PAULO MOREIRA LEITE: NA LAVA JATO DO JUIZ MORO, SUSPEITOS “SÓ PODEM CONFESSAR, DELATAR OU APODRECER”

(Foto: blog de Paulo Moreira Leite)

QUANDO OS VÍDEOS MENTEM

Imagem errada da cunhada de Vaccari simboliza uma investigação feita sem isenção, onde os suspeitos só podem confessar, delatar ou apodrecer.

Por Paulo Moreira Leite, no seu blog, de 24/04/2015 (o título principal é do blog Viomundo)
É certo que o juiz Sérgio Moro, que autorizou a prisão de Marice Correa Lima, a cunhada do tesoureiro do PT João Vaccari Neto, ficou devendo um pedido formal de desculpas à prisioneira. Marice ficou presa por seis dias, em Curitiba, sem que houvesse um fiapo de prova contra ela.
Pode-se perguntar, será que o Conselho Nacional de Justiça, que tem a missão de zelar pela atuação dos juízes, irá examinar o comportamento de Moro?
Também pode-se perguntar por alguma providência junto ao Ministério Público, que fez o pedido de prisão e tentou até manter Marice na cadeia num regime mais duro.
Será que o Conselho Nacional do MP irá debater o assunto? Poderá extrair algum ensinamento desse episódio?
Assistiu-se, neste caso, a uma demonstração de desrespeito pelos direitos humanos mais elementares, em especial pela regra que ensina que toda pessoa é inocente até que se prove o contrário.
Depois de todas essas ressalvas, deve-se reconhecer que vivemos uma situação tão absurda, tão estranha, que Marice pode ser considerada uma pessoa de sorte.
Ela ficou presa por seis dias, na sede da Polícia Federal, em Curitiba, como suspeita de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás, com base numa prova grotesca: imagens de um vídeo de uma máquina bancária na qual faria depósitos clandestinos para sua irmã, Giselda, casada com Vaccari.
O escabroso encontra-se na imagem, sabemos agora: a pessoa que é retratada, fazendo depósitos num caixa eletrônico, simplesmente não é Marice.
É a própria Giselda, a mulher de Vaccari — e essa descoberta, clamorosa, absurda, mudou a história de Marice. Também coloca dúvidas sobre a prisão do próprio Vaccari, como você poderá ler mais adiante.
Sem a imagem errada, ela ficaria presa por mais quatro dias, como já fora resolvido por Sérgio Moro, prorrogando seu regime de prisão temporária. Quem sabe acabaria presa por meses, como acontece com a maioria dos primeiros detidos da Lava Jato, que desde novembro foram entregues à carceragem, onde enfrentam a alternativa de confessar e deletar, ou apodrecer.
Longe de uma atuação equilibrada, que ouve as partes, pondera e analisa os pontos da defesa e da acusação com igual boa vontade, pondera, o que prevalece aqui é a vontade de punir e punir.
Marise só conseguiu livrar-se da prisão porque as cenas gravadas pela máquina eletrônica constituem um flagrante técnico, insubstituível, único e vexaminoso.

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