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| Tabaré Vázquez (Foto: Carta Maior) |
No embate programático entre os dois candidatos vários temas polêmicos, com destaque para a discussão sobre a regulação da mídia.
Enquanto isto, o Brasil segue na “vanguarda do atraso” no debate sobre a regulação democrática da mídia.
Por Altamiro Borges, no portal Carta Maior, de 20/11/2014O segundo turno das eleições presidenciais no Uruguai, em 30 de novembro, agita a população do país vizinho. Todas as pesquisas apontam para a vitória de Tabaré Vázquez, candidato da aliança governista Frente Ampla, do atual presidente Pepe Mujica. Concorrendo pelas forças de direita, o jovem oligarca Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional. No embate programático entre os dois candidatos vários temas polêmicos, com destaque para a discussão sobre a regulação da mídia. Logo
após a folgada vantagem no primeiro turno, Tabaré Vázquez prometeu
acelerar a sanção do projeto de lei que tramita no parlamento sobre o
tema. Já o direitista, apoiado pelos barões da mídia, garante que
arquivará o projeto.Segundo relato da jornalista Daniella Cambaúva, da Rede Latino
América, “em sua primeira fala pública da segunda fase da campanha,
Vázquez anunciou que, se vitorioso, a lei de mídia será ‘improrrogável’ e
se comprometeu a regulamentá-la. Presidente do Uruguai entre 2005 e
2010, ele é conhecido por representar a ala mais conservadora na Frente
Ampla. Esta foi a primeira vez em que ele se comprometeu a implementar e
fazer cumprir a lei de mídia, despertando críticas da oposição. Lacalle
Pou, 41 anos, é crítico à lei. Ele alega que nela existem
‘inconstitucionalidades’, e que para ter uma legislação ‘típica de
regime autoritário’ é melhor não ter nenhuma”.No Uruguai, como
no restante do continente, a mídia é controlada por poucas famílias.
Monopolizados, estes meios tiveram papel destacado na implantação da
ditadura militar, na difusão do receituário neoliberal e na campanha
sistemática de oposição aos governos progressistas. Tabaré Vázquez e
Pepe Mujica foram vítimas destas oligarquias midiáticas. Diante do
quadro de uma mídia monopolizada e manipuladora, em 2010 teve início o
debate na sociedade sobre a regulação deste setor com a formação de um
Comitê Técnico Consultivo convocado pela Direção Nacional de
Telecomunicações, vinculada ao Ministério da Indústria e responsável por
formular, coordenar e supervisionar as políticas de telecomunicações.“A ‘Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual’ (LSCA) foi apresentada pelo Poder Executivo em maio de 2013 e foi aprovada pela Câmara dos Representantes (99 deputados) em dezembro de 2013. Para entrar
em vigor, ela aguarda a aprovação do Senado (30 senadores) e voltará
ainda à Câmara para, por fim, receber a sanção definitiva. A pressão por
parte da Frente Ampla e dos setores favoráveis é para que a lei seja
aprovada o quanto antes, ainda em 2014”, descreve Daniella Cambaúva. Sua
sanção mudará por completo o cenário da mídia no Uruguai. Atualmente,
três grupos (Romay, Feo-Fontaina e Cardoso-Sheck) controlam 95% do
mercado de televisão aberta no país.Entre outras mudanças, a nova lei desmembra os monopólios e garante condições mais justas de acesso ao espectro, inclusive para sindicatos e associações comunitárias, que teriam possibilidade de criar canais de rádio e tevê. “Se a lei for aprovada como está, uma pessoa física ou jurídica não poderá ter mais de três autorizações para prestar serviços de radiodifusão aberta de rádio e televisão, nem mais de dois canais para prestar serviços de rádio na mesma frequência (AM ou FM) em todo o território. A única iniciativa antecedente semelhante no Uruguai aconteceu em 2007, quando foi aprovada uma norma obrigando o Estado a promover e garantir a existência de canais e rádio e de televisão comunitários”.
A LSCA também prevê a criação de um Conselho de Comunicação Audiovisual, composto por cinco integrantes: um indicado pela Presidência da República e quatro escolhidos pela Assembleia Geral Legislativa. Eles teriam mandatos de seis anos, renováveis por mais três. A Coalizão por uma Comunicação Democrática, uma frente que reúne várias entidades e personalidades que lutam pela democratização da mídia, defende
que pelo menos um dos integrantes do Conselho seja indicado pela
sociedade civil. Há também debates sobre a regulação da mídia impressa e
sobre a liberdade na internet, já que a LSCA trata apenas das
concessões públicas de rádio e televisão.Estas e outras mudanças previstas na lei explicam porque os barões da mídia estão tão empenhados na campanha do direitista Lacalle Pou. Para a associação das empresas de radiodifusão (Andebu), “apenas os regimes autoritários possuem lei de mídia”. A máfia midiática tenta manipular a sociedade, escondendo que até nos EUA e na Europa
há regulação do setor e conselhos de comunicação social. O terrorismo
midiático, porém, parece que não abalou os eleitores uruguaios, que devem
confirmar a vitória de Tabaré Vázquez daqui a dois domingos. Enquanto
isto, o Brasil segue na “vanguarda do atraso” no debate sobre a
regulação democrática da mídia. Lamentável!
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