibiu um
depoimento da sua mãe dizendo que o Lula a tinha incentivado a abortar uma
criança que, na realidade, era você? O que passou pela sua cabeça?
A gente sabia que ia passar aquele depoimento, porque uma assessora do
Collor deixou a campanha dele quando soube dessa baixaria. Na hora em que minha
mãe entrou no ar, o Ricardo Kotscho (assessor de imprensa do Lula) veio me
buscar e me "escondeu na casa dele. E as pessoas não queriam saber se era
uma menina de 15 anos, queriam vir atrás de mim...
E depois disso? Como ficou sua relação com sua mãe?
Dois anos sem falar com ela. Eu não sei lidar com mentira nem com
baixaria. Era criada pela mãe da minha mãe, e ela, quando viu aquilo na TV,
disse "nossa, mas não foi nada disso que aconteceu...". O problema,
depois, é explicar para o mentiroso que aquilo ali tudo é mentira. Eu já
conhecia minha história.
E anos depois, o mundo dá voltas, seu pai como presidente abraçou o
Collor como senador.
Eu nunca falei isso pro meu pai, mas não teve cena mais prazerosa do que
ver ele (Collor) se referir ao Lula como "presidente". Não há prazer
maior de ver o Collor, o homem que saiu pela porta dos fundos, ter que chamar
de presidente o homem que foi aclamado pelo povo quando deu a faixa para Dilma.
Dizem que vingança é um prato que se come frio... Não é vingança, sabe? É
justiça.
Como seu pai se daria se tivesse, como Dilma tem, que enfrentar um
presidente da Câmara como o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ)?
Se ele abraçou o Collor, com certeza se daria muito bem com o Eduardo
Cunha. Eles podem falar o que quiserem do meu pai, mas na hora do olho no olho,
eles baixam a guarda. Podem não concordar, mas sentam para o diálogo...
Hoje, é correto dizer que o PT está em crise?
Não é isso. O partido precisa se reconfigurar e se defender de todo esse
ódio, tem que sair da zona de conforto. Bater no peito e dizer: sou petista
mesmo. Tem que ir para rua.
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