RAMONET: “GOVERNOS PROGRESSISTAS SOFREM HOJE UMA OFENSIVA MICROMIDIÁTICA”

Jornalista e acadêmico Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol (Foto: Marco Salgado/El Telégrafo)
“As redes sociais são atualmente o principal ator na mobilização social”.

“A maioria desses governos (progressistas da América Latina) sofre uma ofensiva que já não é megamidiática, mas sim micromidiática”.

“Obama tem 47 milhões de seguidores no Twitter, tem maior alcance quando comunica por Twitter do que pela televisão, porque não há nenhuma televisão nos EUA que tenha 47 milhões de telespectadores”.

No caso da Venezuela, “há uma conspiração midiática internacional”.

Esta é a segunda parte da rica entrevista do jornalista e professor Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol, ativista e estudioso do papel político exercido pelos meios de comunicação. Foi matéria de capa do El Telégrafo, edição impressa de 23/03/2015, com a manchete: ‘Ramonet: Meios de comunicação substituem as forças conservadoras’. Este blog Evidentemente publicou a primeira parte em 24/03/2015, com o título: ‘Ramonet: PT/Lula/Dilma não cuidou de criar um sistema público de comunicação’.

Por Orlando Pérez e María Elena Vaca, do jornal equatoriano El Telégrafo (empresa pública), edição de 23/03/2015 (o título e os destaques acima são deste blog)

Continuação: no final da primeira parte, o entrevistado dizia:

Muitos dirigentes fazem uma análise dos meios de comunicação, que é o que se podia fazer há 10 ou 15 anos, mas hoje a reflexão deve integrar as redes sociais, que são o principal ator na mobilização social. De fato, se você quer, a maioria desses governos sofre uma ofensiva que já não é megamidiática, mas sim micromidiática.

É aconselhável fazer o enfrentamento com as pessoas nas redes como o faz o presidente Correa? Isso é válido no tema da disputa política?

Não sei se um presidente deve entrar aí. Uma coisa é fazer uma consideração geral e outra é por em marcha igual a um governo ou uma empresa, que têm um departamento de comunicação, e hoje em dia os governos e empresas inteligentes têm um departamento de resposta rápida mediante o uso do Twitter, Facebook, blogs, páginas bem elaboradas na web. Esse é o bom nível de resposta. Exceto que haja algo mais importante. Eu não penso num presidente estabelecer um diálogo crítico com um tuiteiro, ou algo assim.

Dizia isto porque, em alguma medida, a derrota que Rafael Correa infligiu a esse sistema de comunicação tradicional se transferiu para as redes, nas quais agora os cidadãos são os que confrontam essa tensão com o presidente...

Da mesma forma que frente aos megameios, os meios de comunicação públicos desenvolveram uma política de financiamento e desenvolvimento de megameios públicos, de igual maneira há que desenvolver uma política no campo da comunicação com respeito aos micromeios. Para isso tem que haver uma reflexão de como estão funcionando.
Até onde os atores políticos progressistas, de esquerda, devem modificar seus comportamentos políticos em função de gerar uma comunicação política para um mundo mais polarizado nesse território?

A maioria dos governantes de hoje se preocupou em desenvolver sua comunicação, mediante o Twitter, e informam pessoalmente, como o presidente Maduro, que tem um seguimento contínuo do Twitter. Obama tem 47 milhões de seguidores no Twitter, tem maior alcance quando comunica por Twitter do que pela televisão, porque não há nenhuma televisão nos EUA que tenha 47 milhões de telespectadores. Hoje faz parte da comunicação elementar de um dirigente.

E apesar disso, como ocorre na Venezuela, Maduro não consegue romper o desequilíbrio sobre a realidade desse país...

Porque ali, sim, há uma conspiração midiática internacional e contra a Venezuela sempre houve uma aliança de contrários, porque a característica da Venezuela é que acumulou os adversários social-democratas e os adversários do conservadorismo tradicional. Em particular há um ódio social-democrata contra Chávez, porque liderou a rebelião de 1992 contra um presidente social-democrata com muita influência na Internacional Socialista, Carlos Andrés Pérez. Isso criou muita confusão no seio da esquerda durante muito tempo. E então, enquanto houve esta confusão, os meios de comunicação construíram uma imagem primeiro de Chávez como ditador, autoritário, quando era o contrário, porém essa imagem ficou e hoje em dia essa ofensiva continua com novas formas, porque aos meios de comunicação internacionais se somou a operação do tipo de ‘revolução de cores’ com as redes sociais que também difundem esta mesma mensagem. (Continua)


Tradução: Jadson Oliveira

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