LUIZ CARLOS AZENHA: DILMA "MISSING IN ACTION", ENQUANTO LULA IGNORA AUTOCRÍTICA

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(Ilustração reproduzida do Viomundo)

Como atrair jovens se o PT usa a militância em véspera de eleição e depois descarta suas opiniões, como acaba de acontecer?

Por Luiz Carlos Azenha - no blog Viomundo - o que você não vê na mídia, de 08/02/2015

Dilma atinge a mais baixa avaliação desde Fernando Henrique Cardoso em dezembro de 1999, noticia a Folha. Obviamente o jornal não lembrou que, então, a inflação estava perto dos 8% e a taxa de desemprego perto dos 9% — atingindo mais de 25% para jovens de 18 a 20 anos de idade em áreas urbanas.

O repórter do jornal diz que vivemos “a mais rápida e profunda deterioração política desde o governo Collor”. Parece wishful thinking do Otavinho, quem sabe sonhando com um novo impeachment.

Assim: a Folha noticia incessantemente que o Brasil vai acabar, propõe o arrocho que empurra o país no rumo de uma crise de emprego, manda medir os impactos do seu noticiário — e da mídia corporativa em geral — sobre a opinião pública e usa as expectativas que ajudou a produzir para dizer que a crise vai se aprofundar (noticia, por exemplo, que 80% acreditam na alta da inflação).

O aumento de 20 pontos no índice de “ruim/péssimo” de Dilma, em nossa opinião, não pode ser creditado apenas à Operação Lava Jato. Dilma fez justamente a pirueta pregada pelos editorialistas do Otavinho: elegeu-se com uma plataforma progressista, mas abraçou de cara a austeridade, para não falar no Kassab e na Kátia Abreu.

Para se preservar, a presidente optou por compor um ministério que a ajude a se defender num Congresso que em breve será desmoralizado pelos desdobramentos da Lava Jato.

Do ponto-de-vista da comunicação, a presidente está missing in action. Ou, como também diriam os gringos, deu AWOL, ausente sem ter tirado folga. É um verdadeiro desastre ferroviário. No evento dos 35 anos do PT, que acompanhei pela internet, quando Dilma começou a falar perdi completamente o interesse. Era a gerentona, aparentemente alheia ao entorno.

Por conta da Operação Lava Jato, o Partido dos Trabalhadores enfrenta sua maior crise. Crise política se enfrenta fazendo política, com debate e informação. Dilma não fez uma coisa, nem outra. Parece acreditar que, mais uma vez, basta gerenciar os números, o que os dados da pesquisa da Folha demonstram que não basta, já que a taxa de desemprego é inferior a 5%.

O ex-presidente Lula, por sua vez, fez um discurso coerente e apontando caminhos. No entanto, não fez qualquer autocrítica.

Falou das instâncias burocratizadas do PT como se não tivesse responsabilidade na condução do partido. Reclamou que militantes pedem emprego e não carregam mais as faixas do partido de graça. 
Será que ele espera que os militantes trabalhem de graça enquanto assistem à ascensão dos beneficiados por cargos no governo e na própria máquina partidária? De que adianta militar se o dedaço de Lula é hoje a principal instância partidária do PT? Como atrair jovens se o PT usa a militância em véspera de eleição e depois descarta suas opiniões, como acaba de acontecer? São perguntas pertinentes, que ficaram sem resposta no aniversário de 35 anos do PT.

O mais doloroso foi ouvir Lula justificando todas as medidas de Dilma porque “tem de ser”, como se não fossem passíveis de discussão, conferindo à presidente o dom da infalibilidade. Numa sociedade em que os jovens querem cada vez mais participar das decisões sobre o mundo que os cerca, certamente não é o jeito de atraí-los para a vida partidária.

Numa recente viagem a Brasília, testemunhei mais uma vez uma cena extraordinária. Fui ao lado de uma família de agricultores do interior de Sergipe, de um vilarejo próximo a Lagarto, que andava pela primeira vez de avião. A mãe, felicíssima, me contou que a filha de 16 anos de idade, muito estudiosa, deverá ser a primeira da família a ingressar na universidade. Se tudo der certo, vai estudar engenharia em Aracaju. Fiquei matutando sobre a transformação pela qual o Brasil passou nos últimos 12 anos, sem dúvida a responsável pelos quatro mandatos seguidos obtidos pelo PT. No mesmo vôo, no entanto, um jovem de classe média carregava a revista Veja com os U$ 200 milhões que supostamente abasteceram o caixa do PT no esquema de corrupção na Petrobras.

Duas versões completamente distintas do Brasil, em duas fileiras de avião.

O jovem da Veja dizia que o PT vai virar fumaça assim que surgir uma prova concreta de que embolsou o dinheiro. A versão dele é a dominante na opinião pública.

Neste quadro, é incompreensível o “sumiço” da presidente.

A única explicação razoável é que ela já sabe que o aparecimento daquela prova é apenas uma questão de tempo.

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